Resenha | Reinações de Narizinho

Praticamente todo brasileiro conhece a obra de Monteiro Lobato. Pelo menos a sua principal criação: O Sítio do Picapau Amarelo. Gerações cresceram acompanhando as séries de TV, que teve sua primeira versão ainda nos anos 50 e depois teve a mais famosa que foi dos anos 70 aos 80 e depois a dos anos 2000. Ainda hoje muitas crianças assistem, muito por influência dos pais ou avós.

Contudo, ler a obra do autor não é uma tarefa assim tão fácil. Leitores experientes podem encontrar dificuldade. Imagine uma criança que está desenvolvendo técnicas e estratégias, até mesmo gosto.

Por mais que já tenha tido outras versões e que, dessa vez, esteja mais atrativa para os pequenos em termos visuais, Reinações de Narizinho da Companhia das Letrinhas ainda é difícil para seu público alvo.

Começamos a leitura ambos pai e filha de 7 anos. A criança, aprendendo a ler, mas já com uma pequena coleção de livros infantis, ficou muito entusiasmada para um livro tão grande e com personagens que ela já conhecia das séries de TV. Começou sozinha, em voz alta, o pai apenas supervisionando e ajudando em eventuais palavras difíceis ou com a entonação vez ou outra.

Sabemos que crianças em fase de alfabetização gostam de ler tudo, em todos os lugares. Placas nas ruas, tiras em jornais, embalagens… imagine um livro com temática infantil? E foi assim que começou. A história é convidativa.

Contudo, antes do fim do capítulo, já estava cansada. Não é uma leitura fácil. Muito pelo contrário. É desafiante demais. E crianças ainda não estão prontas para esse tipo de desafio.

E isso se repete durante todo o livro. Tudo é muito longo e com muitos detalhes. Sem falar nos termos difíceis. Desmotiva fácil, por mais que a história possa ser cativante (e nem sempre é tanto).

Talvez uma criança de 7 anos realmente não consiga acompanhar. Assim, passo eu a ler para ela, já com a entonação adequada e sem as pausas que um leitor inexperiente acaba tendo. Assim, o tempo que ela fica atenta acaba sendo maior. Por conseguir se ater mais ao conteúdo e não precisar se preocupar em entender palavra por palavra, a criança aproveita mais.

Assim concluímos que este é um livro para ser lido para uma criança e não por uma. Mesmo assim, precisa ser lido bem aos poucos. Talvez um capítulo por dia. E nem sempre será possível seguir esse planejamento, já que alguns capítulos são mais longos.

Como é uma obra de 1920, ela espelha um mundo e uma realidade muito diferente do que temos hoje. Então, além da já evidente diferença entre os gostos e poder de entendimento das crianças dessas épocas, há a diferença de costumes e de comportamento.

Essa é a parte mais legal do livro e que vale a pena o investimento. Ele traz Emília e Narizinho onipresentes, como se estivessem viajando no tempo comentando e questionando a escolha de palavras e explicando hábitos que não se aplicam mais nos dias atuais assim que eles são citados na história. É muito bom para ajudar na formação das crianças e para que elas saibam que certas atitudes e palavras (ou expressões) são ofensivas e depreciativas.

Por fim, é importante ressaltar que o livro vale a pena e até pode ajudar na formação de jovens leitores e cidadãos. Só é preciso estar atento à faixa etária e respeitar o tempo de cada um. Com os mais novos e que precisam de mais tempo, comece lendo para eles. Aos poucos, vá estimulando os próprios a lerem. E quando estiver nessa fase, faça perguntas para checar o entendimento. Faça os questionar, interpretar. Mas sempre estimule a imaginação, como Monteiro Lobato pensou desde o início.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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