Resenha | Ladrões de Sonhos – Maggie Stiefvater
O receio inicial de todo leitor ao embarcar numa saga literária é referente as sequências: os próximos livros serão tão bons quanto o primeiro? Ou, caso esse seja mediano, os outros compensarão as faltas?
Maggie Stiefvater é o nome por trás da Saga dos Corvos, publicada no Brasil pela Verus Editora. O primeiro livro, Os Garotos Gorvos, nos apresentou Blue e a maldição do primeiro beijo, e Gansey, com seu grupo inseparável de amigos e a busca por um antigo rei perdido. Se você tem problema com spoiler, sugiro ler a resenha anterior aqui e iniciar a leitura o quanto antes – quase certeza de que não irá se arrepender.
Descobrimos em Os Garotos Corvos que a história é mais complexa e rica do que a premissa sugere. Encontramos personagens distintos entre si e bem construídos, além de cenários e relacionamentos cuidadosamente abordados. A escrita de Stiefvater permanece emotiva, profunda e impecável, além do ritmo flúido. A atenção exigida do leitor ao avançar pelas páginas apenas garante que seja surpreendido a cada reviravolta.
A habilidade de Ronan em tirar coisas dos próprios sonhos e torná-las reais garantiu o anseio pelo segundo livro. Se anteriormente beirava entre a ficção científica e a fantasia, aqui fica claro o teor mágico. Ronan ganha mais destaque, e em seu passado percebemos como os garotos influenciam a busca pelo rei Glendower e o desejo concedido a quem encontrá-lo.
Doutro lado, após o recente sacrifício realizado por Adam, as consequências disso se unem as marcas deixadas pelo abuso do pai. Sob seu olhar, somos perseguidos pela sombra que o molda gradativamente, o orgulho ainda intrínseco o transformando em alguém pouco confiável.
Os dois dividem majoritariamente os pontos de vista, embora ainda tenhamos outros, como o perigoso recém-chegado. Esse, um antagonista que cumpre a promessa do suspense e da ansiedade, é o Homem Cinzento, enviado para buscar o objeto capaz de tornar sonhos em realidade. Nesse momento, o leitor possui a informação antes dos personagens, e o ritmo da história é guiado pelo desejo da descoberta geral.
É agradável ver como cada detalhe, desde a importância do carro para Gansey ou a mania de Ronan em mordiscar suas pulseiras, futuramente se torna essencial para o desenrolar dos mistérios. A essência dos garotos e das mulheres da Rua Fox é mantida, e os ambientes revisitados se mostram familiares na memória.
Senti falta da presença de Blue, embora suas aparições tenham vindo com uma carga de humor natural. Todas as mulheres de sua família, na verdade, garantem o equilíbrio da dinâmica, um alívio na constante tensão. Ladrões de Sonhos veio para confirmar que existe, sim, sequências boas e à altura do esperado. E, mais uma vez, Stiefvater finaliza com um gancho instigante.