De Frente Com Biel: Cris Peter, a dona das cores!
Olá galera! Pra você que achou que eu não ia manter o ritmo de entrevistas (como eu): surpresinha!
A convidada dessa semana é uma colorista de quadrinhos, com cores simplesmente apaixonantes, que já fez trabalhos com Dark Horse, DC, Marvel, BOOM! Studios, dentre outras e agora foi a responsável pelas lindas cores de Astronauta: Magnetar. O nome dela é Cristiane, mas é muito mais fácil reconhece-la como a Cris Peter.
Cris Peter nasceu em Porto Alegre em 15 de Junho de 1983 e o seu site, para você que quer conhecer mais dos trabalhos dessa menina, é http://crispeterdigitalcolors.wordpress.com/. É importante dizer que a Cris deu todo o ar soturno que a graphic do Astronauta precisava e embarcou de cabeça na reedição de Casanova pela Marvel/Icon, passando assim toda a emoção necessária para as cores de uma revista bem… louca.
Mas vamos as perguntas!
O Capacitor de Fluxos: Cris, quando você começou a se interessar por quadrinhos e ilustrações e quando resolveu que gostaria de trabalhar com isso? Como você chegou no mercado internacional?
Cris Peter: Tudo começou com Cavaleiros do Zodíaco, por incrível que pareça. Eu gostava, e gosto muito, de assistir televisão e achei muito peculiar e interessante a maneira dos animes de contar histórias. A estrutura de roteiro era diferente dos desenhos norte-americanos que eu estava acostumada a ver, tinha ação e drama, os personagens eram mais aprofundados, a história tinha continuidade, apesar de lenta, confesso. Foi aí que comecei a comprar todos os meses a revista Herói, que sempre colocava imagens lindas e coloridas para estampar suas matérias. Eles tinham acesso a pôsteres e imagens que o público normal não tinha (lembrando que isso foi antes da internet ter se popularizado). Foi então que comecei a pegar folhas de papel vegetal e copiar os desenhos, foi assim que comecei a estudar arte e cores. Reparava em cada detalhe, eu notava quando as equipes de animação mudavam, quando o desenho estava diferente de uma ilustração pra outra.
Sem notar, já não precisava mais de papel vegetal e referências pra desenhar, porém ainda me faltava técnica, por isso entrei em um curso de histórias em quadrinhos que tinha no Museu de Artes aqui de Porto Alegre. Lá conheci um pessoal que estava muito mais inteirado sobre o mundo dos quadrinhos do que eu, e eles, querendo seguir o exemplo do Marcelo Campos e outros quadrinistas da época, começaram a perseguir o sonho de fazer quadrinhos. Como meu traço era muito fora dos padrões americanos (mangás e animes não eram nada populares como são hoje), acabei sendo muito desestimulada a continuar desenhando (isso não deveria ter sido o suficiente para eu desistir, mas acho que larguei o desenho simplesmente porque não tinha paixão o suficiente por ele pra continuar), porém comecei a me especializar na colorização, e achei muito divertido! Desde muito criança, meu brinquedo favorito eram os livros de cor, e sempre gostei de fazer combinações, sempre gostei daqueles estojos enormes de lápis de cor e canetas hidrocores. Automaticamente comecei a colorir levando em conta as primeiras referências que eu tinha, os desenhos animados. Mais uma vez fui bastante desestimulada e criticada pelo pessoal do grupo, mas dessa vez eu não larguei de mão, e continuei trabalhando na minha cor. Era um hobby, eu tinha 15 anos.
De repente esse grupo de amigos começou realmente a conseguir trabalhos para desenhar quadrinhos, e como o volume era grande, não conseguiam desenhar, colorir e balonizar as páginas a tempo, foi então que comecei a fazer meus primeiros bicos de colorista. Assim fui indo, sem maiores pretensões Sempre achei que quando o segundo grau acabasse, eu iria para faculdade e aquela brincadeira seria deixada de lado. Estranhamente essa brincadeira começou a ficar mais séria. Meus trabalhos começaram a ser publicados por uma editora egípcia, fui levada pela editora para a San Diego ComicCon em 2005, fiz contatos, e quando dei por mim, já estava colorindo para a BOOM! Studios. Eu realmente fiz a faculdade, tentei entrar no mercado e só consegui aturar UMA SEMANA em um escritório de design. Foi então que decidi levar a sério essa carreira e realmente me focar inteiramente em fazer colorização. Depois dessa decisão, o restante foi conseguido com bastante persistência, autocrítica, interesse e produção.
OC.d.F.: Na sua opinião, quais as maiores dificuldades no mercado de quadrinhos brasileiro? Eu vejo muitos homens envolvidos tanto no lado de escrever quanto colorir, como você encara a receptividade do público para artistas mulheres?
C.P.: Sou de uma época em que as pessoas davam gargalhadas quando falávamos “mercado de quadrinhos brasileiro”. Era algo que não existia MESMO na época. Hoje em dia o mesmo não se aplica, mas ainda falta muito pra conseguirmos estabelecer um mercado rentável. Falta dinheiro… muito dinheiro. Produzir quadrinhos é algo caro, desde a produção até a impressão e distribuição. Tá na hora desse mercado dar mais retorno financeiro pro pessoal.
