Resenha | A Maldição do Vencedor – Marie Rutkoski
Eu sempre espero de livros históricos personagens femininas guerreiras, mas, nunca tinha pensado que soldados não precisam ir à guerra para serem úteis, eles podem estar no conforto de seus lares, planejando construir ou dar fim às batalhas.
A Maldição do Vencedor não vai conquistá-la com a sinopse, é quase prevísel demais. Também não vai conquistá-lo pelas primeiras cinquenta páginas, se eu e você formos parecidos. Mas, garanto, a maioria será enlaçada antes de considerar um arrependimento. Marie Rutkoski, autora dessa trilogia, traz uma ambientação única de um país escravizado, agora palco para o privilégio de seus colonizadores. No meio dessa bagunça injusta, está Kestrel, a filha do general, e Arin, cuja vontade de viver o forçou a submissão.
Os costumes do império valoriano insistem que homens e mulheres se alistem ao exército ou se casem. Filha do general, Krestel não não almeja nenhuma das alternativas, motivo para seu pai pressioná-la diariamente. Ela é conhecida por ser a filha do homem que conquistou o território Herran, mas seu pai enxerga nela uma de suas maiores habilidades: o lado estratégico para tudo, desde vencer um duelo a vencer uma guerra.
De outro lado, Arin, como escravo, passa de família a família, sendo leiloado como um objeto. Para alguns, sua postura é de rebeldia, para outros, de coragem. É se recusando a obedecer ordens que Kestrel o encontra durante um leilão, e, sem saber como, sua mão não apenas se ergue em interesse, mas as palavras lutam até o final para conquistá-lo.
A Maldição do Vencedor foi pensado por Rutkoski com base em guerras épicas, então a atmosfera da trama absorve de forma inteligente e descritiva todas as artimanhas necessárias para dois povos e seus respectivos exércitos se enfrentarem. Simultaneamente, o leitor é presenteado com detalhes culturais opostos, de modo que possa compará-los ou apenas discerni-los durante o capítulo.
No entanto, suponho que o motivo responsável pelo livro agradar tantos leitores ao redor do mundo seja a sensibilidade nas entrelinhas, a poesia por trás de cada palavra cuidadosamente pensada. Mesmo quando Kestrel e Arin estão lutando contra seus dilemas e confusos consigo mesmo, o leitor tem total clareza da situação, garantindo que se aproxime cada vez mais dos personagens mencionados.
As mais de quatrocentas páginas vão além do amor romântico, é amor pela sua raiz, história e passado, lealdade a própria honra e princípios, por tudo que ganhou ou perdeu ao longo da vida. Acima de tudo, é sobre enxergar a justiça mesmo depois de ter sido ensinado a ver o próximo como posse e as oportunidades como uma chance de derrubar seu adversário.
Fica óbvio o objetivo da autora quando questões estéticas são descritas apenas para que o leitor feche os olhos e possa imaginar cores e texturas, mas os destaques físicos são postos de lado, porque uma guerra acaba de começar. Coragem e lealdade serão mais importantes do que a cor dos olhos ou do cabelo – não que falte informação introdutória.
A Maldição do Vencedor nos desafia a subestimá-lo, mas a obra é um pavio curto que explode e continua queimando mesmo depois do fim.