Resenha | O Perfume da Folha de Chá – Dinah Jefferies

De fato, o livro mais detalhado já lido por mim. E isso é um elogio.

O Perfume da Folha de Chá, escrito pela inglesa Dinah Jefferies (e inspirado pelas histórias de sua sogra), foi best-seller número 1 na Inglaterra. Cheio de emoção, referências histórias e detalhes construtivos, ser um destaque no mundo literário é consequência.

Dinah Jefferies

A segunda obra de Jefferies é um romance New Adult, conta a história de Gwendolyn Hopper, uma inglesa recém-casada que embarca de navio para encontrar o marido em seu mais novo lar, no Ceilão – atualmente conhecido como Sri Lanka, Índia. Só a localização já me deixou animada, a oportunidade de aprender sobre outra cultura, outros extremos. Porém, é muito mais que isso. Embora a autora nos dê o esperado sobre ambientação, religião e cultura, também acrescenta um tom de mistério atraente, oferecendo bandejas de degustação para que possamos saborear cada resposta, cada verdade.

Para a jovem Gwen, o Ceilão é outro mundo. Diferente do que conhecia, a começar pelos nativos, homens e mulheres de pele escura. Seu marido, Laurence, é dono de fazendas e produtor de chá, o negócio herdado da família. Mais velho, charmoso e inteligente, explica toda sua riqueza e ascensão pessoal. Gwen considera as pessoas do Ceilão frias e distantes, contudo, à medida que os capítulos avançam, leitor e personagem percebem que isso é um problema muito mais antigo e incrustado, envolvendo a imponência inglesa e o preconceito racial.

Situado nos anos 20, o livro acompanha a vida de uma mulher que, embora tenha suas limitações, possui pensamentos muito além do seu tempo. Gwen não vê problema na pele escura como outros, e enfrenta algumas consequências por tentar trazer mais justiça ao povo indiano. Laurence é, como descrito por ela, um marido perfeito. Honroso e sensato, é bondoso tanto com ela, quanto com o povo da região, procurando oferecer escolas e assistência médica. Como esposa, ela aproveita os ideais do marido para trazer melhoria aos empregados da família e moradores da região; isso não é algo agradável na visão de outros ingleses, se tornando um problema frequente durante todo o livro.

Somos apresentados aos povos nativos, cingaleses e tâmis, como se vestiam e agiam, também como lidavam com a presença forte dos ingleses. Aqui, cada personagem tem uma parcela importante para que tudo corra dentro dos trilhos; foram bem trabalhados e introduzidos, soando reais e reconhecíveis, únicos e autênticos. E falando em autenticidade, cada parte desse corpo literário possui sua singularidade para torna-lo tão excepcional. Acredito que a pesquisa feita pela autora, em livros e visitas físicas, foi determinante para a veracidade das situações na época (pontua assuntos como a publicidade, eventos como a 1ª Guerra Mundial e a Grande Depressão, e, claro, conflitos ocorridos no próprio Ceilão).

A insegurança de Gwen por ser a segunda esposa de Laurence sempre acaba criando pequenos conflitos envolvendo o passado do marido: como era Caroline, sua primeira esposa? Sua amiga, Christina, é somente uma amiga? Por que sua irmã, Verity, é tão apegada a você?

As questões mais densas acontecem quando a personagem engravida, porém, um evento anterior é o pontapé. Após uma noite de bebedeira que a fez ir ao quarto com um velho conhecido, Gwen não se lembra do que aconteceu. Ao dar à luz a duas crianças, teme que uma delas não seja do seu marido, e se pergunta da possibilidade de ter gêmeos não idênticos de pais diferentes. Atualmente, sabemos ser possível. Mas nos anos 20, muitas pessoas não detinham dessa informação, e isso faz com que Gwen tome uma enorme decisão que acarretará em problemas físicos e psicológicos para o resto de sua vida.

Apesar de claramente forte, abrir mão de um filho é seu calcanhar de Aquiles. Agora, como outros, ela também carrega um segredo; grande e arrebatador, capaz de transformá-la em alguém perdido e ainda mais inseguro, menos confiante e sempre temerosa. Alcoolismo, depressão, conflitos familiares e regionais constroem uma rede envolta em mentiras, mistério, medo e crenças. Seja a crença em uma entidade, em si mesmo ou na vida.

O Perfume da Folha de Chá é uma história sobre coragem, amor, tentativas, erros e culpa, mas também sobre acreditar que o amanhã será diferente.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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