Especial Dia das Crianças | Livros que marcaram nossa infância
Felizmente, cada vez mais vemos jovens leitores empolgados com seus livros em transportes públicos e em outras áreas públicas. Cada vez mais temos um público mais jovem frequentando eventos voltados a livros e leitura em geral, como a Bienal do Livro, por exemplo. É bem verdade que o fato de que mais jovens estão lendo não significa que estejam lendo algo de qualidade, afinal, dos 10 livro mais vendidos pela Saraiva na Bienal do Livro do Rio em 2017, 8 são de youtubers (e os outros dois de atores de TV).
Ainda assim, é louvável que mais pessoas de diferentes faixas etárias estejam se interessando por ler. Há não muito tempo era difícil encontrar pessoas com menos de 20 anos que gostassem muito de ler e já tivessem sua própria coleção de livros ou pelo menos uma lista de livros favoritos.
Essa panorama vem mudando gradativamente e hoje vivemos em uma geração de maioria leitora. A tendência, sob um ponto de vista otimista, é que isso aumente a ponto de que em alguns anos todos possam ter sua própria estante recheada de livros ou que, no mínimo, possam contar sua experiência com livros ou como eles possam ter mudado suas vidas, ampliado seus horizontes.
E isso começa já na alfabetização. O quanto antes o gosto por ler surgir, mais fácil e prazeroso será mantê-lo. Dessa forma, duas entidades são diretamente responsáveis pela inserção das crianças no mundo dos livros: a família e a escola.
Normalmente a família é responsável pela leitura por prazer, aquela que será responsável pelo nosso gosto pessoal. E a escola, em geral, é responsável pela apresentação aos clássicos, à leitura essencial, o que muitas vezes acaba se tornando tedioso e pode matar todo gosto pela prática ali mesmo, dependendo da abordagem.
Cabe aos especialistas da área encontrarem a melhor forma de balancear isso, não vamos entrar nesse mérito. O que cabe aqui, é que muitos de nós tivemos a sorte de sermos apresentados pela escola a livros tão interessantes quanto aqueles que a família ou amigos apresentaram. Isso tem grande influência em nosso gosto por cultura pop atualmente.
Da mesma que foi feito com os filmes que marcaram nossa infância, fizemos uma breve pesquisa com nossos redatores e amigos a respeito dos livros que são importantes na formação do nosso caráter geek. Vamos a ela:
Harry Potter
Somos uma geração que cresceu acompanhando as aventuras de Harry Potter e seus amigos. Tendo o primeiro livro lançado em 1997, os livros acabaram não atingido por aqui o público que já estava na faixa dos 15 anos pra cima, como atingiu a mesma faixa ao redor do mundo. Porém, com o lançamento da primeira adaptação para o cinema em 2001, a procura pelos livros aumentou por parte de todo público, inclusive os adultos.
Entretanto, aqueles que ainda estavam na idade de pré-adolescência e até um pouco mais novos, por volta de 8 ou 9 anos, gostaram dos livros desde o início. Assim, foi uma experiência indescritível acompanhar o crescimento dos bruxinhos com idade semelhante a dos leitores. Era quase como se você pudesse se imaginar como um dos alunos de Hogwarts (quanto não imaginam até hoje?).
Mesmo tendo seu último livro da saga principal lançado em 2007, bem como todos os filmes baseados nesses livros terminados em 2011, ainda hoje milhares de crianças e pré-adolescentes começam a criar gosto pela leitura acompanhando Harry e seus amigos. A autora J.K. Rowling ainda continua lançando spin-offs ou sequências, portanto, ainda há lenha pra queimar e novos jovens leitores a serem conquistados.
O Hobbit e O Senhor dos Anéis
Aqui confesso que tive uma surpresa. Não esperava ver os livros de O Hobbit e O Senhor dos Anéis nessa lista. Na minha concepção, esse livros são complexos demais para agradar aos pequenos. Contudo, muitos alegaram que leram os livros ainda com menos de 10 anos de idade e, sim, gostaram muito e influenciaram em seu gosto por literatura fantástica até hoje.
Muitos disseram, é bem verdade, que só se interessaram pelos livros por conta dos filmes baseados nos livros que começaram a ser lançados em 2001. Porém, alguns já começaram a ler antes dos filmes sequer serem anunciados. E todos alegam alguma influência de algum familiar mais velho que já havia lido anteriormente e recomendou aos menores.
Isso mostra que por muitas vezes subestimamos a capacidade das crianças. Afinal, por mais que possamos achar que algo é complexo demais para a cabecinha deles, eles nos surpreendem mostrando diferentes pontos de vistas e até mesmo mostrando uma interpretação profunda sobre os fatos. Houve até uma companheira de redação que chorou ao relatar a tortura de Merry e Pippin em As Duas Torres.
Dessa forma, desde já fica a dica: acredite no potencial dos pequenos e invista neles. Por mais que eles ainda não consigam entender tudo que acontece de verdade nas histórias, a interpretação deles é o que conta e, mais do que isso, a imaginação agradece.
O Pequeno Príncipe
Aqui temos um exemplo de livro que as crianças vêm com um olhar diferente dos adultos. Nós, crescidos, vemos as parábolas as mensagens que a história passa. As crianças vêm a pureza dos personagens, o amor do personagem principal por sua Rosa, do carinho que a Raposa tem por ele e imaginam como deve ser pegar carona em um cometa, ou viver em um planetinha onde só você mora e pode ver o pôr do sol diversas vezes. Reafirmando uma das principais máximas que o livro emplaca: “o essencial é invisível aos olhos”.
