Resenha | Maria Bonita – Adriana Negreiros
Neste livro da jornalista Adriana Negreiros, podemos acompanhar a desmistificação do Cangaço através de relatos reais da violência mental e física que o grupo realizava. Apesar de levar o nome da importantíssima figura Maria Bonita, que na verdade usava a alcunha Maria de Déa, a obra se trata de uma investigação e relato das atrocidades cometidas contra as mulheres daquela época.
Com passagens extremamente descritivas, a autora aborda relatos reais de casos de estupro que acabaram sendo minimizados ou até mesmo desacreditados na época. Curiosamente, é uma prática que acontece até hoje, revelando as grandes doses de machismo que nossa sociedade ainda possui.
Como é relatado no livro, os estupros e sequestros eram uma atividade frequente do bando de Lampião, que não poupavam nem mesmo crianças. Para piorar a situação, os homens do bando ainda acreditavam que as mulheres queriam ser estupradas por conta de suas vestimentas ou coisas do tipo. A escassez de relatos graças a ajuda de homens poderosos da época acabou colaborando para a representação mitológica do bando e principalmente da figura de Lampião, que chegou até a ser considerado uma espécie de Robin Hood da época.
Apesar de ser uma leitura extremamente pesada, a obra Maria Bonita é igualmente recompensadora. Destruindo mitos perpetuados por uma sociedade misógina, a leitura se debruça sobre um momento importante de nossa história e escancara a brutalidade de um bando que chegou até a ser entitulado de heróis por alguns.