Resenha | Daqui Pra Baixo – Jason Reynolds

Hoje em dia, as editoras tem procurado propor aos leitores uma experiência de maior imersão de interação com os livros. Para isso, elas criaram os clubes de assinatura – nos quais, os assinantes são surpreendidos com um livro e brindes temáticos ligados a história (sobre o clube de livros relembre o nosso post).

O Intrínseco, clube que faço parte, é organizado pela editora Intrínseca. Na edição de número 009, o livro escolhido foi Daqui pra Baixo, do Jason Reynolds. Na caixa ainda veio como brindes uma revista sobre a obra, marcador exclusivo, cartão postal e uma série de palavras magnéticas para que cada um crie sua própria história.

Caixa 009 do Intrínsecos

Sem mais demora, vamos ao livro!! Na trama acompanhamos o jovem Will, que acabou de ter o irmão assassinato, e por isso resolve colocar em prática a terceira das regras que aprendeu na rua – se vingar; as outras duas são: não chorar e nunca dedurar ninguém. Nesse processo, durante a fração de um minuto que levará da descida do elevador até o acerto de contas com o assassino, Will terá encontros surpreendentes que farão com que ele faça descobertas sobre a vida e coloque em cheque tudo aquilo que ele acreditava ser imutável, inclusive os próprios planos.

Sirenes pra todo lado,
cada uivo cortando
o barulho da cidade.
Mas não os gritos.
Os gritos sempre são
mais altos que o resto.
Até que as sirenes.

Daqui pra Baixo foi uma grande surpresa. Primeiro pela forma em que ele foi escrito; ao optar por uma estrutura de versos, Reynolds nos entrega uma obra dinâmica e que em muitas vezes você lê/canta nas batidas de uma música de rap. Outro grande destaque da obra são os personagens. A forma que o autor escolheu para incluí-los na história foi muito inteligente e o momento oportuno onde cada um embarca no elevador, vai mexendo com os sentimentos do leitor, o que enriquece a leitura e faz com que a gente seja transportado para dentro da cabine e se veja participando in loco de todo o dialogo. Como se não bastasse tudo isso, a grande cereja do bolo fica para o final. Eu gosto de livros que me fazem refletir e graças a um encerramento interpretativo, Jason Reynolds, vai nos fazer falar de sua obra por muito tempo.

Daqui pra Baixo é um livro corajoso. Corajoso por se propor a falar de uma realidade que é próxima a grande maioria das periferias das grandes cidades. Corajoso também, por trazer a decisão que milhões de jovens mundo a fora precisam tomar diariamente, através de uma linguagem crua e direta. Mas, principalmente, corajoso e audacioso por propor o rompimento de um modelo/ciclo que está posto. É como se Reynolds dissesse “olhe para tudo o que você já perdeu, vai querer continuar nesse ciclo de derrotas? Ou está na hora de seguir regras novas e vencer?

O livro de Jason Reynolds é leitura obrigatória para todos, em especial para àqueles que lidam diretamente com a educação de jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social.

Sinopse:

Aos quinze anos, Will conhece intimamente a violência. Ela está no dia a dia do bairro, nos avisos para não voltar muito tarde, nos sussurros dos vizinhos sobre mais uma pessoa que foi morta. Sussurros que agora falam da família dele, de seu irmão mais velho, seu herói. “Daqui pra baixo” é a história de uma vingança contada pelo olhar do garoto cujo irmão foi baleado na rua onde ele mora. Um romance escrito em verso, que se passa em pouco mais de um minuto: o tempo que o elevador do prédio leva pra descer até o térreo, onde Will vai encontrar o assassino do irmão, vai apontar pela primeira vez uma arma na cara de alguém e vai atirar. São só 67 segundos, mas nas circunstâncias de Will isso é muito tempo. Ele rememora as regras do bairro, sob as quais foi criado. A número 1 é não chorar. A número 2, nunca dedurar ninguém. A terceira e mais importante, se fazem algo com você, você tem que se vingar. Quem as ensinou a Will foi Shawn, seu irmão, e agora ele foi morto. As regras são o que restou.
A cada andar, a cada parada do elevador, a porta que se abre e se fecha rebela um rosto diferente, todos do passado de Will. Nenhum o julga nem evoca moralismos, mas conforme eles surgem e vão ocupando a cabine, ocupam também os pensamentos e sentmentos de Will. Como exatamente elevai manejar aquela arma? Ele sabe com certeza absoluta quem foi o assassino do irmão? Ele não vai errar o tiro? Cada rosto tem uma história de vida e de morte. Will, em questão de segundos, vai definir a dele.
Jason Reynolds escreveu “Daqui pra baixo” originalmente em prosa, depois em verso, e a narrativa em staccato que resultou dessa experimentação faz a emoção – a confusão, a revolta, o medo – do garoto armado que sai para vingar o irmão crescer também no peito de quem lê. Um livro impossível de ignorar.

Curiosidade:

Até o momento Daqui pra Baixo só foi disponibilizado no Brasil para os assinantes do Intrínseco. Contudo a editora Intrínseca planeja o lançamento oficial nas diversas livrarias do país, no segundo semestre de 2019.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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