Crítica | Turma da Mônica: Laços

Se você foi criança nos anos 80 ou 90 você provavelmente aprendeu a gostar de ler com os gibis da Turma da Mônica. Talvez as crianças dos anos 2000 pra cá até tenham tido acesso a esse material, mas o grande auge desses personagens foi nas décadas anteriores.

A renovação do público começou com o lançamento de Turma da Mônica Jovem, em 2008. Foi uma tentativa de atrair o crescente público dos mangás. E deu certo. Dessa vez, o nicho passou a ser os pré-adolescentes.

Depois, em 2012, vieram as graphic novel MSP (Maurício de Sousa Produções), outra sacada visando alcançar um público que cresceu acompanhando as histórias e agora consumia um material mais adulto, histórias mais complexas e elaboradas. Talvez até releituras desses queridos personagens. A pretensão de conquistar novos leitores talvez não fosse grande, mas certamente aconteceu.

Também tivemos algumas adaptações desses personagens para a mídia de desenhos animados, até com alguns longas. Também houve algum sucesso, mas nada grandioso como os quadrinhos nos seus melhores anos.

Contudo, ainda faltava um live action. Não falta mais. Turma da Mônica: Laços chega às telonas trazendo uma adaptação de uma das Graphic Novel. E o resultado é muito bom, fazendo jus às expectativas de quem sempre imaginou como esses personagens poderiam ser na vida real.

A história, assim como o filme, é bem simples: Floquinho, o cachorro do Cebolinha, desaparece e a turma do Limoeiro se une em uma busca pelo cãozinho.

Assim como a sinopse sugere, é uma pegada bem Sessão da Tarde. Inclusive, se você foi uma dessas crianças anos 80/90, você também vai perceber uma certa semelhança entre esse filme e Conta Comigo e até mesmo Os Goonies. É uma aventura simples, mas sobretudo é uma história sobre amizade.

Pra quem já conhece muito bem esses personagens, é um divertido exercício ficar tentando encontrar os easter eggs espalhados pelo filme. Inclusive, esse talvez seja o filme brasileiro com maior número de referências à seu próprio ‘universo expandido’. São inúmeras as vezes em que nos pegamos apontando para a tela e/ou pensando ‘Ih, olha lá! É o Jotalhão/Horácio/Jeremias/Cranicola!‘.

Um dos momentos mais esperados depois dos teasers era a participação do Louco, interpretada por ninguém menos que Rodrigo Santoro. É até muito criativa a forma como o personagem foi utilizado, mas fica a sensação de que cabia mais. Pelo personagem e pelo ator.

Fora isso, a trama simples dá espaço para os atores mostrarem seu talento e explorarem os personagens. E isso temos. A princípio, fica a dúvida se os pequenos conseguiriam dar conta. Mas ao longo da trama todos vão crescendo em atuação e, principalmente, em carisma.

É claro que a Mônica é a principal. É inegável que Giulia Barreto consegue imprimir com muito carisma, fofura e talento todas as nuances que sua personagem precisa. A responsabilidade era grande mas ela consegue dar conta. Cebolinha é praticamente o co-protagonista da trama, e seu intérprete Kevin Vechiatto, se por um lado não é ótimo como sua colega de cena, também não desaponta. Mas sem dúvida a surpresa fica por conta de Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira). Os dois são muito convincentes em seus personagens. Talvez (e apenas talvez) você os ache um pouquinho diferentes dos personagens nos gibis, tanto em aparência quanto em personalidade. Mas a adaptação é muito boa.

Todos eles tem sua importância na trama e nos momentos finais precisam se superar para conseguir se safar da enrascada em que se encontram. Cada um deles tem que superar seus problemas e fraquezas para o bem da turma.

A participação dos adultos é bem pequena mas também tem sua relevância. Além do já citado Rodrigo Santoro, temos participação de Paulinho Vilhena como Seu Cebola e Mônica Iozzi como Dona Luíza (mãe da Mônica). Há um momento cameo/easter egg que é a participação de Leandro Ramos (o Julinho da Van, do Choque de Cultura).

E, é claro, também há uma cameo do Stan Lee desse Universo do Limoeiro, o Maurício de Sousa. E é uma participação digna de Stan Lee mesmo, dá até vontade de aguardar continuações dessa história e esperar para ver como e quando ele aparecerá.

Laços é uma história bonitinha, com altas doses de fofura e uma boa aventura. Há elementos do imaginário infantil, como o Homem do Saco. Há bastante lúdico, como os desenhos do Cebolinha e o fato de o Floquinho ser verde, por exemplo. Há momentos de emoção, especialmente quando a amizade da turma é posta a prova. E até o momento nonsense do Louco.

Se há pontos fracos a serem apontados no filme, pode-se dizer que para quem acompanhava os gibis da turma, falta um pouco mais de humor na história. Além disso, como já dito, talvez coubesse um pouco mais do Louco muito mais pelo talento do seu intérprete e até para dar um pouco mais de humor à história.

Infelizmente, Laços terá em Toy Story 4 uma concorrência desleal nessas férias escolares de Julho. Entretanto, se você tem crianças em casa (ou estará com os primos, sobrinhos, afilhados ou vizinhos em casa em em Julho), ou mesmo se a criança em você sempre sonhou em ver em carne e osso seus personagens de gibi favoritos, que fizeram você pegar gosto por leitura, vale a pena ir até o cinema mais próximo e curtir essa aventura singela.

Turma da Mônica: Laços estreia nos cinemas em 27 de Junho.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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