Resenha | Star Wars – Legado de Sangue

Um dos períodos mais misteriosos do novo cânone de Star Wars são os 30 anos entre O Retorno de Jedi e O Despertar da Força. Apesar de já existirem algumas obras ambientadas neste período, pouco se sabe sobre a formação do conflito visto na nova trilogia da saga. E, apesar de trazer informações relevantes, a Trilogia Aftermath não se propõe a explicar tudo que ocorre neste perigo. Agora, graças a Star Wars – Legado de Sangue, já podemos ter alguma noção sobre o desenrolar desta nova guerra galática.

Escrito por Claudia Gray, responsável pelo aclamado Star Wars: Estrelas Perdidas, e publicado no Brasil pela Editora AlephLegado de Sangue acaba por ser o livro mais importante para aqueles que tem curiosidade sobre o início do conflito entre a Resistência e a Primeira Ordem.

Protagonizado pela Princesa Leia e ambientado 6 anos antes de O Despertar da Força, o livro nos apresenta à Nova República em pleno funcionamento e já passando por sérias crises. Por questões ideológicas no Senado, este acaba sendo dividido em duas facções: os Centristas, que clamam por um líder superior que possa exercer uma autoridade mais enfática e os Populistas, que acreditam que o poder deve ser dividido e que as ações devam ser tomadas em consenso.

É neste clima conflituoso que a história do livro se desenrola. Quando um emissário de Ryloth pede ao senado que investigue ações criminosas em seu planeta, Leia Organa, que há muito se encontra decepcionada com a inação do senado, resolve agir e acaba por desvendar uma trama muito maior do que qualquer um poderia imaginar.

Ambientado no cenário político, Legado de Sangue traz uma trama extremamente intrigante. Além do mistério que vai sendo desvendado ao longo da história, as tramas políticas são absolutamente viciantes. Em termos gerais, pode-se dizer que o livro é o House of Cards de Star Wars, obviamente sem deixar de lado o lado aventuresco que consagrou a saga.

Focando apenas em Leia, o livro se permite explorar muito mais a personagem e eventos que marcantes da franquia sob uma ótica muito mais intimista. A descoberta de sua real paternidade, por exemplo, é tratada de maneira sublime por Gray, de forma nunca vista nos filmes.

O fato de Leia ser filha de Darth Vader é um dos pontos mais bem explorados no livro. Enquanto os filmes abordam o assunto de maneira quase superficial e, por questões de ritmo, sem o devido peso, Legado de Sangue aborda a questão dando a sua devida importância e sensação de consequência. Ser filho de um dos homens mais odiados da galáxia é algo que abalou Leia muito mais do que imaginávamos, o que faz total sentido.

São nestes pontos que Legado de Sangue consegue se tornar o melhor livro de Star Wars do novo cânone. Além de trazer curiosidades sobre este misterioso espaço de 30 anos, como o treinamento de Ben com Luke Skywalker, a carreira de Han Solo após o final do Império e o surgimento da Primeira Ordem, o livro consegue nos reapresentar a momentos icônicos da saga sob uma ótica muito mais intimista e pessoal. Revisitar momentos emblemáticos, lembrados pela Princesa Leia, traz uma nova aura sobre diversos momentos já vistos.

Como visto em O Despertar da Força, Hosnian Prime, sede da Nova República, foi destruída pela Base Starkiller. Entretanto, à época, pouco se sabia sobre o lugar e o que este representava para o universo da franquia. Agora, o livro apresenta de maneira muito mais clara e contundente a importância do local para a galáxia, o que justifica ainda mais a virada no conflito apresentada em Os Últimos Jedi. O pouco que a nova trilogia aborda em seus filmes sobre cenário político, acaba sendo compensada no livro.

A trilogia original de Star Wars, sempre teve em Luke, Leia e Han a sua base. Deste modo, um livro focado na Princesa Leia não traz em momento nenhum a sensação de um produto derivado criado apenas para vender, o que em alguns momentos parece ocorrer na Trilogia Aftermath. Legado de Sangue tem o DNA Star Wars em seu cerne e é uma história que se justifica a cada parágrafo.

Obviamente, a Disney ainda segue bem restritiva sobre o que é permitido aos escritores explorarem em seus livros. Portanto, poucos detalhes “bombásticos” serão apresentados ao leitor, alguns vilões acabam por serem apresentados de maneira superficial e o mistério em torno deles acaba por não ter o embasamento que poderiam para tornar a trama ainda mais coesa. Contudo, dada a qualidade da história, o carisma dos personagens e a tensão da trama, o produto final acaba sofrendo pouco.

É interessante notar como a parte política é muito bem abordada no livro. De certo modo, o cenário chega a lembrar o cenário brasileiro, que segue em constante conflito onde tudo se resume a dois lados que querem extinguir um ao outro, além de contar com aqueles saudosos por um período que nunca viveu.

Como já dito, Legado de Sangue é o melhor livro do novo cânone de Star Wars publicado até aqui. Mas não só isso, é um dos poucos com uma história de fato relevante e que acrescenta muito ao universo apresentado nos filmes. O longa não apresenta uma história fechada, mas sim um excelente prelúdio para a nova trilogia que acompanhamos no cinema.

Claudia Gray capta de maneira muito competente o espírito íntegro, forte e inspirador que Carrie Fisher deu à personagem. Em quase todos os diálogos e expressões é possível imaginar a atriz interpretando os momentos. Leia Organa segue muito bem representada como a guerreira que sempre foi.

A Força é forte neste livro!

Nota:

Dados do livro:

Nome: Star Wars – Legado de Sangue

Autora: Claudia Gray

Editora: Aleph

Páginas: 360

O livro pode ser adquirido no Amazon clicando aqui.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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