Review | Biomutant

Biomutant é um RPG de ação desenvolvido pela Experiment 101, um pequeno estúdio da Suécia. Com cerca de 20 pessoas na equipe, o título foi lançado graças ao suporte da THQ Nordic. Apesar das poucas pessoas na equipe, não se engane, Biomutant é um jogo ambicioso capaz de rivalizar com grandes produções da indústria.

Biomutant e o Greenpeace

Ao ler o título deste parágrafo, você com certeza está se perguntando o que uma coisa tem a ver com outra. Vamos lá. Biomutant é ambientado no Novo Mundo. O Velho Mundo, o nosso, acabou sendo destruído graças ao lixo radioativo espalhado pela corporação Toxanol.

Os humanos deixaram de existir. Agora, o mundo é povoado por diversos tipos de felinos que guerreiam entre si. Antigamente, os felinos participavam de uma única tribo. Todos eles eram liderados pela mãe do protagonista. Contudo, em um dia cinzento, o Lupa Lupin, um felino brutal, acabou atacando a vila e matando a líder da tribo.

O vácuo de poder fez com que seus aprendizes seguissem seus próprios caminhos. Não demorou muito para que cada um fundasse sua própria tribo para tomar o poder para si. Este é apenas UM dos objetivos principais do jogo. O lixo radioativo e a poluição como um todo são elementos fundamentais na narrativa principal e são citados com uma certa frequência. No geral, a temática é bem vinda e traz uma reflexão inusitada para a nossa situação atual.

No grau que consumimos e destruímos nosso planeta, não vai demorar para que o nosso futuro se assemelhe ao de Biomutant Contudo, vale mencionar que a temática não é abordada com profundidade na narrativa, o que acaba sendo um ponto negativo.

O Salvador (ou Destruidor) do Mundo

Como mencionei acima, lidar com as tribos é apenas uma de suas inúmeras tarefas. Você também precisa lidar com a Árvore da Vida. Inspirada na Ygdrassil, a árvore que une os mundos da Mitologia Nórdica, a Árvore de Biomutant tem um significado bastante similar a sua inspiração original. Logo no começo do jogo você vai precisar se aliar a uma tribo e cada uma delas tem seus objetivos em relação a Árvore.

Enquanto as tribos da Luz querem salvar a planta, as tribos da Escuridão querem destruir a Árvore e acabar com o mundo. A escolha fica totalmente a cargo do jogador. Na minha jogada eu escolhi os Miríades, uma tribo da Luz com um elevado senso de justiça.

Apesar do jogo se apoiar bastante no sistema de escolhas, elas acabam sendo bastante superficiais e seus impactos não são tão sentidos na trama. Surpreendentemente, apesar da ausência de impacto, o sistema de escolhas de Biomutant consegue ser mais robusto do que o de muitos AAA, o que acaba sendo um belo ponto positivo para o jogo.

Além de lidar com as tribos e a Árvore da Vida, você precisa resolver mais um problema ao longo de sua jornada. Encontrar e decidir o destino do Lupa Lupin, o felino atroz responsável pela morte da família do protagonista. Achou pouco? Tem mais uma coisa pra fazer. Derrotar os 4 Devoradores de Mundo que ameaçam destruir a vida na Terra.

Com tantos afazeres, a duração do título se expande bastante. Eu conclui meu jogo com 22h, sendo que deixei muitas missões secundárias sem fazer. É possível extender sua jogatina para 40-50h facilmente.

Biomutant e o Wung-Fusão

Felinos que lutam Kung Fu. Se você assistiu algum trailer do jogo, vai saber que a arte milenar é um dos pilares do combate. A mãe do protagonista era a maior mestre de Wung Fu do mundo, ela inclusive é creditada como a criadora da arte. Graças a isso, o combate do título é bastante acrobático/cinematográfico.

Você aprende diversos combos através dos pontos de Wung-Fu. Eles são obtidos ao mudar de nível ou ao ler os Livros espalhados pelo mapa. Você aprende combos para combate corpo-a-corpo, o que engloba todas as classes de armas e combates de longa distância.

Sim, você sabe Wung-Fu mas usa um vasto leque de armas brancas e até armas de fogo. Espingardas, Fuzis Automáticos, Pistolas. Vale de tudo para cumprir seu objetivo. E é através das armas que temos o surgimento de um dos sistemas mais ricos e divertidos que eu já vi num jogo.

O Masamune do Novo Mundo

O sistema de criação e personalização de armas e equipamentos de Biomutant é simplesmente sensacional. Eu nunca vi nada igual a isso antes. As opções são bem diversas. Você pode criar um Cotonete imenso com o cabo de um martelo e aplicar pregos nele. Loucura, não é? São quase um bilhão de combinações possíveis ao considerar todas as partes e armas.