O maior exemplo da importância desse livro para as crianças pode ser encontrada no próprio livro logo em suas primeiras linhas: a história começa com o narrador descrevendo suas recordações, em que aos 6 anos de idade fez um desenho de uma jiboia que havia engolido um elefante. Quando perguntava o que os adultos viam em seu desenho, todos eles achavam que o garoto havia desenhado um chapéu. Ao corrigir as pessoas sobre seu desenho, era sempre respondido que precisava de um hobby mais sério e maduro. O narrador então lamenta a falta de criatividade demonstrada pelos adultos.
De toda forma, para todos os públicos, essa é uma obra atemporal e fundamental para todos. Assim sendo, se inserida em nossa vida desde cedo, pode ajudar em muito na construção de caráter até mesmo ensinando valores.
A Droga da Obediência (e outros livros do Pedro Bandeira)
Para minha surpresa, também, alguns dos livros mais citados nessa breve pesquisa foram os livros de Pedro Bandeira, autor brasileiro hoje com 75 anos que publicou mais de 80 livros e é o autor de literatura juvenil mais vendido do Brasil, chegando a mais de 23 milhões de livros (dados de 2012).
O mais citado entre todos foi A Droga da Obediência. Não por acaso esse é o título mais vendido do autor, tendo chegado a quase 2 milhões de exemplares vendidos. A história foi publicada originalmente em 1984 e consagrou o autor, que ainda viria a ganhar um Prêmio Jabuti (maior premiação literária do Brasil) em 1986 com O Fantástico Mistério de Feiurinha.
A maioria, assim como este que vos escreve, leu esse livro como um ‘paradidático’ ou ‘extraclasse’ que escola pedia/exigia. Sempre com a mesma faixa etária (12 a 14) anos. E é impressionante como todos leram com muito gosto. Eu mesmo não me lembro de ter lido, sequer na faculdade de Letras, algum outro romance que tivesse gostado tanto e lido com tanto entusiasmo algo que eu tivesse fazendo para estudo.
A história é sobre alunos (pelo que me lembre as idades deles não fica clara) que são amigos de escola e formam um grupo secreto que investiga mistérios e até acabam desvendando crimes. Em A Droga da Obediência, Os Karas (nome do grupo de alunos detetives), investigam o desaparecimento de 27 alunos de escolas diferentes e após muita observação, suspense e códigos sendo desvendados, chegam a um esquema de distribuição de drogas que envolve até pessoas de dentro das escolas. Assim, é inegável a influência de autores mais clássicos dos gêneros suspense/mistério/policial, especialmente Agatha Christie.
Os Karas ainda voltaram em vários outros mistérios, como A Droga do Amor, Droga de Americana!, Pântano de Sangue e o Anjo da Morte. Todas também muito bem avaliadas por todos que leram tais romances na época do Ensino Fundamental. Também foi bem citado A Marca de uma Lágrima, do mesmo autor e que, apesar de também abordar um pouco do tema bullying e das inseguranças adolescentes como o primeiro amor, também envolve mistério como um assassinato a ser desvendado.
Pedro Bandeira certamente despertou o prazer da leitura em muitos dos consumidores de mistério e suspense de hoje. E, infelizmente, não vejo alguém da nova geração que tenha o mesmo potencial. Por outro lado, o legado está aí. Seus livros ainda podem ser consumidos por outras gerações.
É fundamental que aqueles que foram tocados por esses livros citados nessa lista (assim como muitos outros que foram citados nas pesquisas mas não receberam citações suficientes para entrar nos mais votados, entre eles até clássicos como Machado de Assis) repassem essa sensação para os novos consumidores. Cabe a nós mudarmos esse panorama que se desenha de leitores que consomem livros de biografia de youtubers. Tudo bem que provavelmente consumimos algumas coisas de gosto duvidoso na nossa época (e até consumimos, assumamos!), mas é preciso no mínimo balancear. Ler é enriquecedor para todos, sem distinção sequer de idade. E para crianças é de suma importância. Leia próximo eles, o exemplo é importantíssimo. Se eles ainda não sabem ler, façam isso para eles. Quando você lê para um criança você estimula a imaginação dela de uma forma que sequer podemos compreender, além do mais, os faz tomar gosto pela leitura.
Se você não sabe por onde começar na hora de incentivar a leitura para os pequeninos, existem dois projetos que eu, como pai de uma (já geek) menina de 5 anos, já consumo e recomendo fortemente: o Leia para uma Criança, do Banco Itaú, que entre, outras coisas bacanas como até um app pra acompanhar a leitura com efeitos sonoros, envia livros infantis gratuitamente para qualquer pessoa, mesmo não sendo correntista; e também o Leiturinha, um clube do livro infantil onde você faz uma assinatura mensal e recebe livros (surpresa) infantis acompanhados de um kit (com paper toys, adesivos e outras coisinhas que os pequenos adoram) e uma carta pedagógica que ensina como melhor explorar os livros e a leitura infantil como um todo.
Vamos povoar o mundo com leitores e quem sabe assim ele se torne, pouco a pouco, um lugar melhor.