Deuses Americanos – S01E02 | Quando a política encontra o misticismo
As sequências de abertura do episódio desta semana e da anterior mostram momentos completamente diferentes da migração para a América, demonstrando que suas muitas facetas.
No começo do segundo episódio de Deuses Americanos, somos elevados a um navio negreiro do século de XVII. A aura de tristeza toma conta dos homens amontoados no porão daquele barco , que os levaria a uma terra desconhecida. Como todo crente em alguma força maior, um dos homens começa a rezar para Anansi (Orlando Jones), um deus da mitologia africana relacionado ao conhecimento. E aqui temos uma crítica ácida à situação dos afro-americanos. O deus não é gentil, alternando entre uma forma humana e de uma aranha, ele conta como será a vida daqueles homens na América, destacando situações vividas por escravos e as vividas hoje, como homens negros sendo assassinados pela polícia.
Há um capitulo de transição no livro que também conta o ponto de vista de escravos vindo para a América. As semelhanças entre o capitulo e a sequência de abertura da série param por aí. O que não é demérito nenhum para a série, pelo contrário. Ao mesmo tempo que conta mais uma das histórias de “chegando à América”, a série apresenta um dos principais personagens da trama (Mr. Nance ou Anansi) e insere críticas sociais e políticas fortes embaladas por uma música embriagante.
Passado este momento, voltamos nossa atenção para Shadow (Ricky Whittle), que está tentando entender o que foi toda aquela loucura virtual vivida no episódio anterior. Ao buscar satisfações de Wednesday (Ian McShane) sobre o que ele faz, temos um Shadow que demonstra vivacidade. Para aqueles que conheceram o personagem pela série essa informação não tem tanta relevância. Mas para aqueles que leram o livro, uma das grandes críticas ao romance era a personalidade distante e desinteressada do protagonista, uma coisa que a série vem corrigindo. Shadow, não só, questiona Wednesday em diversos momentos do episódio, como também, sofre pela morte da esposa.
Aos poucos os novos e velhos deuses vão se apresentando a nós e ao protagonista. Conhecemos pela primeira vez a entidade Mídia (Gillian Anderson), na forma da atriz Lucille Ball, como no livro. É interessante que no discurso da deusa ela trata nossa obsessão pelas telas (de computador, televisão, celular etc) como uma forma de adoração a ela e, enquanto os velhos deuses exigem sangue como sacrifício, Mídia determina que, em seu nome, nós devemos sacrificar nosso tempo.
Outro personagem importante para a história foi apresentado neste episódio, o deus eslavo da escuridão Czernobog (Peter Stormare), um dos velhos deuses que estará na linha de frente da batalha contra os novos deuses. O ator, nos dá um personagem que se assemelharia com um ilustre chefe militar que hoje está velho e enfraquecido. Junto com Czernobog, também conhecemos as entidades da tarde Zorya Vechernyaya (Cloris Leachman) e da manhã Zorya Utrennyaya (Martha Kelly).
Há uma simetria interessante entre a aparição da Mídia e o ambiente em que encontramos as velhas entidades. Enquanto a nova deusa parece forte e confiante em suas palavras, Czernobog e as Zoryas parecem cansados e nostálgicos, lembrando de tempos melhores.
Entregando um segundo episódio cheio de personagens novos e discursos fortes sobre racismo e obsessão pelo mundo que está dentro dos espelhos negros, que são as telas que nos cercam, Deuses Americanos vai se tornando uma série cheia de magia com relevância real.