Resenha | Os Garotos Corvos – Maggie Stiefvater

Primeiro fato sobre o livro a seguir: a sinopse não chega nem perto de quão bom ele é. Segundo fato: isso o torna positivamente surpreendente. Terceiro fato: intitulada como “A Contadora de Histórias”, Maggie Stiefvater é uma obra prima escrevendo obras primas contemporâneas.

Maggie Stiefvater

Os Garotos Corvos, primeiro livro da série homônima, foi trazido ao Brasil pela editora Verus e possui aquele tipo de trama com plot twist de tirar o fôlego. Infelizmente, a sinopse dá a entender que é uma fantasia YA (Young Adult) sobre uma garota cujo destino é matar seu primeiro amor.

De fato, é uma verdade, mas nem de longe a mais importante. Blue vem de uma família de médiuns, mas não herdou nenhuma das habilidades aparentes, exceto ser capaz de intensificar a energia alheia. Toda véspera de São Marcos, acompanha a mãe até a igreja abandonada para ver os espíritos daqueles que morrerão nos próximos doze meses. Nesse ano, ao acompanhar a tia, Blue vê o seu primeiro – e só há duas razões para isso.

O espírito é de um dos garotos da escola Aglionby (instituição rigorosa conhecida por formar herdeiros de heranças gigantescas e ter como emblema o corvo), especificamente um dos membros do inseparável grupo, formado por Gansey, Ronan, Adam e Noah. Blue os considera problema e, por isso, tem apenas uma regra: não se relacionar. Mas o destino de todos se entrelaça a partir da lenda sobre um antigo rei, perdido nas linhas ley, a espera de alguém para despertá-lo.

O primeiro capítulo, possivelmente, tem capacidade de prendê-lo por toda a série – um total de quatro livros. Instigante e misterioso, sob o olhar de uma garota cativante, tem tudo para conquistar fãs de fantasia e ficção científica. Porque, hora sim, hora não, nos perguntamos em qual gênero o livro se encaixa, fazendo a leitura fluir em decorrência da curiosidade.

Apesar de instigar, as primeiras páginas são carregadas de informações sobre muitos personagens, intercalando pontos de vista que só aumentam os detalhes. Mas, quando parecer que está lendo sem nenhum filtro, logo tudo começa a fazer sentido. Isso se deve ao de a escrita de Stiefvater ser florida, carregada de metáforas refrescantes, e forçando o leitor a entrar num ritmo de leitura mais calmo, para que não perca nenhum detalhe.

Muitos nomes são apresentados desde o início, porém, a autora soube trabalhá-los especificamente sem cansar a trama. A carga emocional e histórica de cada um deles, eventualmente, será a razão para tal escolha ou acontecimento. Independentes, é fácil descobrir por trás de qual olhar estamos caminhando na história, tamanha particularidade.

A trama em si é inteligente e coerente, com informações introdutórias e segredos a serem revelados gradativamente. Os mistérios arrepiam, as descobertas tiram o ar. Cada plot é colocado para arrancar do leitor as melhores sensações. O ritmo une calmaria e fervor, ao passo que relacionamentos são construídos com realismo, cada descrição criando a imagem exata na mente.

Stiefvater é singular e plural ao mesmo tempo. A fama recebida pode ser explicada através de Os Garotos Corvos, embora tenha outras histórias suas correndo por aí. Tornou-se um dos meus livros favoritados e mal posso esperar para ler todos os livros da autora.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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