Quanto a receptividade do público para artistas mulheres, eu nunca notei qualquer preconceito… PORÉM eu sempre tive um nome ambíguo. Até hoje muitos acham que Cris Peter é um homem. Como a maioria do pessoal descobriu que eu era uma mulher depois de terem visto vários trabalhos meus, publicados para super heróis e quadrinhos mais voltados para o público masculino, o preconceito de que mulheres fazem quadrinhos para calcinhas não se aplicou no meu caso. Ainda não tenho uma opinião formada ou alguma prova concreta de que esse preconceito realmente exista. Ainda somos minoria, isso com certeza, mas isso não é porque não gostamos de quadrinhos, é só porque a maioria dos quadrinhos é focado demais no público masculino e isso não tem razão de ser. Não precisa ser assim. Queremos mais quadrinhos, e não queremos quadrinhos PRA MULHERES, queremos para TODOS.
OC.d.F.: Qual foi seu trabalho mais marcante?
C.P.: CASANOVA, com certeza. É o trabalho mais high profile que já tive, pela equipe, pela editora, pela riqueza de cuidado com a arte, tudo.
OC.d.F.: Como foi trabalhar para entregar a publicação do Astronauta: Magnetar pela MSP Graphics? Um personagem tão conhecido e com um peso e uma responsabilidade de entrega grande nas costas. E como era o trabalho com o Danilo Beyruth e o pessoal da Maurício de Souza Produções?
C.P.: Eu fiquei bem assustada no início… fiquei enrolando bastante pra começar, pois estava muito insegura com a responsabilidade que esse projeto trazia. Mas uma vez que comecei a receber o feedback positivo da equipe, foi um trabalho muito gostoso de fazer. Tranquilo, rápido, sem complicações, pois eu já tinha muitas idéias no meu inconsciente.
Trabalhar com o Danilo e com a equipe toda da Maurício de Souza Produções foi de uma tranquilidade ímpar! Estou falando sério mesmo. A Dark Horse me dá muito mais dor de cabeça com correções e notas do que eles. Com o Astronauta, tive de fazer uns testes de cor no início, mas depois que a paleta foi determinada, saí colorindo feito uma maluca e os ajustes foram pouquíssimos! Tivemos muita liberdade.
OC.d.F.: Tem alguma publicação brasileira ou internacional que não seja muito conhecida e você acha que as pessoas deveriam ter mais contato? Qual?
C.P.: Publicação brasileira acho que os MSP’s. Colori uma história no primeiro encadernado e uma no último. Internacional, eu vou ter de dizer: Savage Brothers pra BOOM! Studios, meu primeiro trabalho pra gringa que tenho orgulho até hoje não só pelas cores, mas também pela história, que é muito divertida e, com certeza, inspirou o filme Zombieland.
OC.d.F.: Quais seus próximos projetos na área de quadrinhos?
C.P.: Estou colorindo um arco da revista Spike para a Dark Horse, terminei de colorir 100 páginas pra coletânea de tiras da Faith Erin Hicks da SuperHero Girl que vai sair pela Dark Horse também em fevereiro lá nos EUA. Fiz algumas edições pra série The Future Foundation pra Marvel, entrei agora no projeto Peter Pan (graphic Novel que vai ser publicada pela 8inverso com arte de Paula Mastroberti e roteiro de Maurício Gonçalves), estou escrevendo um livro sobre cores a ser publicado em 2014 e o resto ainda é segredo 😉
OC.d.F.: Quais as maiores dicas que você daria para alguém que queira trabalhar com quadrinhos?
C.P.: Vá para às convenções, publique seu trabalho na internet, aceite as críticas, NUNCA se ache um gênio, não seja ansioso, pratique, aperfeiçoe-se, faça amigos, mas não FORCE amizades, separe o profissional do pessoal, estude, perceba se você realmente tem a disciplina para trabalhar com isso, procure se informar sobre administração e marketing (sim, isso também faz parte), e saiba lidar com rejeições, pois você VAI ouvir muitos “nãos” no início.
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Espero que vocês tenham gostado da entrevista como eu gostei. E concordo com a Cris, as HQs atuais são muito “para menino” ainda e quando é feito algo para combater isso é “para menina”, mas não precisa ser assim, tem que ser mais para “pessoas que gostam de quadrinhos”.
E tomara que você tenha entendido que não se deve desistir daquilo que você gosta, porque a vida vai te dar vários tapas na cara, jovem gafanhoto. Estou com muita curiosidade para ver o futuro do trabalho com o Peter Pan e espero que ele não demore para ser publicado (você pode acompanhar mais sobre isso nesse site).
Mas isso é tu-tu-tudo pe-pe-pessoal!
Excelente entrevista, me deixou ansiosa pelo lançamento de Peter Pan!
Sensacional!!!!!! adorei a entrevista e tb fiquei super ansiosa pro Peter Pan :)))
que essa série continue, é sempre bom valorizar e saber um pouquinho mais dos “nossos” artistas 😉
Parabéns…! 7bjs
Adorei a entrevista! Muito legal conhecer um pouco do trabalho dos coloristas brasileiros.
Adorei o projeto Peter Pan, espero que seja lançado em breve.