De Frente Com Biel: Solon Maia, o médico desenhista e vice-versa

Olá pra você que a qualquer tosse já acha que está com câncer de pulmão e pode ser caracterizado como hipocondríaco. Pare de exagero desnecessário e venha ler essa entrevista que ela é a sua cara. Ou não.

Quem está aqui conosco foi uma das minhas maiores surpresas agradáveis no meio das tirinhas por ai, porque elas envolvem um tema muito legal: A Medicina. E o nome do “doutô” é Solon Maia!

O Solon nasceu em Goiânia, no ano de 1982 e é formado em, pasme, Medicina. Mas, como já dito, além de Medicina ele resolveu se meter no mundo da webcomics e para você conhecer o trabalho o site é: http://www.meusnervos.com.br/. Se você é médico ou tem interesse no mundo clínico, provavelmente você vai gostar do trabalho. Só não entre esperando aquelas séries de TV cheia de médicos frescos que só fazem se pegar. Aqui é vida real (e um pouco da Morte, de Deus e tudo mais).

Mas vamos as perguntas!

O Capacitor de Fluxos: Solon, no seu site você já conta bastante de como foi que você chegou até aqui, então, pulando um pouco isso, teve algum artista que te inspirou? Que você gostaria de “desenhar como”, quando era mais novo ou hoje em dia?

Solon Maia: Admiro o trabalho de muitos, mas destaco Angeli, Quino e Bill Watterson. São minhas grandes referências. Falando de webcomics, existem artistas extraordinários, como o Will Leite, Marco Oliveira, Orlandeli, Rodrigo Chaves, Fábio Coala, Catia Ana e muitos outros. Acompanho o trabalho dos caras diariamente.
Não baseio meu traço em nenhum desenhista, mas costumo dizer que sofro influência de todos. Sou colecionador de quadrinhos há uns 15 anos e, desde então, venho pegando um detalhe aqui outro ali, mas sempre tentando manter um estilo próprio. Continuo me aperfeiçoando… Eu diria que meu traço é uma mistura de Dave Gibbons e Robert Crumb.

OC.d.F.: Obviamente muitas das ideias pras tiras saem do seu dia-a-dia, ao mesmo tempo muitas delas são bem duras e fortes, a tirinha acaba se tornando também uma forma de aliviar do trabalho?

S.M.: Claro que sim… O MeusNervos é a minha maior terapia! Passo horas e horas desenhando; esqueço do mundo quando faço isso. O blog mudou muito a minha vida! Era o que faltava pra eu me sentir pleno; fazer um trabalho defendendo a classe médica, expondo o outro lado da moeda e ainda sendo reconhecido por isso! Pra melhorar eu só precisaria ganhar dinheiro! (risos)

OC.d.F.: Caso a visibilidade de suas tirinhas cresça ainda mais (e torceremos para isso), como você vai fazer para conciliar o trabalho médico e as tiras? Qual a prioridade?

S.M.: A prioridade não é o trabalho e nem as tiras… A prioridade são as contas! O que estiver conseguindo me manter, será priorizado. Atualmente, sem dúvida alguma, a minha prioridade é a medicina, mas confesso que gostaria de viver dos meus quadrinhos e fazer uma medicina bem mais light, científica, talvez até voltada ao meio acadêmico.

OC.d.F.: Você já morou no Rio Grande do Norte, certo? Como você enxerga o mercado de quadrinhos no nordeste? Faltam eventos e divulgação por aqui?

S.M.: Eu morei em Natal durante sete anos e meio, período em que cursei medicina e me casei… Após a separação, acabei voltando pra junto da minha família. Quanto ao mercado de quadrinhos do nordeste, não posso dizer muita coisa, mas pelo que pude constatar o pessoal daí é mais conservador, o que não combina muito com quadrinhos. Posso estar errado, mas é a minha impressão. Quanto aos eventos de divulgação, acho que faltam no país todo! Felizmente isso vem mudando. Os quadrinhos nacionais cresceram muito nos últimos anos. Acho que daqui há uns 10 anos teremos um cenário completamente diferente.

OC.d.F.: Se você pudesse desenhar algum personagem em específico de outro autor, qual seria? Por que?

S.M.: Curto muito desenhar o Marv, o Wolverine, Lobo, Rorschach e John Constantine. São todos anti-heróis, sem frescura, ásperos, com caras ruins e expressivas. Não sei explicar porque, mas acho que são cinco personagens que tem um enorme potencial para uma pegada mais dark. São o tipo que dá pra desenhar violência, sarcasmo e filha da putagem sem rodeios. Não gosto de desenhar heróis ou personagens frescões… Devo ser meio escroto pra não me identificar com eles.

OC.d.F.: E quais seus próximos projetos nesse lado mais artístico?

S.M.: Meus projetos são a criação de produtos, como canecas, camisetas, etc, e ainda a publicação de um livro; pretendo reunir uma coletânea das minhas melhores tiras, juntamente com uma história de cerca de trinta páginas que conte como foi que se iniciou o contato do Doutor com o sobrenatural, ou seja, com Deus e a Morte. Tenho roteiro prontinho, só falta o tempo pra colocar no papel. Acho que é coisa pra daqui a um ou dois anos.

OC.d.F.: Quais as maiores dicas que você daria para alguém que queira trabalhar com quadrinhos ou ilustrações?

S.M.: Quem sou eu pra dar dicas! Ainda estou engatinhando… Mas, vamos lá! A primeira coisa é ir devagar. Acredite no seu trabalho, mas não vá querer abraçar o mundo de uma hora pra outra. Para começar a ousar parcerias, produtos, publicações, etc, você tem que começar bem debaixo, e estudar o resultado do seu trabalho. Falo de analisar a reação do público, escutar as críticas, fazer autocrítica e, por fim, encontrar sua identidade como quadrinista. Quando você já tiver conseguido se firmar, quando tiver uma boa bagagem, aí sim é hora de investir pesado em divulgação e contatos. Se você faz isso quando está crú, você acaba queimando seu trabalho. Não fique pensando em dinheiro, nem em ter milhares de acessos e etc. Isso é uma consequência. O mais importante é obter um público fiel, que interaja, e que não te abandone. O resto vem com o tempo.

Eu, não por hipocondria, já vivi 2 meses na minha vida em hospital e muitos dos meus amigos de colégio resolveram fazer medicina. Até eu já pensei em fazer medicina. Então gostei muito do trabalho do Solon e recomendo fortemente. Afinal não é fácil ser um bom médico, fazer quadrinhos e ainda ser um cara bacana.

Espero que o livro do MeusNervos saia logo!

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

No Responses

  1. Domy disse:

    Espero que o livro do MeusNervos saia logo!!!!
    cara, que tenso o trabalho dele! tive muita duvida na epoca do vestibular, mas apesar de tudo tinha a convicção que nao faria medicina de jeito nenhum. curioso ver a forma que ele passa o que pra mim é pura tensão em algo tao bonito. Parabens!

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