Vinte anos depois, Joel Schumacher pede desculpas por Batman & Robin
Se você tem mais de 25 anos e curte filmes de heróis, provavelmente você assistiu aos filmes Batman Eternamente e Batman & Robin, de 1995 e 1997, respectivamente.
O primeiro, não chega a ser bom, mas é ‘assistível’. Já o segundo, é um dos (senão ‘o’) filmes de herói mais criticado de todos os tempos. Apesar do elenco repleto de estrelas da época (e muitos ainda são aclamados hoje), as atuações são muito caricatas, muito devido ao roteiro sofrível.
Mas a maior culpa decaiu sobre o diretor, Joel Schumacher. Desde o início sua missão era ingrata, pelo simples fato de ter um dos personagens mais importantes da cultura pop e com alguns dos fãs mais exigentes. Além do mais, os dois primeiros foram dirigidos por ninguém menos que Tim Burton e tiveram ótimas críticas e recepção do público.
Recentemente, 20 anos depois, Joel Schumacher deu uma entrevista ao Vice onde disse o seguinte:
“Olha, eu queria pedir desculpas. Eu peço desculpas a todo fã que eu desapontei, pois eu acho que devo isso a eles. Eu sabia que não deveria fazer uma sequência. Mas todos na Warner esperavam que eu fizesse uma. Talvez tenha sido um pouco de orgulho ou excesso de confiança de minha parte. Eu vinha de uma boa média, depois de um relativo sucesso em Lost Boys, e elevado a quase que gênio em The Client e o grande blockbuster em Batman Forever. A boa média continuou com boas críticas em A Time to kill. Daí veio Batman & Robin e eu virei lixo. É como se eu tivesse matado um bebê” – disse Schumacher após ser perguntado sobre a razão de ter feito uma sequência para Batman Eternamente que já não havia tido tão boas críticas.
O entrevistador então pergunta se o fracasso do filme pode ser colocado na conta do ego do diretor, e ele responde:
“Claro! Não completamente, pois havia uma expectativa acerca da bilheteria, então havia uma pressão. Mas veja, eu sou bem grandinho. Assumo toda responsabilidade. Sabia onde estava entrando e fico realmente muito mal quando penso na equipe. A equipe de efeitos, os dublês e todo mundo que deu duro junto ao elenco. Então eu sinto que o trabalho dessa galera não foi reconhecido como deveria Muito foi culpa minha, ninguém é responsável pelos meus erros a não ser eu mesmo.“
Se você assistiu ao filme e como a maioria não gostou nada do que viu, saiba que havia uma possibilidade de continuação e a galhofa poderia ser ainda maior:
“Na verdade eu havia sido escalado para fazer outro Batman. Eu já havia até encontrado com Nicolas Cage no set de A Outra Face, pois eu planejava tê-lo como o Espantalho. Francamente, eu estava ficando sem vilões*. Então eu viajava o mundo divulgando o filme e em todo lugar as facas estavam sempre apontadas para nós. Mas eu fazia meu trabalho. Um dia eu estava no Rio inaugurando mais uma loja de brinquedos, fazendo merchan com bonequinhos, quando eu pensei: que m%#d@ é essa?! O que tá acontecendo? Então eu fui ao México de férias e liguei para os meus chefes dizendo que não poderia mais fazer outro Batman. Muita gente pensa que eles não iam me querer para outro filme, mas a verdade é que os bonequinhos, os pijamas, e todo tipo de licenciamento estava dando números astronômicos a eles em lucro. Mas eu precisava largar aquela coisa de filme de verão pela minha própria sanidade.“
Observe na parte em destaque com *, que o diretor disse que estava ficando sem vilões, mesmo o Batman tendo uma das maiores, se não a maior, galeria de vilões e antagonistas da cultura pop.
Joe diz que naquela época, não havia a mesma visão que há hoje sobre os filmes de heróis e isso acabou aumentando a repercussão de seus filmes:
“Eu espero que nenhum fã do Batman tenha abandonado o personagem após assistir aos meus filmes. Quando me chamaram para Batman Forever, eu disse que aquela era uma franquia de Tim Burton. Naquela época, o Pinguim de Danny Devito já causava um tipo de comoção entre os pais. O traje fabuloso, porém um pouco sensual demais da Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer não ajudava muito. As pessoas por toda América estavam questionando um pouco de tudo. Tim, que é um grande amigo meu, me implorou para ficar com a franquia. Por causa da pressão e ele estava pronto para ir embora. O que é interessante é que se você olhar para os filmes de Tim e os meus, você pode ver como a audiência era inocente. É muito interessante, pois naquele tempo, tínhamos um Batman mais family friendly. Daí temos a trilogia de Nolan e a audiência mudou, ele combatia problemas reais e econômicos. É uma versão mais sombria.“
Uma outra coisa que até hoje causa arrepios nos fãs, são os famigerados bat-mamilos (com permissão ao duplo sentido de ‘causar arrepios’). Joel também comentou sobre isso:
“É mesmo um mundo muito sofisticado esse em que dois pequenos pedaços de borracha, do tamanho daquelas que víamos em velhos lápis, podem se tornar um problema tão grande. Isso estará na minha lápide, com certeza. Os trajes foram criados por Jose Fernandez, que era nosso brilhante figurinista e escultor. Quando você olhava para Batman e Batman: O Retorno, onde tinha o gênio Bob Ringwood responsável por essa parte, você já percebia uma grande evolução ao que era feito na época, e quando Batman Eternamente foi feito, a tecnologia também havia evoluído muito. Os moldes de borracha eram muito mais sofisticados e avançados. Então me lembro de ter dito que queria algo mais anatômico, com os músculos desenhados. A ideia era dar um status ‘Grego’ para os uniformes. Quando Jose me apresentou a versão final com os mamilos, assim como as estátuas e as pinturas gregas, achei uma boa ideia. Quer dizer, isso realmente incomoda tanto as pessoas?“
E a você, fã de Batman? Os bat-mamilos lhe incomodam?
Mesmo com tudo isso, Joel Schumacher parece bem tranquilo a respeito de toda essa negatividade em torno dos filmes:
“Bem, eu continuei fazendo filmes e não tive um colapso nervoso. Woody Allen, um dos meus grandes mentores, disse que não devemos nunca ler nada a nosso respeito, pois para acreditar nas coisas boas, você tem que acreditar nas ruins, e você se lembrará de cada palavra negativa até o dia de sua morte. Isso foi um grande conselho, pois quando eu fiz St. Elmo’s Fire em 1985, eu recebi páginas e mais páginas de críticas negativas, e nenhuma positiva sequer. Nenhuma. No fim das contas, muita gente acabou assistindo ao filme e eu senti que não precisava de aprovação da crítica. Eu nunca fui um queridinho da crítica e isso foi libertador. Mas vejam bem, ainda assim, eu peço desculpas.“
E então, será que Joel Schumacher realmente se sente culpado por quase ter estragado a franquia de um dos personagens mais importantes da cultura pop para sempre? Ou será que ele só está querendo um pouco de atenção e na verdade não aceita as críticas?