Resenha | Suzy e as Águas-Vivas – Ali Benjamin

Nós, seres humanos, temos uma incrível capacidade de nos colocarmos como o centro do universo e talvez por isso, nós terminamos vivendo cada período de nossas vidas como se aquilo fosse eterno. Contudo, aos poucos vamos descobrindo que as coisas não são bem assim e basta um passar de ano na escola ou então uma mudança de trabalho, ou ainda uma crise familiar, para nos lembrarmos que estamos em constante mudança.

“Às vezes a gente quer com tanta força que as coisas mudem que não suporta nem sequer estar na mesma sala com as coisas do jeito que realmente são.”

O amadurecer humano é tratado, de forma direta ou indireta, em inúmeras obras literárias. Entretanto, a delicadeza com que a autora Ali Benjamin o aborda em seu livro Suzy e as Águas-Vivas, da editora Verus, nos serve como um importante convite.

Ali Benjamin

Na trama somos apresentados a Suzy, uma pré-adolescente, que não aceita que a melhor amiga tenha simplesmente morrido afogada e tenta encontrar uma explicação científica para o ocorrido. Para isso, graças a culpa que sente pela forma como terminou o último encontro entre elas, Suzy vai se refugiar na própria imaginação e encontrará ajuda na Sra. Turton e em outros personagens que estão enfrentando suas próprias batalhas.

“… quando acontece algo que ninguém consegue explicar, significa que chegamos aos limites do conhecimento humano. E é aí que a ciência é necessária. A ciência é o processo de encontrar explicações que ninguém mais pode lhe dar.”

Benjamin dividiu sua obra de duas formas diferentes. A primeira foi através de elementos de um trabalho científico – cada parte foi caracterizada de um jeito: Objetivo, Hipótese, Referencial, Variáveis, Procedimento, Resultados e Conclusão. Em cada uma dessas etapas, os acontecimentos no livro foram selecionados para que compusessem ao seu final, uma grande pesquisa cientifica, o que tornou o livro bastante interessante. A outra forma de divisão foi através do tempo. No presente, Suzy vai nos contando sobre sua pesquisa para desvendar a morte de Franny e com todas as outras coisas que ela precisa lidar; e o passado, onde é relatado momentos especiais que as duas viveram juntas até o fatídico último encontro.

Apesar de ser um livro com bastante potencial, a leitura de Suzy e as Águas-Vivas não me prendeu. Para mim, as partes interessantes do livro ficam por conta das curiosidades cientificas que a nossa protagonista nos apresenta, em especial, sobre as águas-vivas – aqui cabe o destaque do acerto da escritora, em trazer elementos reais para a história. Também merece destaque a sensibilidade com que Benjamin retratou a questão do luto, principalmente numa etapa da vida em que a gente ainda não consegue lidar bem com nossos sentimentos – o fim da infância para o início da adolescência. De negativo, acredito que a retrospectiva da amizade existente entre Suzy e Franny poderia ser melhor elaborada, afinal em nenhum momento me senti tocado e não consegui criar uma identificação e nem me simpatizar com a Franny. Também gostaria que o Justin tivesse tido mais espaço no livro, seria um importante personagem para se aprofundar em temas como o Bullying, o Déficit de Atenção, entre outros.. que foram apenas pincelados no livro.

Suzy e as Águas-Vivas é um livro que merece ser lido, afinal ele traz temas relevantes e que precisam ser discutidos. Além disso, é uma obra que possui uma escrita curiosa e tem potencial para despertar nos jovens leitores o interesse pela pesquisa científica. E também, a Ali Benjamin consegue retratar temas difíceis, como a questão do luto, de uma forma muito delicada.

“O silêncio pode dizer mais que o barulho, da mesma maneira que a ausência de uma pessoa pode ocupar ainda mais espaço do que sua presença ocupava.”

Curiosidades:

De acordo com o THR, a obra ganhará uma adaptação em breve para os cinemas, tendo como protagonista a queridíssima Millie Bobby Brown (da série Stranger Things), direção de Wanuri Kahiu  e com roteiro da estreante Molly Smith Metzler.

Millie Bobby Brown

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