Resenha | Cat Person e Outros Contos – Kristen Roupenian

Na publicidade, usa-se o termo AIDA, que significa “Atenção, Interesse, Desejo e Atitude”. É a melhor forma de conquistar/convencer um cliente. Em “Cat Person e Outros Contos”, Kristen Roupenian fez exatamente isso.

Lançado na revista New Yorker em 2017, o conto “Cat Person” colocou a autora sob os holofotes. Hoje no Brasil, o conto faz parte da coletânea, publicada pela Companhia das Letras, junto com outros onze, todos eles tendo um ponto em comum: a retratação das relações contemporâneas.

Kristen Roupenian

Roupenian consegue introduzir passado, presente e futuro (se visarmos os desejos e anseios) em enredos que, na maioria, são tão enxutos. O que a fez ficar conhecida na publicação do primeiro conto foi, principalmente, a forma como dá profundidade e humaniza os personagens. Isso significa que vemos semelhanças nossas, neles, aumentando o desejo em acompanhar suas vidas. A atenção dela para com o que acontece ao seu redor resume os detalhes do que escreve.

Os contos são intercalados, ora em primeira pessoa, ora em terceira. Naqueles cuja visão é apenas uma, me senti mais impactada com a história. Isso porque eu me afeiçoei ao personagem de modo a ignorar qualquer informação vista de fora, o coloquei em patamares altos que, consequentemente, me manipularam. E ao terminar o conto, perceber como fui enganada e surpreendida me deixou pensativa (e preocupada) quanto a probabilidade imensa de isso acontecer em minha vida “real”.

Cat Person é um conto sobre relacionamento abusivo. No estado de mundo que estamos hoje, acompanhar a história de Margot e Robert é um tanto frustrante e ao mesmo tempo revelador. A autora mantém uma linha bastante parecida em todos os outros, a forma abusiva dos relacionamentos de hoje. Não somente o abuso de uma pessoa para com a outra, mas também o abuso que provocamos a nós mesmos, ao tentar nos colocar em situações das quais sabemos ser nosso limite e, mesmo assim, arriscar ultrapassá-los. Vários personagens se colocam nessa posição, alimentando o desejo do leitor em ler mais até que o fim nos revela (ou chega bem próximo) como essas pessoas lidarão com as consequências de algo que não viram se aproximar – ou escolheram não ver.

Os contos trazem temas sombrios, divertidos, surpreendentes e chocantes, envolvendo rancor, dor, felicidade, medo, covardia e coragem, sempre nos levando a uma montanha russa diferente, da qual nossos sentimentos sobem e descem em intervalos curtos e só o final para nos fazer voltar a respirar.

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