O ódio aos Novos Guerreiros da Marvel

Nestes tempos divisivos e polarizados, é praticamente impossível unir todos, mas a Marvel Comics conseguiu.

Recentemente, foram revelados dois novos heróis: Snowflake e Safespace. Os personagens farão parte da série Novos Guerreiros de Luciano Vecchio e Daniel Kibblesmith.

O ‘problema’, segundo a internet, é que e a editora está promovendo o Snowflake como seu primeiro super-herói não binário, e Kibblesmith explicou a dupla da seguinte forma:

“Hiper conscientes da cultura e da ótica modernas, e veem seus super-heróis como uma meditação pós-irônica sobre o uso da violência para combater o bullying. É essa a ideia de que estes são termos lançados na Internet que eles não vêem como depreciativos. Eles tomam essas palavras e as usam como distintivos de honra.”

Essa última parte, precisa de uma explicação pra quem não está familiarizado com os tais termos citados. O codinome Snowflake vem da expressão “special snowflake” (floquinho de neve especial), que, em geral, é usada de forma depreciativa para se referir a pessoas, especialmente os mais jovens, que são vistos como se ofendem com qualquer coisa e que se “acham especiais, únicos, diferentões”.

Já Safespace é outra expressão em inglês com ideia similar, em geral usada para definir “espaços seguros”, onde as pessoas não são julgadas e podem opinar livremente.

Só que ambos os termos costumam ser utilizados de forma negativa por conservadores, e aqui no Brasil viraram sinônimos de (outro termo que acabou se tornando pejorativo) lacração.

Segundo o roteirista, a ideia é justamente essa: ressignificar esses termos como algo legal e poderoso ao invés de algo que remete ao ‘extrassensível’ e negativo. Tipo quando alguém nos dá um apelido supostamente ofensivo e acabamos por adotá-los, aceitá-lo e isso acaba tirando toda a graça de quem nos ofendia com ele (parecido com o que acontece hoje com o Babu do BBB).

Ou seja, a intenção da Marvel era séria, real. Contudo, com esses novos heróis, eles conseguiram unir todos no hate. Já eram esperadas as críticas do lado mais conservador, aqueles que usam o bordão ‘quem lacra não lucra‘ (ARGH!). O problema é que a estes, juntaram-se os ativistas LGBTQ, que também não acharam a execução da ideia boa e estão irritados.

Veja uma citação retirada do Twitter que resume como todos estão se sentindo: “Chamar seus primeiros super-heróis não binários de Snowflake e Safespace é a coisa mais insensível e sem tato que você pode fazer. Eles soam como o tipo de nome que você esperaria que um escritor que tentasse tirar sarro de pessoas não binárias daria a seus personagens“.

E como se não fossem suficientes estes dois personagens-problema, o restante da nova equipe dos Novos Guerreiros também não está muito bem avaliada…

Eles se juntarão a Screentime, “um super adolescente obcecado por memes, cujo cérebro se conectou à internet depois de se expor ao gás experimental da internet de seu avô”; B-Negative, um vampiro “(também) obcecado por música e que tem a atitude de um ‘clássico’ das últimas décadas, como os anos 90 e os anos 2000; e Trailblazer, que tem uma “mochila mágica”.

Todos estes personagens tem alguma questão em sua personalidade, corpos, roupas, e até mesmo (ou especialmente?) em seus nomes. Screentime se refere ao tempo de tela a que adolescentes e jovens em geral se expõem às telas de computador e celular. B-Negative, que é uma espécie de Morbius ‘gótico suave’ tem um trocadilho com ‘seja negativo’ em inglês. E Trailblazer (não há um trocadilho ‘engraçadinho’, apenas a referência a ser uma exploradora, de mochila e tal) não se encaixa nos padrões de beleza impostos.

Entretanto, apesar de já estar sendo tratada como um epic fail na internet, a HQ acabou tirando proveito de tudo isso. O assunto tem sido um dos mais comentados por fãs não apenas da Marvel, mas por todos fãs de quadrinhos, durante o último mês, dando um destaque incomum para um título que possivelmente seria pouco notado pelo grande público.

E considerando-se que toda essa repercussão surgiu apenas com a divulgação dos novos heróis presentes no título, mesmo antes da HQ ser lançada. E como dizem, toda propaganda é boa, até as negativas.

Resta apenas esperar e torcer para que a Marvel consiga manter sua ideia original com os personagens e atinja seu objetivo de ressignificar os termos e empoderar e representar aqueles que deveria e pretendia com a empreitada. E que não ceda às pressões e saiba lidar com a repercussão negativa da melhor forma possível: trazendo a seu favor, assim como os personagens em questão.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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