Resenha | Vermelho, Branco e Sangue Azul – Casey McQuiston
Para nossa sorte, Casey McQuiston saiu da autoestrada I-10, em 2016, e teve um vislumbre de como seria mudar as configurações atuais e encaixar problemáticas reais, romance divertido e comédia inteligente.
É fácil resumir Vermelho, Branco e Sangue Azul, mas nenhum resumo seria o suficiente para explicar a excelência do livro. Trazido ao Brasil pela Seguinte, selo da Companhia das Letras, a obra de estreia de McQuiston acontece durante os meses anteriores a eleição de 2020 dos Estados Unidos, sob o ponto de vista do filho caçula da presidenta Claremont, Alex.
Em meio as estratégias para ganhar a reeleição, a Primeira-Família dos EUA é convidada para o casamento do príncipe herdeiro da Inglaterra, irmão do arqui-inimigo de Alex. Durante o evento real, Alex e o segundo príncipe na linha de sucessão, Henry de Gales, se envolvem numa briga e acabam reforçando a atenção já caída sobre eles. Unidas, as assessorias americana e inglesa arquitetam uma fantasia onde os dois rapazes são melhores amigos, a fim de evitar uma crise entre as grandes potências e manter as aparências na mídia. Contudo, Alex odeia fortemente o príncipe e, por alguma razão, não consegue tirá-lo da cabeça desde a adolescência.
Seu mau comportamento não pode vir a prejudicar a mãe, então o primeiro-filho aceita as condições impostas e se aproxima do príncipe. A descoberta da própria sexualidade é, como esperado, confusa e surpresa. No entanto, a personalidade metódica do personagem ajuda a passar pelo momento de forma divertida e cautelosa.
Caso você, leitor, também se sinta familiarizado com a ambientação, é porque foi intencional a estruturada para ser semelhante a que já conhecemos, exceto alguns detalhes configurados. A presidenta Claremont seria Hillary Clinton, se tivesse vencido as eleições após a saída de Obama; e o príncipe Harry, com todas suas escolhas contrárias, é a referência modificada para Henry, quem também vive sob o governo da rainha-avó.
Apesar de, assim como eu, muitos não estarem em posição de opinar com propriedade sobre o romance LGBT tratado, a forma fluída e sensível da escrita de McQuiston aproxima o casal da realidade e ajuda a desconstruir pensamentos retrógrados; questões como a descendência mexicana de Alex e sua pele escura também são cuidadas com a mesma preocupação e anseio.
Cada personagem tem papel fundamental, além de um contexto e individualidades. Eles dão gás e vida aos capítulos, dinâmica e diversão. A família de Alex, o melhor amigo e a irmã de Henry, são a rede de apoio necessária a todo ser humano.
Equilibrado de forma justa, o livro se divide entre um ambiente político e o romance LGBT, enriquecido com diálogos e piadas sagazes que trazem leveza à obra. Quem gosta de séries e filmes políticos vai se surpreender com a facilidade em visualizar as imagens à medida que os olhos avançam os capítulos. A leitura rápida cumpre todas as promessas e deixa o peso da saudade.
Vermelho, Branco e Sangue Azul foi alvo de expectativa em seu pré-lançamento e chegou para garantir nenhuma decepção. Casey tem a mente, o coração, as mãos e o humor certo para transmitir conhecimento e ajudar a diminuir a maldade do mundo com uma dose hilária de verdades e sentimentalismo.