Resenha | Nuvens de Ketchup – Annabel Pitcher

Se você nunca ouviu o termo sick-lit, ele é usado para categorizar aquelas obras que abordam temas pesados, como depressão, suicídio, mortes, entre outros, mas tratam com maior cuidado e atenção porque tais títulos vão falar, principalmente, com o público jovem adulto. As Vantagens de Ser Invisível é um bom exemplo, e caso nunca o tenha lido, eu aposto que já viu ou ouviu falar do filme.

Nuvens de Ketchup é esse tipo de livro. Desde que foi lançado no Brasil em 2015 pela editora Rocco, frequentemente se encontra um comentário. Mesmo que o hype tenha diminuído, ainda é possível mencioná-lo em diversas discussões. Escrito por Annabel Pitcher, a história acontece a partir do momento que Zoe descobre que pode enviar cartas para prisioneiros no corredor da morte e, a partir daí, a garota vê uma oportunidade de confessar seu próprio pecado.

Annabel Pitcher

Todo o livro é contado através de cartas, da narrativa entre passado e presente de Zoe. Sabemos que alguém morreu, e por essa tragédia a adolescente se sente culpada. Diferente do homem que foi julgado publicamente pelos crimes, Zoe entende que precisará guardar para sempre o segredo. Por isso, confia que as cartas serão a forma de desabafar pela única vez a própria culpa.

Zoe encontrou-se dentro de um triângulo amoroso onde nem todas as partes sabiam o que estava acontecendo. A cada pequena mentira que contava, na tentativa de adiar o inevitável, ela se via magoando os outros e a si própria. Os dois garotos envolvidos tem um elo mais forte do que gostaria; justamente por isso, o desenrolar da tragédia e do futuro são tão pesados e minunciosos.

O segredo acaba amadurecendo os pensamentos da garota acerca do mundo, embora nem perceba o valor de suas percepções sobre ética e moral. Enquanto apresenta ao destinatário seu romance conturbado, também conta sobre sua família, as duas irmãs caçulas e os pais, que estão passando por uma crise no casamento.

Em pouquíssimas páginas, acredito que cada espaço tenha sido usado corretamente. Pouca coisa, de fato, acontece no espaço de tempo em que somos introduzidos à vida desse pequeno grupo. No entanto, é importante sermos ambientados nos pequenos detalhes para que as reviravoltas nos choquem como se estivéssemos na pele da personagem.

Nuvens de Ketchup trata sobre o desenvolvimento de novos adultos, dos primeiros erros sobre assuntos que achamos conhecer fielmente e, no fim, nos mostra o quão pouco sabemos das coisas. Nos direciona para reflexões sobre o bem e o mal e se existe um meio termo entre isso. É tocante e, apesar de tudo, carinhoso. Como um bom sick-lit deve ser, mesmo diante das perdas, a conclusão reforça a ideia de que nunca estamos sozinhos e há sempre alguém pronto para ouvir, para ajudar, para mostrar a saída necessária.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.