A customização de equipamentos é um pouco mais limitada, contudo, ela continua sendo mais rica do que a de muitos jogos AAA com propostas similares a de Biomutant. Ao lembrar do escopo do jogo, fica nítido a paixão da equipe pelo projeto e o enorme esforço que eles fizeram para entregar algo de qualidade aos jogadores.

Contudo, não posso deixar de mencionar um elemento negativo relacionado aos equipamentos. É possível encontrar armas bastante poderosas logo no começo da jogatina, transformando o jogador em uma espécie de Deus intocável. Claro que você é livre pra trocar as armas a qualquer momento, porém, algumas armas específicas deveriam ser mais difíceis de serem obtidas com a finalidade de preservar o nível de desafio no jogo.

Habilidades e Autômato, o melhor amigo do felino

Além do Wung-Fu, o seu personagem de Biomutant aprende dois tipos de habilidades. Um tipo você aprende usando pontos de mutação obtidos ao matar plantas tóxicas ou abrindo containers contaminados. As habilidades vão desde um cogumelo que permite você pular e alcançar locais de difícil acesso até uma bolha que cola os inimigos.

Já fica uma dica, adquira a habilidade do cogumelo o mais rápido possível. Vai facilitar e muito sua vida no quesito exploração. O outro tipo de habilidade são as psiônicas. Similares a magias, essas habilidades são aprendidas através de pontos obtidos em altares.

Por fim, mas não menos importante, temos o Autômato, um inseto que ajuda o protagonista. Ele possui diversas funções diferentes, como curar 50% do seu HP ou se transformar em uma torreta no combate. As funções são habilitadas ao interagir com as Sombras que você encontra aleatoriamente no mapa.

Exploração no Novo Mundo

A exploração é um dos pilares de jogos de mundo aberto. E, nesse sentido, Biomutant dá uma aula em muitos AAA com mundos abertos. As paisagens são exuberantes, muitas vezes lembrando Ghost of Tsushima. Temos prédios abandonados, minas subterrâneas, fábricas com lixo radioativo, florestas, montanhas. Todos os cenários com uma dose generosa de diversidade e verticalidade. Ao todo são 7 biomas distintos para serem explorados.

Muitos desses biomas apresentam condições que machucam o personagem. Seja o calor excessivo, o frio brutal ou um grande grau de toxicidade, você vai precisar usar trajes de proteção, melhorar sua resistência ou usar montarias/veículos projetados para cada tipo de situação. É nos veículos que o jogo evidencia toda a sua ambição e se torna absurdamente divertido.

Temos um jet-ski, um Megazord e uma Mão Mecânica. Os objetos são criados para possibilitar que o jogador enfrente os Devoradores de Mundo, chefes colossais que ocupam quase a tela inteira. São nesses momentos que o jogo se entrega a originalidade, evidenciando seus pontos fortes!

As atividades secundárias são vastas. Você pode escolher entre explorar abrigos, limpar fortalezas de inimigos, interagir com dispositivos do velho mundo e por aí vai. Aqui, existe pouca originalidade. As atividades são as mesmas que já vimos em outros jogos do gênero. Por conta disso, você já sabe o que esperar nesse sentido.

Os defeitos de Biomutant

Apesar das inúmeras qualidades, Biomutant também apresenta seus problemas. Os dois maiores defeitos do jogo pra mim são sua superficialidade e a repetitividade. O primeiro deles é algo subjetivo, logo, você pode ter uma impressão diferente deste quesito. Por tratar de temas importantes como poluição, vingança e justiça, a campanha do game poderia ser abordada em um tom mais sério.

Todavia, fica fácil de compreender os motivos do estúdio por terem seguido num caminho mais superficial, criando uma espécie de jogo/filme de ação jogável. Todavia, o outro defeito, a repetitividade, não é subjetiva. Graças ao seu escopo de mundo aberto e a presença de MUITAS atividades, o jogo acaba se repetindo diversas vezes. Principalmente após as 8-9 horas iniciais. Em suma, a jornada de torna extremamente cansativa e no final dela eu não via a hora de acabar.

Uma quantidade menor de tribos e um mundo mais compacto iria sanar o problema e certamente tornaria a experiência ainda melhor, dando ao estúdio mais tempo e recursos para alocar em outros setores.

Biomutant: Vale a Pena?

Cheio de ambição e boas ideias, Biomutant certamente é uma história de sucesso. Ainda tenho dificuldade em acreditar que um estúdio de 20 pessoas conseguiu criar um jogo deste escopo. Todavia, ele não é um jogo perfeito e seus diversos defeitos acabam diminuindo o brilho de um projeto que tinha tudo para ser inesquecível. Outro ponto a ser considerado é que o título não tem versões para a atual geração de consoles. Em suma, se você gosta de mundos abertos grandiosos, com algumas ideias originais (mas com uma elevada dose de repetitividade), você vai amar Biomutant.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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