Review | Detroit: Become Human

O gênero da ficção científica sempre trouxe obras que favorecem reflexões e discussões com temas que permanecerão em nossa mente por muito tempo após o final de suas histórias. Escritores como Philip K. Dick, Isaac Asimov e Arthur C. Clarke eternizaram-se ao sedimentar este gênero com obras lendárias que até hoje reverberam em nosso contexto e que, por muitas vezes, provam que a ficção pode terminar sendo uma previsão.

Neste contexto foi lançado Detroit: Become Human, game desenvolvido pela Quantic Dream e exclusivo para Playstation 4, trazendo diversos dilemas morais em uma narrativa extremamente envolvente e intrincada.

Ambientação

Mais que um jogo, Detroit é uma obra de entretenimento completa. Logo de início vamos sendo introduzido à sua envolvente trama e sua forma de contar a história. Com personagens críveis e complexos, o game nos coloca dentro de um ambiente muito bem construído.

Assumindo o papel de mais de um personagem, o game nos insere em narrativas diferentes que pouco a pouco vão nos apresentando o contexto e a realidade do universo. Nos primeiros minutos já é possível simpatizar com alguns personagens e entender os seus conflitos.

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“Jogo Filminho”

Detroit: Become Human é um jogo totalmente focado na narrativa. Por conta disso, o controle que assumimos dos personagens está muito mais atrelado às suas escolhas do que a suas ações corporais. Isso pode causar um estranhamento, levando alguns a pejorativamente chamar os games do gênero de “jogo filminho”. No entanto, aqui você realmente assume o comando da história e o impacto de suas escolhas é real, o que fica evidenciado com a grade de eventos exibida ao final de cada capítulo. As possibilidades são absurdas.

Por ter este estilo particular de jogabilidade, a Quantic Dream se dedicou muito à história, a fim de torná-la interessante e mutável, e este objetivo foi alcançado com sucesso. Acompanhar a trama dos personagens é extremamente prazeroso. Com gráficos incríveis e atuações extremamente competentes, Detroit traz uma experiência de entretenimento diferenciada e que deve agradar fãs de games de sci-fi.

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“Like tears in’ Heavy Rain'”

O gênero da ficção científica não é algo estranho aos vídeo-games. Contudo, são poucas as vezes que nos deparamos com uma história tão profunda, real e imersiva quanto a apresentada em Detroit. É possível notar as influências dos grandes ícones do gênero, como Asimov e Philip K. Dick. Seja na aplicação das Leis da Robótica, criadas por Asimov, ou em todo o contexto da aceitação dos andróides pela sociedade, como abordado por K. Dick em Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas, obra que inspirou Blade Runner, o  game consegue criar um contexto rico e inventivo.

Ao longo de toda a história, somos apresentados a tramas que nos farão questionar não só a humanidade dos andróides, mas a nossa enquanto sociedade. Questões como estas, que sempre foram apresentadas nas mais emblemáticas obras, agora são entregues para que possamos dar o nosso toque no desenrolar da trama.

Um dos pontos mais impressionantes é a forma como a história consegue se “moldar” em nossas escolhas. Durante muito tempo, a sensação nestes jogos de múltipla escolha era de que as decisões tomadas pelo jogador não tinham impacto real e resultavam apenas em uma cena extra ou um detalhe mínimo. Aqui, as decisões tem peso e podem interferir de maneira profunda na história.

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Indo além

Por trazer diversas histórias, o game aborda diferentes contextos e traz uma experiência diferente para cada um. Enquanto com um personagem passamos por situações dramáticas envolvendo agressão doméstica, em outro vivemos uma trama policial com investigação, interrogatórios e análise de cenas de crime e assim por diante.

Essa variedade denota o cuidado na criação do game e na concepção de um roteiro que torna o game uma história envolvente e um jogo divertido, evitando a monotonia e a repetição.

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Controles

Apesar de toda a primazia em sua apresentação e enredo, Detroit também apresenta seus pontos falhos. Com uma jogabilidade relativamente competente, em alguns momentos o controle das ações pode parecer confuso e pouco prático. Obviamente, alguns comandos são feitos para criar uma sinergia entre a cena e a nossa ação no mundo real. No entanto, nestes casos a execução pode sair atrapalhada.

A fragilidade dos controles fica ainda mais evidente nos Quick Time Events, onde é preciso pensar e agir rapidamente. Alguns gestos e comandos acabam por se perder em meio às ações do game, podendo, algumas vezes, trazer resultados indesejáveis à história.

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Conclusão

Detroit: Become Human não é só um jogo filminho, mas sim uma obra de entretenimento complexa e gratificante. Acompanhar as tramas bem desenvolvidas do jogo e poder tomar parte no curso da história tornam o game uma experiência diferenciada.

Com gráficos de ponta e roteiros bem escritos, o game apresenta uma fusão entre o entretenimento ativo e passivo de maneira orgânica e competente. Os fãs de ficção científica terão um carinho adicional pelo game, mas é certo que Detroit deve agradar todos aqueles que apreciam uma boa história.

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Detroit: Become Human está disponível exclusivamente para o PS4.

Esta review foi feita com uma cópia do jogo para Playstation 4 cedida pela Sony.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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