Resenha | Pessoas Normais – Sally Rooney

Esse é um romance que, para os fãs de finais felizes ou concretos, pode ser decepcionante. Mas isso não anula o fato de Pessoas Normais ter capacidade para se tornar um livro favorito de muitos leitores.

Publicado no Brasil pela Companhia das Letras, a trama escrita pela irlandesa Sally Rooney acompanha um casal de adolescentes desde o ensino médio até se tornarem adultos, e como cada palavra e escolha de suas vidas impactou o processo de crescimento do outro.

Sally Rooney

Marianne é filha de uma família rica. Connell é filho da empregada deles. Na escola, são dois estranhos. Nos poucos instantes que se encontram na casa, conexões são criadas. Eles combinam de diversas formas, mas um deles está determinado a esconder o relacionamento.

O desejo por privacidade de Marianne a torna uma pessoa solitária e, para os outros, estranha. Ela é vítima de provocações pelos colegas, embora tenha personalidade forte para se defender. Connell faz parte do time de futebol e também do grupo mais popular, apesar de desgostar de certas atitudes dos amigos e acabar se tornando misterioso.

Depois de um rompimento doloroso, os jovens se encontram novamente na faculdade, mas nenhum é quem costumava ser, quase como se trocassem de posição, adquirindo novas versões de si. A partir daí, o livro retrata encontros e desencontros durante vários anos em saltos de tempo.

À princípio, a escrita de Rooney pode afastar, isso porque não há separação de diálogos e descrições, sendo tudo parte do mesmo parágrafo. A ideia, inicialmente, parece pura ousadia da autora. Porém, ao ver como as conversas – ou a falta delas – entre Marianne e Connell causam confusão, o método do texto faz total sentido e, mais cedo do que esperamos, estamos acostumados.

Essa não é uma história recheada de reviravoltas para fazer perder o fôlego. O título faz jus a ele: são pessoas normais, passando por conflitos, escolhas, criando ideias e se arriscando, enquanto buscam um ao outro devido ao amor recíproco. Vai abordar a questão da depressão, suicídio e de relacionamento abusivo, seja dentro de casa ou com parceiros.

É íntimo, pessoal, coloca o leitor dentro da cabeça das duas personagens , fazendo entender suas ações. Por outro lado, é angustiante observar como a escolha de palavras, do tom ou do silêncio vai influenciar na interpretação do outro. Oportunidades, inseguranças reais, medos plausíveis e erros comuns vivem tentanto separá-los, e assim como eles, estamos torcendo para o reencontro.

Marianne e Connell são profundos, talvez os mais construídos e reais que conheci nos últimos livros. Em determinado momento, não me vi esperando que nada acontecesse. Queria apenas conhecê-los mais, andar lado a lado com suas possibilidades e torcer para que, um dia, estivessem tão bem consigo mesmo que compartilhar a vida juntos se tornaria um bônus.

No entanto, Rooney faz brincadeira com nosso coração, lembrando a todo instante a dureza da vida real, mesmo quando se tem alguém incrível ao lado.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.