Resenha | Armada

Com o sucesso de Jogador Nº 1 nos cinemas, sua versão original em livro tem sido alavancada. Contudo, esta não é a única obra que está sendo beneficiada pelo filme. Armada, segundo livro escrito por Ernest Cline, tem se tornado objeto de curiosidade do público, especialmente por ter uma adaptação cinematográfica já encomendada pela Universal.

Assim, resolvemos falar um pouco sobre o livro e mostrar ao público o que esperar desta vindoura adaptação que também deve ter muitas referências aos anos 80.

Inspirado em obras existentes

Essencialmente, Armada apresenta o mesmo enredo de um famoso filme da década de 80, O Último Guerreiro das Estrelas. No filme, Alex Rogan é um jovem frustrado que quer sair da pequena cidade onde vive e fazer algo mais de sua vida. Contudo, as coisas mudam quando ele descobre que seu game preferido era na verdade um programa de recrutamento interestelar, buscando soldados para lutar uma guerra intergalática.

No livro, acompanhamos a história de Zack Lightman, um jovem que perdeu o pai muito cedo de maneira abrupta e nunca aprendeu a lidar com essa perda. Por conta disso, Zack vive consumindo conteúdo da cultura pop dos anos 80, pois sabia que seu pai a idolatrava. Prestes a se formar na escola, Zack está hesitante em decidir o seu futuro e passa a maior parte dos seus dias jogando Armada, um dos games mais populares de sua geração. Contudo, Zack descobre que seu jogo preferido era muito mais do que divertido, mas sim um programa de treinamento militar intergalático, a fim de preparar a população para um vindoura guerra.

Apesar das semelhanças, o livro traz um desenvolvimento maior para a trama e seu entorno. Inserindo elementos de conspiração e explorando de maneira mais profunda as nuances de uma descoberta deste tamanho, o livro acaba se desprendendo de sua maior inspiração, mas sem nunca perder o seu ar de “derivado”.

(Ender’s Game também é outro exemplo de história semelhante)

Referências gratuitas

Assim como Jogador Nº 1, Armada está repleto de referências à cultura pop dos anos 80. Entretanto, em diversos momentos estas parecem um tanto forçadas e expositivas. Já está claro que estas referências fazem parte do estilo de escrita de Cline, mas existem passagens onde ele deixa a referência, a explica e a reafirma, para se certificar de que o leitor a entenderá. Para aqueles que pegaram de primeira, o processo pode se tornar um pouco enfadonho.

Com o sucesso que foi o seu primeiro livro, fica difícil não se perguntar se esta não seria apenas uma tentativa de replicar o seu sucesso anterior.

Personagens rasos

Apesar de carismáticos, os personagens do livro são um tanto rasos e unidimensionais. Zack ganha a simpatia do leitor em poucos capítulos. Contudo, ao longa da trama o personagem falha em transmitir os sentimentos, de modo que independente dos traumas passados por Zack, fica difícil nos identificarmos com a situação presenciada.

O elenco de apoio também traz o mesmo problema. Apresentados de maneira rápida, Cline falha em explorar o potencial de muitos personagens que parecem bem interessantes. Obviamente, o livro é centrado em Zack, mas a ausência de um apoio melhor desenvolvido faz falta.

Tão simples quanto um game

Toda a trama em Armada, apesar de ter momentos interessantes, parece ter sido simplificada para caber em um livro. Deixando de explorar diversos elementos e personagens, Cline entrega uma trama corrida e pouco profunda.

Há momentos em que o ator abusa da repetição para reforçar a intensidade das coisas que acontecem, como se tentasse fazer o leitor entender (sem sentir) a dimensão dos acontecimentos. Ao longo do livro, perdi as contas de quantas vezes o personagem principal comenta que se passou apenas um dia, mas pareceu que foram eras.

O formato da guerra, no entanto, é bem interessante. As inspirações em games como Space Invaders são evidentes e devem tirar risos daqueles que experimentaram jogos neste estilo. São nestes momentos onde a escrita de Cline brilha.

Conclusão

Armada não é um livro ruim. Com um desenvolvimento pouco interessante e personagens rasos, o livro oferece momentos bem humorados, uma história divertida e referências que sempre agradam os fãs da cultura pop. Aqueles que estão atrás de uma leitura descompromissada e apenas divertida, não se sentirão decepcionados por Armada. No entanto, vale lembrar que Jogador Nº 1 traz uma experiência infinitamente superior no estilo, ainda que também tenha seus defeitos.

Seu formato apressado pode ser uma vantagem em sua adaptação para os cinemas, formato que parece que foi pensado enquanto Cline escrevia o livro. Dito isso, apesar de ser um livro mediano, Armada possui um grande potencial nos cinemas. (Desde que um remake ou continuação de O Último Guerreiro das Estrelas não dispute com ele)

Armada pode ser adquirido em promoção na Amazon.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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