Resenha | Vulgo Grace
Da mesma consagrada autora de O Conto da Aia, obra que foi adaptado para televisão, Vulgo Grace é uma obra forte e muito bem escrita baseada em uma história real – que, aliás, também ganhou uma adaptação, dessa vez pela Netflix (Alias Grace).
Foi no ano de 1843, no Canadá, o julgamento de Grace Marks, acusada de assassinar seu patrão, Thomas Kinnear, e sua governanta e amante, Nancy Montgomery. A garota possuía 16 anos na época, trabalhava na casa como empregada doméstica e teria, supostamente, tirado a vida de ambos com a ajuda de mais um empregado da casa, James McDermott, apesar de que ela não conseguia se recordar do acontecimento. O mesmo foi condenado à forca e executado enquanto algumas pessoas assistiam à cena, satisfeitos, já Grace teve prisão perpétua como pena. Seu julgamento foi muito falado e as opiniões sobre a garota ser culpada ou inocente eram muito divididas, nunca obteve-se uma resposta e ela passou anos presa em diferentes locais, sempre alvo da curiosidade de todos. Enquanto isso, um grupo de pessoas esforçava-se para provar sua inocência a todo modo.
“A razão para quererem me ver é que sou uma célebre assassina. Ou pelo menos foi o que escreveram. Quando li isso pela primeira vez, fiquei surpresa, porque costumam dizer Cantor Célebre, Poeta Célebre, Espiritualista Célebre e Atriz Célebre, mas o que existe de célebre em assassinato? De qualquer modo, Assassina é uma palavra forte para estar associada à sua pessoa. Tem um odor característico, essa palavra, almiscarado e sufocante, como flores mortas em um vaso. Às vezes, à noite, eu a sussurro pra mim mesma: Assassina. Ela produz um som farfalhante, como uma saia de tafetá pelo assoalho.” (p. 32-33)
Entre essas pessoas que acreditavam na inocência de Grace, estava o Dr. Simon Jordan. Interessado no estudo de doenças mentais e fascinado pelo caso, ele faz freqüentes visitas à garota e são suas conversas que nós acompanhamos, narradas pela própria Grace. Os relatos são extremamente detalhados – em alguns momentos, talvez detalhados demais, chegando perto de se tornarem um pouco cansativos – e é muito interessante acompanhar a história do ponto de vista da própria condenada.
Apesar de ser uma história real, muitos pontos foram preenchidos por ficção e estes são muito bem pensados. Margaret Atwood tem uma escrita admirável e, apesar de ser uma história muito complexa e pesada em vários momentos, a escrita é fluida e consegue te prender muito bem.
“Quando fecho os olhos, consigo me lembrar de cada detalhe daquela casa, tão claramente como se fosse uma gravura – a varanda com as flores, as janelas e as colunas brancas, no sol brilhante -, e poderia percorrer cada um de seus cômodos com os olhos vendados, embora, naquele momento, não tivesse nenhum sentimento particular a respeito da casa e só quisesse um gole de água. É estranho pensar que, de todas as pessoas naquela casa, eu era a única que estaria viva dentro de seis meses.” (p. 234).
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