Review | Children of Morta

Children of Morta é um RPG roguelike a la Diablo desenvolvido pelo estúdio Dead Mage e publicado pela editora 11 bit studios. O game conta a história dos Bergson, uma família de heróis que protege o Monte Morta por gerações. Diferente das histórias clichês onde um grupo de heróis precisa salvar o universo, aqui o foco narrativo é a família e as discussões do cotidiano entre cada membro dela.

Este apelo emocional permite que o jogador crie laços virtuais com cada membro da família, gerando uma maior imersão e aprofundamento na história. Além disso, o game acaba ganhando originalidade e diversidade, visto que quase todos os membros da família são personagens jogáveis e podem ser utilizados para explorar os diversos calabouços existentes no título.

Toda a história é contada através de um narrador, excelente casting por sinal, que explica os eventos transpostos em belíssimas cenas pixelizadas. Apesar de parecer uma solução barata, não se engane, a direção de arte do jogo é uma das melhores desta geração. Além de abordar cenas que acontecem entre os membros da família, o narrador também apresenta informações acerca do mal que está assolando a montanha.

Bergsons, Assemble!

Uma das principais vantagens de se trabalhar com um grupo é a possibilidade de injetar diversidade e complexidade a um projeto. Em Children of Morta isso acontece graças ao curioso sistema de “classes” implementado pelo estúdio. Cada membro da família apresenta suas próprias habilidades e armas, modificando completamente o estilo de jogo. Essas variações funcionam como classes de forma subjetiva: Temos o Guerreiro, usando espada e escudo, a Arqueira, a Maga, o Ladino usando duas adagas e o monge que usa seus próprios punhos para causar dano.

Como mencionei acima, o jogo apresenta diversas mecânicas roguelikes, ou seja, quando você morre, o progresso é “reiniciado” e você volta para o QG da família. As habilidades de cada personagem são imutáveis, você não as perde quando morre, e elas podem ser aprendidas mediante o ato de mudar de nível. Como em todo bom RPG, ao mudar de level você ganha um ponto de habilidade que pode ser aplicado na sua árvore de talentos.

Os upgrades mais básicos, como aumento de life, aumento de dano e coisas deste tipo são aprendidos com a utilização de Ouro. Você conquista a moeda ao abrir baús e eliminando monstros nos mapas do jogo. Falando em mapas, o game não se trata de um mundo aberto e conta com um menu de seleção de níveis. Geralmente cada seção apresenta dois estágios e no terceiro e último, nós temos as adoradas lutas contra chefes.

Um detalhe curioso é que a história está intrinsecamente ligada ao seu progresso no jogo. A medida que você avança num calabouço e retorna para o QG, novos acontecimentos assumem a tela, adicionando novas informações, mecânicas e discussões familiares.

Bola Meio Murcha

Children of Morta pode ser jogado com dois personagens através do co-op local. Além de tornar a experiência mais divertida, e fácil, o recurso permite que o jogador evolua dois personagens ao mesmo tempo, algo que se mostra bem útil depois de um tempo. Infelizmente, os jogadores que não possuem amigos locais para ajudar ou dois controles, ficam vendo navios pela ausência de um modo online.

Em um jogo tão impecável e divertido como esse, seria incrível poder contar com um modo multiplayer desde o lançamento, alavancando ainda mais a experiência com o título. Felizmente, o estúdio já está trabalhando na função e ela não deve demorar muito tempo para ser implementada.

O Melhor Diablo da Geração

É inegável que o jogo utiliza diversas inspirações da franquia Diablo. Toda a exploração é baseada na famosa saga da Blizzard, até mesmo os altares estão presentes, garantindo buffs preciosos de forma aleatória. A grande surpresa é que o jogo consegue ser o melhor jogo do estilo nessa geração e, pra mim, ele consegue superar até Diablo 3 dentro de suas limitações.

Observando o fato de que o jogo conta com um orçamento e uma equipe muito menor, o trabalho do estúdio é digno de inveja, entregando uma das melhores experiências do gênero nessa geração. Tudo funciona muito bem e de forma dinâmica, sem nenhum tipo de engasgo técnico. A cereja do bolo é a excelente localização de todos os textos em PT-BR, evidenciando a importância dada pela editora ao público brasileiro.

Em um jogo de menor escopo, pequenos glitches/bugs e problemas técnicos são inevitáveis, no entanto, isso não se aplica aqui. A empresa fez um trabalho extremamente apaixonado e atencioso, entregando uma obra prima tanto em visual, quanto em jogabilidade e sonoplastia.

Conclusão

Children of Morta é uma obra prima suprema. Sem dúvidas o brilhante RPG da Dead Mage é um dos melhores do gênero na atual geração de consoles. Se você gosta do estilo, com toda certeza é uma compra obrigatória.

Esta análise foi feita com um código do jogo para Playstation 4 cedido pela assessoria da 11 bit studios.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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