Diversidade x Conservadorismo, o que está fazendo mal aos quadrinhos da Marvel?

A Marvel não esconde mais que tomará medidas drásticas com relação a sua queda vertiginosa em vendas de quadrinhos nos Estados Unidos, no fim desta última semana, diretores do alto escalão da Marvel se reuniram com lojistas de quadrinhos nos escritórios da Marvel, em Nova York. O objetivo do encontro era assegurar que a editora está trabalhando em conjunto com seus parceiros, com o discurso de que a Casa das Ideias utilizará uma comunicação mais efetiva, com o objetivo de atrair leitores casuais para as lojas. Ao todo, 14 dos maiores lojistas de quadrinhos, de diferentes localidades dos EUA (e um do Canadá), participaram da reunião, a primeira dessa grandeza desde a crise financeira da Marvel nos anos 1990.

Desde às iniciativas Nova Marvel e a recente “Totalmente Diferente e Nova Marvel”, vemos diversos heróis clássicos sendo redefinidos ou até substituídos, algo que causou um grande impacto em sua chegada, primeiramente vendendo em grande número de edições, devido a curiosidade de diversos leitores, mas atualmente caindo com relação a DC e o evento Rebirth (A concorrência passou a Marvel em vendas depois de 3 anos), e surgem questões do tipo, será que os fãs já não digerem as mudanças da mesma forma e urgem pelo clássico de volta ? Algumas mudanças são drásticas para um país como os Estados Unidos, com grande histórico de preconceito racial, xenofóbico e homofóbico, que curiosamente teve uma grande parte que aceitou personagens “controversos”, por exemplo, a Miss Marvel, uma heroína com traços inumanos e paquistentes em seu sangue. O Homem-Aranha porto-riquenho, o Capitão America afro-descendente, a Thor mulher, são algumas das grandes mudanças desenvolvidas pela casa das ideias nos últimos anos.

E com o “boom” de novidades, grandes escritores e desenhistas vem se estabelecendo na indústria dos quadrinhos, desenhistas como Sarah Pichelli (Homem-Aranha), roteiristas como Jason Aaron (Thor) ganharam o mercado e reconhecimento durante este período, sendo responsáveis por dois dos maiores sucessos atuais da editora, Homem-Aranha e Thor. Mas será que a qualidade não é suficiente para sustentar esse sucesso inicial? O preconceito dessas novas ideias está pesando ou o conservadorismo em relação aos personagens clássicos? O grande trunfo da DC está sendo valorizar seus heróis mais consagrados, o quadrinho do Superman está vendendo como não vendia há tempos, Mulher-Maravilha teve o retorno do grande Greg Rucka como roteirista de suas histórias e Batman tem Tom King como roteirista de um de seus títulos, escritor que ganhou muita fama após o estrondoso sucesso de críticas em sua passagem pela Marvel escrevendo o Visão (Símbolo de qualidade dessa nova Marvel) e o famoso Scott Snyder com All-Star Batman, os três grandes heróis da editora, apelidados de Trindade, tendo grandes nomes de sucesso como encarregados de seus quadrinhos.

Mas será este o real motivo desta atual disparidade entre vendas das editoras ?

A DC por exemplo, em julho de 2016 ficou com 35,3% do mercado em faturamento, e 40,9% em cópias, contra 34,2% e 35,6% da Marvel, respectivamente, sem contar o Top 10 com 7 títulos da DC, com quadrinhos como Asa Noturna ocupando a nona colocação.

Recentemente tivemos a saga “Clone Conspiricy”, envolvendo o Homem-Aranha, Chacal e clones, fazendo referência a antiga saga do clone, saga que acabou com a volta do controverso Ben Reilly e do seu título mensal, que havia tido divulgado a capa de seu número um com uma versão de seu uniforme muito diferente do clássico, que logo após de sua divulgação vemos uma clara intervenção editorial no uniforme do personagem, que ordenou a volta do antigo uniforme, fato que não estava acontecendo e se deve á esse aparente conservadorismo dos leitores, e a atual derrota para a DC nas vendas mensais, ignorando qualquer eventual sucesso inovador com o velho, clássico, conservador.

Ainda não se sabe qual serão as medidas tomadas pela Marvel, a pressão pelo lado de alguns leitores e lojistas é grande, e ao que tudo indica eles tem uma grande voz neste assunto, nos resta esperar e conferir os próximos capítulos, mas fica a questão, estamos sendo conservadores demais ou até preconceituosos?

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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