Resenha | Perdida – Carina Rissi

Romance dos pés à cabeça, Perdida é o primeiro livro da série escrita pela brasileira Carina Rissi. Confesso que não sou fã de romance, assim como meu pé sempre esteve dentro da literatura americana. Por isso, tentando mudar, busquei um livro que se encaixasse nos novos requisitos, e me veio este.

Carina Rissi

Quem já leu ou assistiu a série Outlander (Diana Gabaldon) ficará familiarizado com parte da premissa. Sofia é uma jovem paulista viciada em tecnologia. Ao sair com a melhor amiga, Nina, para um bar, acaba bebendo além da conta e deixa o celular cair dentro da privada. Precisando de um novo, compra o aparelho tão bem falado por uma senhora estranha. O celular, na entanto, oferece a Sofia uma viagem para o passado, exatamente em 1830, onde conhece Ian Clarke.

O livro tem o tamanho adequado para a história contada. A escrita de Rissi possui um misto de rapidez e profundidade. Objetiva, seus detalhes são suficientes para a criação da imagem na mente do leitor, assim como necessária para nos ambientar na cultura da época. Dois séculos atrás, alguns termos e objetos precisam de um pouco mais de atenção ao serem retratados, e esse cuidado da autora é um ponto positivo.

Os três primeiros livros da série

Sofia, em resumo, é excepcional. É humanamente incrível. Com seus erros e acertos, conquista o leitor com sua forma divertida de agir e falar. Contado em primeira pessoa, Rissi presenteia uma grande amiga capaz de nos fazer rir em momentos inesperados. Um simples comentário dela dispara longas risadas.

Ian Clarke é a primeira pessoa que Sofia encontra no século XIX, e, ainda atordoada com os acontecimentos, estranha a nova realidade, desde as roupas formais, o cavalo, a falta de prédios e a vastidão verde da paisagem. Ian é um cavalheiro sem defeitos, educado, carinhoso, preocupado. Fica difícil, para Sofia e leitores, não caírem na paixão.

Todo o contato com o século XXI vem do aparelho celular que Sofia levou consigo (junto com as roupas curtas e o par vermelho do All Star, responsáveis por alguns alvoroços) ao tropeçar na pedra e cair no passado. De vez em quando, surgem mensagens na tela do aparelho, com enigmas dos quais ela se esforça para entender e buscar uma saída de volta para casa. No entanto, em meio a confusões, erros, adaptações, mentiras e cenas que nos faz sentir vergonha alheia, Sofia acaba se afeiçoando pela família Clarke e seus amigos, como também se descobre completamente apaixonada pelo homem que a ajudou.

Levando em conta o novo século (que na verdade é antigo), a forma como as pessoas tratavam umas as outras e a falta de tecnologia que permitia o contato mais direto entre os indivíduos, o romance cresce naturalmente, alimentado por motivos plausíveis, tornando-se bastante real. Sentimos falta de um fato da época: a escravidão. No entanto, a autora afirma que, assim como viagens no tempo nos é irreal agora, ela também preferiu que essa parte da história não existisse, julgando o fato triste e doloroso, efeitos que não deseja ao leitor.

O tom de comédia empregado faz qualquer receio pelo estilo valer a pena. Todos os personagens têm uma personalidade própria e é facilmente detectado dentro do contexto. As emoções passeiam entre diversão, ansiedade, raiva, frustração e novamente para a diversão. Carina teve (e tem) criatividade o bastante para continuar escrevendo sobre a história de Sofia, porém, o primeiro livro tem um final digno, tornando a leitura da continuação opcional.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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