Crítica | Homem-Aranha: Longe de casa

Depois de Vingadores: Ultimato, o desafio da Marvel era dar continuidade ao seu Universo Cinematográfico e, especialmente, manter o nível de suas produções e o interesse do público.

Homem-Aranha: Longe de Casa teve a difícil e importante missão de ser o primeiro filme após esse fim de ciclo que durou mais de 10 anos. E não decepciona. Pelo contrário, surpreende positivamente.

A princípio, e especialmente para os haters desse novo Peter Parker de Tom Holland (que são muitos, infelizmente), o filme parece que vai seguir o mesmo tom de De Volta ao Lar. Aquela coisa mais adolescente, mais leve e com um Peter que tem preocupações mais simples e com sua vida pessoal ao tentar conciliar o fato de ser um aluno do Ensino Médio com sua vida de super-herói.

Aliás, para aqueles que se questionavam como seria a explicação para o fato de que vários alunos desapareceram do nada com o estalo de Thanos e voltaram anos depois e continuaram suas vidas, ela está lá, logo nos primeiros minutos do filme. E é bem simples até. Dá para dizer que até convincente, basta você entrar no clima.

O filme caminha em um ritmo que é ‘ok’ até praticamente sua metade. Mysterio surge em Veneza e se apresenta como um aliado de Nick Fury (após já tê-lo conhecido no México) para combater os Elementais, personagens que teriam vindo do mesmo Universo que o próprio Mysterio após destruírem tudo por lá deixando apenas o próprio Quentin como sobrevivente fugitivo (bem na pegada de Krypton). É então que ele apresenta o conceito do Multiverso, que vimos no trailer. Não é possível falar nada além disso sem dar spoilers, portanto, assista. E fique atento aos possíveis easter eggs.

A relação de Peter com Quentin Beck/Mysterio é interessante e bem desenvolvida. Surpreendente, talvez. Inicialmente, parece ir contra a relação de antagonismo que os personagens tem nos quadrinhos. Mas logo você entende. O que dá para dizer é que Jake Gyllenhaal está excelente no personagem, e que ele tem participação fundamental na história.

Inclusive, a relação que Peter começa a desenvolver com Quentin, remete à sua necessidade de encontrar um modelo, uma inspiração, como Tony Stark foi para ele. E isso fica muito claro em uma cena. Sobre Tony, as homenagens a ele estão no filme o tempo inteiro e em todas as partes dos mundo (eles passam por pelo menos 3 países europeus). Além de a primeira cena do filme ser uma homenagem feita pelos alunas da escola de Peter (que é bem engraçada, por sinal).

Essa lacuna na comunidade super-heróica que o Homem de Ferro deixou, bem como seu legado para a imagem dos super heróis fantasiados, precisa ser preenchida. Não apenas o povo precisa de um novo Homem de Ferro, mas também o próprio Peter e até mesmo Nick Fury. E é por essa razão que ele e Maria Hill estão no filme. Já que Stark confiou em Peter e fez dele um Vingador, Fury acredita nisso e quer investir no garoto para ter um papel mais proeminente na equipe. E isso é um fardo que Peter não está pronto para carregar, por isso, nesse filme, a Marvel parece começar a maturar o personagem para assumir o papel que pode na próxima geração de heróis e chegar até ao Peter mais velho e com grandes responsabilidades que nos acostumamos a ver e ler.

No momento em que as coisas pareciam encaminhar para um lado que faria muita gente torcer o nariz para o roteiro, um plot twist se revela, juntamente com o vilão. É bem verdade que esse plot twist no fundo era esperado, mas não se sabia como isso aconteceria. E acredite, é bem interessante. Fazendo jus ao vilão e até mesmo ao Aranha. Afinal, nada na vida de Peter Parker pode ser feliz ou minimamente fácil por muito tempo, certo?

Depois da revelação do vilão, de suas motivações, seus objetivos e seu caminho até ali, o filme muda totalmente de ritmo e toma outra direção. Mudando o status de ok para excelente. E nesse ponto, o roteiro e a direção se tornam surpreendentes.

Ned contiua sendo o nerd na cadeira do Aranha, mas dessa vez tem menor participação direta nas aventuras do herói. Porém, tem sim sua importância no plot e tem momentos hilários, como era de se esperar. O maior destaque, no entanto, fica por conta de MJ. Além de Zendaya estar ótima, mostrando seu talento através das nuances que a personagem começa a mostrar. Sua química com Tom Holland está ótima. E ela começa a despontar como a possível melhor ‘interesse romântico’ do MCU, e quem sabe, ser uma nova Pepper Potts, já que há essa ligação entre Peter e Tony.

Além disso, temos a relação de Happy com Tia May, e o vemos como um novo assistente de Peter, como se ele o tivesse herdado de Tony. Em um momento, Happy vê com clareza em Peter o que Tony viu. Muito provavelmente veremos ainda mais desse personagem futuramente.

O final do filme mostra que há muita lenha para queimar com esses personagens nessa nova fase da Marvel nos cinemas, com inúmeras possibilidades e deixa claro que veremos um Homem Aranha amadurecendo gradativamente e se tornando cada vez mais importante e mais próximo do clássico, sem perder sua identidade.

Por isso, não saia da sala de cinema antes das cenas pós créditos. Seguindo a mesma linha do filme, ela parece que seria apenas complementar e divertidinha, mas de repente algo acontece e muda tudo. Não apenas sobre a forma como filme acabou mas deixando uma grande expectativa para o futuro. Já a segunda cena, abre espaço para muita especulação sobre o futuro (e até o passado) do MCU.

Homem-Aranha: Longe de casa tinha muitas chances de ser uma bomba ou de não conseguir manter o nível após Vingadores: Ultimato. Mas o filme surpreende, traz um vilão forte, e dá a seu protagonista a oportunidade de crescer. A Marvel conseguiu surpreender e deixa claro que não vai deixar a bola cair e seus filmes continuarão a dar o que falar (e fazer dinheiro) por muitos anos. Se você gosta do estilo Marvel Studios de fazer filmes, você vai curtir muito esse novo filme do Aranha.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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