Deuses Americanos | Sangue, neon e adoração
O Livro
Desde de que lembro, ou talvez até antes, me interesso por histórias da fantasia. Me lembro de ter visto o filme Hellboy (2005) quando eu tinha uns 12 anos e ter me apaixonado pela história (apesar de tratar do fim do mundo e da vinda da besta. Claramente uma criança normal). Depois de um tempo, descobri que o filme era baseado em um quadrinho, foi aí que comecei a me interessar por quadrinhos de fantasia.
Impossível para alguém que goste de HQs de fantasia não ter esbarrado com Neil Gaiman alguma vez na vida. Claro, ele também escreve romances, mas o meu primeiro contato com ele foi por meio de Sandman. Mas, estamos aqui para falar de outra obra desse incrível autor.
Já li e vi muitos trabalhos de Gaiman, mas só esse ano me rendi à leitura de Deuses Americanos (um agradecimento especial a um amigo que me presenteou com este livro no meu aniversário). Em resumo, Deuses Americanos é o que acontece quando você inventa de dar um rolê com deuses.
Agora aprofundando esse resumo, acompanhamos um homem chamado Shadow Moon, ex-presidiário que perdeu a esposa e a direção de sua vida. Em um fortuito encontro, Shadow esbarra em um homem chamado “Mr. Wednsday” (Sr. Quarta-Feira) que oferece um emprego a Shadow como seu “faz-tudo”, por assim dizer.
Não é spoiler nenhum dizer que depois de um curto tempo, Shadow descobre que tanto Mr. Wednsday quanto as pessoas que eles vão encontrando ao longo do caminho, são encarnações de deuses de várias mitologias diferentes.
As entidades da história (tanto na série, quanto no livro) são divididas entre “velhos deuses” e “novos deuses”. Os velhos deuses são aqueles levados aos EUA por imigrantes que vieram de outros países, como Odin, Bilquis, Anubis etc. Os novos deuses são representações físicas de tudo que nós “adoramos”, como o Technical Boy (deus da tecnologia), Mídia (deusa da televisão), tem até um deus da cirurgia plástica.
Esses deuses estão em guerra. Um deus só existe se há pessoas para adora-lo. O que significa, em Deuses Americanos, que os velhos deuses estão enfraquecendo, pois, as pessoas estão começando a esquece-los. E os novos deuses estão em alta. E o tal Mr. Wednsday está convocando os velhos deuses para a batalha final.
Uma coisa bastante interessante do livro, e que já foi confirmado que veremos na série, são os capítulos intercalados que contam histórias de velhos deuses nos EUA. Alguns são mais pesados que outros (em um desses capítulos é contado a história de dois gêmeos que são levados a América como escravos), mas são todos lindamente escritos e rico em detalhes e referências históricas.
O livro é considerado por alguns uma das obras mais importantes da carreira de Gaiman. A história é concisa, criativa e, principalmente, é perceptível o trabalho de pesquisa mitológica feito pelo autor, que não se limita a deuses conhecidos, ele busca referencias mitológicas nas mais diversas culturas, inclusive as nativo-americanas.
A Série
Não consigo imaginar ninguém melhor para comandar essa série que Bryan Fuller (Hannibal). O showrunner tem um gosto estético que, para mim, é sempre incrível e se torna quase como outro personagem na história. Fuller é uma das poucas pessoas que sabem como transformar uma cena de assassinato em algo artístico e até místico. O que combina perfeitamente com o livro de Gaiman.
Outra característica na estética de Fuller são as cenas sangrentas filmadas de maneira ora poética, ora visceral. O que já consigo imaginar que vai casar muito bem com as cenas que tratam das histórias paralelas dos velhos deuses na América (como nos capítulos dos livros que eu já comentei).
Já podemos observar um pouco de como será a estética da série pelos trailers que mostram cenários diferentes. Enquanto nas cenas com o Technical Boy (Bruce Langley) vemos muito neon e “coisas piscando”. Já nas cenas com o Czernobog (Peter Stormare) temos um ambiente escuro e cinzento, o que combina com o personagem, que é um deus eslavo da escuridão.
De acordo com declarações de produção e elenco, a série vai explorar mais de cada personagem. No livro, seguimos por quase toda a história com Shadow, o que não nos dá a oportunidade de ver mais de outros personagens importantes para a trama. Por exemplo, temos Mad Sweeney (Pablo Schreiber), um leprechaun que adora beber e é uma das primeiras entidades que Shadow conhece, e temos os próprios novos deuses que, em minha opinião, não aparecem tanto no livro quanto eu gostaria.
Outro ponto bastante positivo da série é a maior participação das personagens femininas na história. No livro, temos algumas mulheres, mas elas aparecem pouquíssimo, apesar de serem essenciais para o desenvolvimento da trama. Fuller e Gaiman, comentaram em entrevistas que elas terão mais espaço na série e já poderemos ver isso na primeira temporada, um dos episódios é dedicado a contar a história de Laura Moon (Emily Browning), a esposa de Shadow.
Durante a divulgação da série, o que se percebe é uma grande interação entre eles, o que poderá ser refletido, ou não, na tela pela empatia e química entre seus personagens. Na maior parte do tempo iremos acompanhar Shadow interpretado por Ricky Whittle (The 100) e Mr. Wednsday trazido à vida pelo maravilhoso Ian McShane (Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas). A título de curiosidade, Ian também dublou o personagem Mr. Bobinsky em Coraline (2009), outra adaptação baseada em um romance de Neil Gaiman.
No mais, só tenho boas expectativas da série, que estreia neste domingo (30), no serviço de streaming da Amazon. Siga O Capacitor para acompanhar nossas críticas dos episódios de Deuses Americanos.