De Frente Com Biel: Danilo Beyruth e Sidney Gusman, os novos padrinhos do Astronauta
Olá, intrépidos leitores. Cá estou, novamente, com mais uma entrevista para vocês. Antes que o gongo soe, a hora chegue e eu não tenha mais quem entrevistar.
Dessa vez tudo acontece em dose dupla, com duas pessoas que estão mais famosas do que nunca nos últimos dias. Também, é obvio que todo mundo ia querer um pedacinho deles depois do sucesso que foi Astronauta – Magnetar. E se a Cris Peter já passou por aqui na semana passada, é claro que estou falando do Danilo Beyruth e do Sidney Gusman!
O Danilo Beyruth nasceu em 1973, na cidade de São Paulo e além de ser o responsável pela maravilhosa história de Magnetar foi criador do Necronauta e autor do álbum Bando de Dois. Caso você queira conhecer um pouco mais do trabalho dele, acesse: http://evilking.net/. O Sidney Gusman, também de São Paulo, nasceu em 1966 e é reconhecido como um dos maiores, se não o maior, especialista brasileiro de quadrinhos. Hoje em dia, merecidamente, ele é o Coordenador Editorial da Mauricio de Souza Produções.
Mas vamos as perguntas!
O Capacitor de Fluxos: Danilo e Sidney, quando vocês começaram a se interessar por quadrinhos e quando resolveram que gostariam de trabalhar com isso? Houve aquele pensamento sobre desistir?
Danilo Beyruth: Não só pensei, como desisti algumas vezes. Começar a fazer quadrinhos é meio complicado, porque é uma atividade que combina muitas tarefas simultaneamente. Você precisa ter algum domínio de narrativa, de texto, de desenho e finalização, tudo ao mesmo tempo. E se você empaca em um desses passos, a HQ fica fraca. Das vezes em que eu tentei, sempre sofri por conta disso, achava que não estava ficando legal e desistia. Mas com o tempo fui pesquisando e juntando bagagem, até que consegui romper esse entravamento e saiu a primeira HQ. A partir dai foi uma questão de melhorar aos poucos.
Gosto de HQ desde pequeno, mas originalmente tinha o sonho de fazer animação. Quando percebi que as animações são feitas por uma equipe, acabei desistindo. Acho que pra mim o que funciona é trabalhar mais sozinho mesmo, tendo controle de todas as etapas.
Sidney Gusman: O primeiro contato que tive foi como leitor, como todo mundo. Quando terminei o colegial, aos 17 anos, entrei na faculdade de Educação Física (por ser apaixonado por esportes). Eu me formei em 1986 e em 1988 cursei jornalismo. Claro que a intenção era trabalhar com jornalismo esportivo, o que fiz (em rádio) por quase dois anos. Mas era uma época brava. Não ganhava nada (mesmo) na rádio e ainda estava na faculdade de jornalismo (a Metodista, de São Bernardo do Campo, na qual me formei em 1991). Então, eu e um grupo de amigos criamos um jornal mural (falo de 1989, não tínhamos nem sequer computador, quanto mais internet), no qual comecei a fazer algumas críticas de quadrinhos.
E a transposição para editor acabou sendo natural, quando fui trabalhar em editoras. Hoje, claro, a responsabilidade é ainda maior, por estar à frente de tantos projetos bacanas na Mauricio de Sousa Produções.
OC.d.F.: Como vocês encaram o mercado brasileiro e internacional de quadrinhos? Como somos recebidos lá fora? E qual a maior diferença entre os dois?
D.B.: Bom, quando a gente fala em mercado, existem inúmeros nichos que estão combinados uns com os outros ai no meio. Só pra citar alguns: tem o pessoal que compra HQ de super herói, quem compra graphic novel em livraria esperando uma HQ mais cabeça, tem quem só lê mangá, o pessoal do zunes independentes, o pessoal que curte Mônica, etc. Dependendo da obra, da forma que é lançada e promovida, você consegue uma sobreposição maior ou menor desses públicos, o que reflete em vendas. Mas no geral o mercado é bem receptivo. Acho que o mercado internacional de quadrinhos tem aos poucos visto mais e mais material Brasileiro e tem recebido muito bem.
S.G.: A maior diferença é que os EUA são um mercado efetivamente produtor e o nosso, em sua maioria, é apenas um reprodutor. Tirando, claro, a produção do Mauricio.
