Resenha | Eva – Anna Carey

Gostaria de pensar que sete anos atrás, o livro Eva, escrito por Anna Carey, teria me agradado ao menos um pouco, mas nem essa ideia me conforta. Publicado em 2013 através da Galera Record, a premissa distópica nos leva a um mundo destruído pela praga. Eva e outras centenas de meninas só conhecem os muros da Escola e os ensinamentos de suas tutoras, almejando o dia da formatura onde poderão finalmente viver a New America. Mas, sem nenhuma novidade, nada é o que parece ser.

Anna Carey

Protegida, com todos os direitos que um ser humano deve ter, inclusive educação e saúde, Eva não poderia imaginar para o que, de fato, está sendo criada. Na última década foi ensinada a temer o mundo além dos muros da Escola, principalmente os homens desgarrados vivendo na chamada “selva”. O único desejo da garota é chegar à Cidade de Areia e se tornar artista. Porém, perto da formatura, descobre que todas as formadas são confinadas e se tornam reprodutoras – do lado de fora, chamadas de “parideiras”.

Se “O Conto da Aia” vier a mente, é porque certamente foi inspiração na construção da história – inclusive, o livro inicia com um trecho da obra. Mas seria risório comparar ambas, quando o único foco de Carey é um romance jovem, com quase nenhuma razão para ser plausível e com nenhuma característica agradável.

Antes de citar todas as razões para “Eva” ter sido uma decepção, pontuo o único lado positivo: a escrita é fluída, segurando o leitor pela facilidade de passar as páginas. Já iniciando os negativos, Carey peca na tentativa de trazer diversidade. Usa termos pejorativos e sempre parece ter “medo” de descrever personagens negros.

O ano de publicação estava no auge do gênero ficção científica, com “Jogos Vorazes” liderando as distopias YA. Autores se arriscavam no tema, quanto mais assombroso fosse o universo, melhor se sairiam caso criassem boas figuras para guiar. Carey não tem nenhum dos dois a seu favor: primeiro, não há explicação mínima sobre a praga que destruiu a sociedade; segundo, nenhuma criatura aqui parece inclinada a aprender ou ensinar.

Após a fuga, Eva está diante do desconhecido e da realidade que ameaça ir contra suas crenças. No início, é interessante acompanhar os dilemas mentais, mas à medida que os pequenos conflitos surgem, a garota não usa nenhum deles para amadurecer. Arden, outra fugitiva, tem comportamento e ideias mais avançadas, mas limitar a história ao ponto de vista de Eva, logo a tornou tão fraca e sem fundamento como qualquer outro.

Então, surge o romance com um garoto fugitivo. Por mais gentil que ele aparente ser, a mente manipulada de Eva deveria querer afastá-lo, mas todos os passos depois desse encontro são tomados visando o grande amor entre os dois.

“Eva” não falará de política ou se dará o trabalho de focar nos abusos e violência aqui implícitos. Tampouco dos desastres ambientais, do perigo trazido pela ambição do homem. É, unicamente, um romance contado pelo ponto de visto de uma garota desagradável, ambientado num mundo caótico para complicar sua vida romântica.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.