Resenha | Malvados

Qual o melhor ponto de vista para se observar o mundo nos nossos tempos? O otimismo ou o pessimismo? Segundo André Dahmer, autor de Malvados, a única possibilidade é o niilismo.

Malvados, lançado esse ano pelo selo Quadrinhos na Cia., traz uma enxurrada de críticas e retratos do cotidiano que não queremos ou conseguimos enxergar.

Através das 368 tirinhas de desenhos exageradamente simples, o autor nos dá espelhos convexos, que aumentam nossa realidade nos mostrando aquilo que procuramos não olhar ou simplesmente fingimos não ver.

Contendo uma tirinha por página, quase sempre com apenas três quadrinhos cada, nunca mais do que isso, o autor consegue acertar nas doses letais de humor ácido. AO posologia, no entanto, pode ficar a critério do doente leitor. Dado o número total de tiras, o mais recomendado para aqueles que tem estômago sensível seria apenas uma ao dia (ficando a critério do leitor se pela manhã para lembrar-se desde já da tristeza que o aguarda lá fora, ou pela noite, após já ter sido devidamente massacrado pela existência). Ou ainda, pode-se optar pela overdose (aqui, totalmente liberada e até indicada) e ser consumido todo de uma vez, como fez este que vos escreve.

Dificilmente (e infelizmente), o leitor terminará o livro sem ter se identificado com algumas das tirinhas (ou com dezenas delas).

No repertório, temos redes sociais, casamento, política, sexo, drogas, arte, Deus, depressão e meio ambiente. Muitas vezes temos alguns crossovers entre esses assuntos. sentir

Por várias vezes, o leitor pode sentir que o autor exagerou, pegou pesado demais e que não é bem assim. Mas quase sempre a sensação que fica é que ele tem razão, infelizmente. Da mesma forma, por várias vezes você se pegará pensando “nossa, que horror!”, contudo, na maior parte do tempo estará dando risadas (talvez gargalhadas). Fica a seu critério defini-las como sendo de humor mesmo ou desespero. O famoso “tô rindo mas é de nervoso”.

Se fosse citar uma coisa que poderia ser melhor nessa coletânea de crônicas em tirinhas, seria o formato. Apesar de entender que o objetivo é deixar no formato horizontal, mais próximo do que as tirinhas originais se apresentam, pode ser um pouco desconfortável para ler, sem muito apoio, especialmente dada a quantidade de páginas.

Em resumo, Malvados se encaixa em um lugar muito específico na prateleira de recomendações: ao mesmo tempo em que sua mensagem se faz essencial nos tempos em que vivemos e que encontrará muitos letreiros que se identificam com ela, também pode ser amargo/ácido demais para aqueles que já estão surrados demais pela vida. E assim, pode envenenar ainda mais uma alma já doente. Não é um livro para qualquer pessoa.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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