Review | The Mooseman
The Mooseman é um jogo de plataforma 2D desenvolvido pelo estúdio russo Morteshka e publicado pela empresa Sometimes You. Lançado em Fevereiro de 2017 no PC, o jogo finalmente vai receber uma versão para os consoles Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch. A versão para os consoles será lançada apenas no dia 18 de Julho, mas, recebemos o jogo antes para a confecção desta análise.
A História
The Mooseman é diferente de tudo que já joguei. Essa surpresa se dá por conta da temática do jogo, as lendas dos povos fino-úgricos, conjunto formado pelos finlandeses, húngaros e estonianos. Segundo as lendas destes povos, o deus Yen criou o mundo há muito tempo atrás com a casca de um ovo. Nas profundezas do oceano, foi originado o Mundo Inferior, o lar dos mortos. O Mundo do Meio foi criado para os humanos e animais habitarem, já o Mundo Superior foi projetado para ser a morada dos deuses ancestrais. Para ser mais específico, o jogo aborda os contos da tribo Komi, exibindo seus costumes e divindades.
Uma legião de espíritos caminham entre os mundos, guardando seus segredos obscuros. Esse fato inclusive dita a principal mecânica do jogo. Assumindo o papel de um xamã/sacerdote, o progresso do jogo está intrinsecamente ligado a mudança de dimensão. Ao apertar o botão X, o personagem faz a travessia do mundo dos vivos para o mundo etéreo, permitindo que ele caminhe por caminhos que antes não podiam ser vistos. Todos os puzzles do jogo foram construídos em cima deste sistema, que funciona de forma sensacional diga-se de passagem. Apesar de ser um jogo aparentemente simples, alguns puzzles são bem complexos, demandando observação e raciocínio por parte do jogador.
Uma Viagem no Tempo
Mais do que um jogo eletrônico, The Mooseman pode ser facilmente considerado uma obra de arte. Para obter uma maior precisão histórica, os desenvolvedores do título leram diversas pesquisas científicas sobre a tribo e os seus costumes, além disso, historiadores e cientistas também foram consultados, tudo para manter a originalidade das lendas da tribo. Como se já não bastasse, o jogo foi completamente traduzido para o idioma da tribo Komi e alguns trechos da história são narrados por um nativo.
Funcionando como uma espécie de livro interativo, o game traz à tona mitos e deuses praticamente desconhecidos pelo mundo, abordando a visão desse povo em relação a temas como vida/morte e a criação do mundo. Curiosamente, o ciclo entre vida e morte está conectado ao nascimento e à morte do Sol, assim como a mudança das estações. Em um pouco mais de três horas, aprendemos isso, a teoria do povo sobre a origem do mundo e conhecemos figuras como Shondi, um alce que personifica o Sol e Yoma, uma bruxa que inferniza a humanidade. Apesar de ser uma mitologia totalmente nova e com diversas particularidades, é possível notar semelhanças com a mitologia grega. Se para os gregos, o Rio Stige é um “portão” do Submundo, na mitologia Komi, o rio Sir-Yu cumpre essa função.
A exploração em The Mooseman é incentivada pela presença de colecionáveis que contam um pouco mais acerca do mundo do jogo e detalham as lendas exibidas na jogatina. Ao todo são 52 colecionáveis que foram desenhados tendo como base obras primais reais que se encontram no Museu Arqueológico de Perm. Vale mencionar que para conquistar o troféu de Platina, é necessário coletar todos os colecionáveis, portanto, tenha cautela e paciência na hora de procurar pelos objetos, boa parte deles estão bem escondidos através de paredes ou debaixo de plataformas.
Minimalista e Sublime
The Mooseman está longe de ser um AAA, mas graças a uma direção de arte impecável, os gráficos minimalistas do jogo são de deixar qualquer um boquiabertos. Utilizando uma paleta de cores com tons neutros, a dualidade é um elemento bastante presente no título. A todo momento existe uma espécie de confronto entre luz/escuridão, quente/frio, sol/noite. A experiência é alavancada pela indescritível trilha sonora composta pelo estúdio em parceria com a Escola de Artes e Cultura de Perm Krai. Como não tenho palavras para descrever o brilhantismo da trilha sonora da obra, segue abaixo o link para ouvir as canções do jogo:
O minimalismo também se faz presente na jogabilidade do título. É possível mover o xamã para frente e para trás, ativar a máscara para mudar o Reino/Dimensão e no meio da história adquirimos uma habilidade para o cajado do xamã, onde uma luz branca é ativada, funcionando como um escudo. Apesar da simplicidade dos controles, alguns puzzles são bem complexos e exigem uma atenção total por parte do jogador.
Conclusão
Considerar The Mooseman como um simples jogo é uma grande injustiça. Colocando em evidência uma mitologia pouco conhecida pelas pessoas, a obra perpassa o campo da diversão, tornando-se um objeto antropológico que educa e emociona. O estúdio russo Morteshka fez um trabalho brilhante, provando que jogos eletrônicos podem ser muito mais do que atirar e destruir coisas.
Esta review foi feita com uma cópia do game para Playstation 4 cedida pelo representante da Sometimes You.