OC.d.F.: Qual foi o trabalho, antes de Astronauta – Magnetar, que mais te marcou, Danilo? Por quê?
D.B.: Bando de Dois. Talvez por ter sido a minha primeira HQ mais longa, onde eu tive que me preocupar com um roteiro mais complexo, com trama.
OC.d.F.: Sidney, como todos sabem a Turma da Mônica tem se renovado e se reinventado; Turma da Mônica Jovem, MSP 50 (e as duas posteriores) e agora os Graphics Novels. Como você se sente sendo tão responsável por alguns desses processos e qual a importância que você enxerga disso para os quadrinhos brasileiros?
S.G.: Eu não me sinto “tão” responsável. Sou uma engrenagem da grande máquina de produção que é a MSP. O Mauricio me paga para ter ideias de projetos novos; é o que faço. A Turma da Mônica Jovem, é bom deixar claro, não foi projeto meu, pois a ideia já existia há tempos. Os MSPs 50 e as Graphics MSP, sim.
Vejo a importância desses projetos por duas óticas. A primeira, de fazer a marca do Mauricio voltar a atingir um leitor mais adulto, que estava distante dos gibis da Turminha. E a segunda, de ajudar o mercado como um todo, pois coloco esses autores convidados numa vitrine tão poderosa quanto é o Mauricio de Sousa. Não nego: me orgulho muito de vários desses autores estarem mais conhecidos do público por conta de sua participação nesses projetos. E espero que isso aumente cada vez mais.
OC.d.F.: E falando em Astronauta – Magnetar e MSPs, como foi trabalhar com um personagem tão conhecido, para um estúdio tão grande? Havia muita pressão? Como era sua relação com a Cris Peter e com o Sidney, Danilo? E como foi dada a escolha para esse projeto e pro MSP, Sidney?
D.B.: Se ouve pressão, partiu de mim mesmo. Logo no inicio eu percebi o tamanho da oportunidade que tinha caído no meu colo e me propus a fazer o melhor trabalho possível. Trabalhar com um personagem com tanto histórico e tão conhecido é uma vitrine pro meu próprio trabalho. Ao trabalhar com o Mauricio você acaba atingindo um mercado muito maior do que o que eu estou acostumado, realmente é outro nível. Quanto ao relacionamento entre a equipe: eu, o Sidney e a Cris, foi sempre muito tranquilo. Magnetar é um projeto onde eu posso dizer que todo mundo adicionou um pouco pra fazer o trabalho ficar maior.
S.G.: Foram dois momentos. Nos MSPs 50, a escolha foi baseada no meu conhecimento da obra dos autores, que, claro, foi fruto do meu trabalho como jornalista, especialmente no Universo HQ. Já para as graphic novels, foi baseado no profissionalismo que esses autores demonstraram nos MSPs 50 e, principalmente, por terem demonstrado muita vontade de participar desse projeto.
OC.d.F.: E agora, quais são os próximos projetos? Alguma chance do Astronauta retornar em outra publicação?
S.G.: Cedo pra revelar isso!
D.B.: Existe a possibilidade sim. Mas não agora. Nesse momento estou trabalhando numa versão do mito de São Jorge e devo demorar um pouco nesse projeto.
OC.d.F.: Quais as maiores dicas que vocês dariam para alguém que queira trabalhar com quadrinhos?
D.B.: Não desista. Comece com histórias curtas até dominar o básico e ai parta para HQs mais longas e complexas. Leve um caderno com você e sempre anote todas as idéias que aparecerem.
S.G.: A que dou sempre: leia, leia muito. Mas não apenas quadrinhos. Os melhores roteiristas e desenhistas do planeta não fazem grandes histórias por lerem somente quadrinhos, mas sim por terem uma base cultural mais sólida e ampla. A outra dica é: tente. O “não” você já tem! Busque um “talvez”, pra enfim chegar no “sim”.
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Gente bacana, né? Acho que vamos ter um pouco mais do Astronauta vindo ai e me interessei no São Jorge, pois com os traços fortes do Danilo e a criatividade dele, isso pode dar uma história bem bacana. E o Sidney anda misterioso, logo, quer dizer que em breve ele vai trazer alguma notícia bombástica com todos os holofotes que a notícia merece… ou não. De todo modo, essa é uma boa filosofia de vida: “Tente, o ‘não’ você já tem“.
E fiquem com uma ilustração do Cranicola e do Muminho do Danilo pro MSP+50!
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