Crítica | Uma Quase Dupla

Puxe pela sua memória, bons filmes de comédia nacionais. Provavelmente você lembrará de Os Normais, Se eu Fosse Você, Lisbela e o Prisioneiro, O Auto da Compadecida… Cada um com uma história bem peculiar e diferentes influências. Todos marcantes, daqueles que arrancam risadas de até mesmo que não curte tanto filmes nacionais, mas aprecia uma boa comédia.

Agora, você que não é preconceituoso com o cinema nacional, tente lembrar qual foi a última comédia que, além de ser realmente boa, bem escrita e/ou com boas performances, e que certamente se tornará clássico (como os citados acima) ou que merecerão (ou mereceram) uma sequência? Deve fazer bastante tempo…

Por último, tente lembrar um filme nacional com a temática policial, um cop movie nos moldes americanos, como por exemplo Máquina Mortífera ou Bad Boys, mas (bem) adaptado para a realidade brasileira? Certamente existem alguns, mas o primeiro (para muitos o único) que vem à memória é Tropa de Elite. Acontece, que nenhum dos outros que você possa se lembrar se parece bem com as duas produções hollywoodianas citadas, pois não são aquela clássica dupla de tiras. E mais: são todos dramas.

Faltava ao cinema nacional um filme policial, com parceiros inusitados e muito diferentes em seus estilos, sendo obrigados a trabalhar juntos, mas com o tom de comédia brasileira (bem utilizado) e sem ser, necessariamente uma cópia, ser convincente de que poderia acontecer em uma cidadezinha no Brasil. Não falta mais.

Uma Quase Dupla é esse filme. Uma comédia rasgada, escrachada, mas não totalmente estúpida. Tem seus momentos pastelão, mas também tem momentos mais elaborados. Tem potencial para uma continuação nos mesmos moldes, mas mais elaborada. Talvez até para uma pequena franquia, desde que mantenha a pegada e se recicle, não apenas se repita.

A história não é novidade: um assassinato em uma pequena cidade de interior que desafia a polícia local, obrigando-os a recorrer a um profissional da capital. A inusitada dupla em questão, é formada por Cláudio (Cauã Reymond) e Keyla (Tatá Werneck). Cláudio é um subdelegado na pequena cidade de Joinlândia. É ingênio, gente boa, filhinho da mamãe e gosta de fazer tudo de acordo com o manual. Keyla é obstinada, tem um mal humor ácido, usa de métodos não convencionais e, por ser uma investigadora no Rio de Janeiro, está acostumada com casos difíceis e crimes elaborados e violentos.

Keyla se acha, acredita que não apenas a polícia local e seus métodos, mas também todos na cidade, não estão à sua altura (com permissão do trocadilho, já que estamos falando de Tatá Werneck). Já Cláudio é relutante em aceitar sua parceira que tenta o tempo todo diminuí-lo, ao mesmo tempo que quer mostrar serviço para se tornar o grande policial que seu pai foi, como sua mãe faz questão de lembrar. Tudo isso, comandados por um chefe de polícia que não gosta de nenhum dos dois agentes (e na verdade não parece gostar de ninguém).

A história se desenrola bem, com uma pegada de mistério. O serial killer que ataca na cidade desafia os investigadores e usa elementos bem conhecidos para quem acompanha filmes, porém, tudo é muito exagerado, afinal, estamos falando de uma comédia.

E é isso que definiria o filme: uma comédia de absurdos e exageros com elementos de um filme policial. Há até aquela sensação de querer descobrir quem é o assassino, tentar desvendar o mistério.

Sobre as atuações, Tatá Werneck é uma questão à parte. Pra quem acompanha a humorista desde seu surgimento na MTV e sabe do que ela é capaz, não há nada de muita novidade. E isso é bom, pois ela é muito boa fazendo o que faz, mesmo que não haja nada novo. Contudo, aqueles que só a conhecem de suas novelas e talvez suas participações de filmes, podem se surpreender com sua versatilidade, mesclando seu estilo escrachado de humor com momentos mais sérios e até dramáticos. Apesar de que ela vem mostrando bem essa faceta na atual novela Deus Salve o Rei, até sendo mais dramática. De toda forma, é bom vê-la se consolidando e desenvolvendo como atriz.

Cauã Reymond, tem uma atuação regular. Alguns diriam fraca, mas o personagem é raso, dessa forma, sua performance está a altura do exigido. Mesmo assim, é um pouco decepcionante, já que faz tempo que o ator vem emplacando personagens dramáticos, seja no cinema ou na TV, e dessa forma, seria bom poder vê-lo mantendo a boa performance em um papel cômico.

A melhor performance, no entanto, é de Daniel Furlan. O ator (que também é diretor, roteirista, músico…) que ainda é desconhecido do grande público apesar do grande sucesso que faz na internet com o Choque de Cultura, está muito convincente como um playboy de cidade pequena. Que essa atuação lhe renda personagens maiores ou que lhe abra mais portas para que o grande público tenha a chance de conhecer melhor seu(s) talento(s). Alejandro Claveaux e Ary França também merecem destaque por suas atuações como o legista Augusto e o delegado Moacir, respectivamente.

Em resumo, se você procura uma boa comédia, daquelas que arrancam gostosas gargalhadas e até alguns momentos de vergonha alheia, mas que não seja somente pastelão, que também tenha uma história que prende e te faça querer desvendar o mistério, Uma Quase Dupla é uma boa pedida. Quem já assistiu e gostou do excelente Chumbo Grosso (com o também excelente e talentoso Simon Pegg) ou acompanha Brooklyn Nine-Nine, vai certamente ver bastante dessas duas obras nessa produção nacional.

Uma Quase Dupla estreia em 12 de Julho de 2018.

Thiago Amaral

Geek inveterado e consumidor assíduo e voraz de cultura pop. Enquanto não está lutando com a Aliança Rebelde, dá aulas de Inglês. Curte Marvel & DC. Retro Gamer. Conhecido no underground como Pai da Alice.

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