Review | Call of Cthulhu

As histórias de H.P Lovecraft causaram tanto impacto no entretenimento que até hoje servem como fonte de inspiração para diversas obras e meios. A ideia de uma mitologia com a presença de cultos malignos, criaturas de outras dimensões e seres anciões combina muito bem com um jogo. Foi graças a esse insight que o estúdio Cyanide criou Call of Cthulhu, jogo que se baseia na história de mesmo nome. Lançado no dia 30 de Outubro, o jogo conta a história de Edward Pierce, um detetive particular que enfrenta seus próprios demônios conquistados durante a Primeira Guerra Mundial.

O Enredo

Edward passa seu tempo descobrindo a traição de esposas ou bebendo sem parar, numa tentativa de escapar dos pesadelos que o assombram. Durante um dia aparentemente comum, Edward acaba recebendo uma oferta de emprego do industrialista Stephen Webster. Stephen pede que o detetive investigue a morte de sua filha e da família da mesma na distante ilha Darkwater. O detetive aceita o trabalho, servindo como ponta-pé para a história.

Apesar de ser categorizado como um RPG, Call of Cthulhu é predominantemente estruturado como um jogo de aventura em primeira pessoa. O enredo é dividido em capítulos e a progressão é conquistada ao achar itens importantes na história, resolver enigmas e interrogar os habitantes da ilha misteriosa. No geral, é uma experiência bem linear e não deve dar muita dor de cabeça no que diz respeito ao progresso. A única dificuldade encontrada reside em alguns enigmas que demandam um pouco de raciocínio lógico.

Como foi dito acima, o jogo é categorizado como um RPG. Isso acontece por que é possível alocar pontos de personagem em áreas de interesse como Força, Investigação ou Psicologia. Cada ponto alocado afeta a jogabilidade, influenciando a forma como o jogador dará prosseguimento na história. Um ponto negativo é que apesar de alterar a forma com que a progressão será feita, o resultado final acaba sendo sempre o mesmo, independente do meio escolhido. O estúdio poderia ter um pouco mais de empenho e criar consequências diferentes para cada ação. Utilizar o mesmo fim para todas as ações acaba eliminando o fator replay e a atratividade do título. No geral, o sistema de escolhas ficou bem pobre e mal trabalhado, dando a entender que foi feito às pressas. Se você espera por um sistema de escolhas robusto, melhor procurar outro jogo.

O Senhor do Medo

Apesar da derrapada no sistema de escolhas, a história e a atmosfera do jogo não decepcionam e transmitem bem a essência do conto de Lovecraft. Como a obra original já é muito conhecida, os fãs do autor não terão muitas surpresas no jogo. Já os novatos de plantão irão se esbaldar com uma história recheada de momentos de terror e figuras ocultas. Felizmente o estúdio acertou a mão na cadência da narrativa e em nenhum momento os capítulos causam cansaço/sensação de repetição. Com cerca de sete horas de duração, prepare-se para levar alguns sustos, passar por momentos de tensão e se deparar com entidades poderosas.

Além das criaturas, boa parte do medo é gerado graças ao level design que traz consigo algumas partes de stealth e principalmente pelo design visual do game. Obviamente o jogo não apresenta o visual de games AAA, mas o estúdio se esforçou e o resultado impressiona. Graças ao uso inteligente de técnicas de sombreamento e a sensação de espaço fechado propiciada pela ilha, a imersão no mundo construído pela Cyanide é digno de nota. Em alguns momentos de escuridão absoluta, o jogador terá apenas um isqueiro ou uma lanterna para seguir o caminho. É nesse momento que o jogo brilha e toma mais forma de uma aventura de terror.

Conclusão

Com uma história bem escrita e um ambiente fiel à obra original, Call of Cthulhu deve agradar aos fãs de H.P Lovecraft. O jogo evidencia que existe espaço para adaptar mais obras do autor e entregar um produto de qualidade. Apesar de ser uma boa experiência no geral, no quesito gameplay e recursos, o título da Cyanide deixa muito a desejar, apresentando mecânicas ultrapassadas e superficiais. É difícil identificar se faltou empenho, tempo, dinheiro ou tudo isso junto!

Esta análise foi feita com um código do jogo para Playstation 4 cedido pelo representante da Cyanide.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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