Crítica | Casa Gucci

Quando fui assistir O Último Duelo, fui com baixas expectativas. Afinal, o que realmente havia me interessado no filme, era a possibilidade ver boas atuações, já que a temática não havia me ganhado apenas pela trailer. Me enganei. Adorei o filme e as atuações foram além do que eu esperava.

Já com Casa Gucci, foi o contrário. O trailer deixou nas alturas as expectativas para a história que parecia mais intrigante e ainda mais altas para o elenco, completamente estelar. O filme não é ruim, e as atuações estão longe de fracas. Mas acabei um pouco decepcionado. Achei que fosse sair da sessão impactado e não foi o que aconteceu.

Com um elenco de estrelas onde apenas Adam Driver (ainda) não ganhou um Oscar, e sob a direção do também premiado e aclamado Ridley Scott (coincidentemente o mesmo de O Último Duelo), eu esperava que as atuações fossem todas dignas de indicação às premiações desse ano, e provavelmente como favoritos. No fim das contas, talvez Jared Leto seja um forte candidato. No máximo. Os outros, caso sejam indicados, não mostraram todo seu potencial e assim, não fizeram por merecer.

Talvez a mais decepcionante seja Lady Gaga, a protagonista. Ao assistir o trailer, me incomodou um pouco o forçado (e provavelmente estereotipado) sotaque italiano. Porém, durante o filme, esse incômodo dura no máximo até uns 20 minutos. Depois disso, ou acostumamos com ele, ou pelo menos incomoda menos. E nem vou entrar no mérito da questão de Hollywood fazer todas as pessoas do mundo (e até de outros), em qualquer história, falar inglês. No máximo citarei uma outra imprecisão cultural: quando uma personagem diz que gostaria de estar em Ipanema e começa a ‘dançar salsa’ (?).

Certamente, ajuda muito assistir ao filme sem saber nada sobre a história, ou o mínimo possível, já que é uma história real e, portanto, é difícil não saber absolutamente nada. Eu mesmo sabia apenas o grosso, mas pouco o suficiente para ainda ser surpreendido.

Acontece que essas surpresas são um tanto corridas. O filme passa muito tempo construindo os personagens principais, e nesse ponto até se sai bem. Quando vem a resolução, o clímax, ele dura muito pouco e não causa tanto impacto. Entendo que seja uma escolha do roteiro e da direção, mas a mim, não cativou muito essa forma de contar a história.

Como destaque positivo, além da já citada ótima atuação de Jared Leto (Paolo Gucci), que parece começar um pouco exagerado mas acha o tom no caminho (certamente porque o personagem era assim mesmo), vale citar a caracterização de todos, mas em especial a do próprio Jared que está praticamente irreconhecível. Não chega a ser um espanto, pois já nos acostumamos a ver o ator/cantor sendo um camaleão em cena.

Lady Gaga (Patrizia Reggiani) está ótima, não se engane. Porém, em algum ponto ela se perde ou não consegue transmitir sempre o que sua personagem deveria. Há cenas onde ela arrebenta, em outras é morna. Eu resumiria como uma atuação irregular. Jeremy Irons (Rodolfo Gucci) aparece pouco no filme e quando está em cena não compromete, mas também não chega a ser brilhante.

Al Pacino (Aldo Gucci) está bem consistente e até entrega uma atuação de acordo com o padrão que ele nos acostumou. Não creio que seja possível criticar negativamente sua atuação. Adam Driver (Maurizio Gucci) é um caso curioso, me deixando um pouco dividido. Por um lado, quando comparamos com sua atuação em História de um Casamento, por exemplo, dá pra dizer aqui ele deixa a desejar. Por outro, sabemos que ele é tão talentoso que pode ter entregado um perfeito personagem raso, fazendo o que estava a seu alcance com o material que tinha. Como é um dos melhores de sua geração e possivelmente ainda nem chegou ao auge, está com muito crédito.

Quanto ao enredo e o roteiro, lá para o último ato, podemos jurar que estamos assistindo a uma novela condensada em duas horas e meia. O sotaque italiano meio esquisito nos remete às clássicas da Globo, como aquela dos Berdinazzi e Mezenga, ao mesmo tempo é um dramalhão em família que é certo nas tramas mexicanas. É um filme sobre intrigas e drama familiar de milionários, ou seja, tem mesmo muito coisa de novela. Mas isso pode não ser necessariamente ruim. É só um pouco ‘comum demais’, com o agravante (ou não) de ser uma história real.

No fim das contas, Casa Gucci é um bom filme. Só que eu, pelo menos, esperava um filme espetacular. Não acho que valha o ingresso, mas certamente merece seu tempo para assistir em casa. Assim como uma boa novela, é entretenimento puro.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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