Crítica | The Society – 1ª Temporada (Netflix)
Inspirada no romance O Senhor das Moscas e com similaridades com outras séries já conhecidas (Under The Dome) e livros como Gone, The Society é mais uma aposta Young Adult da Netflix. Lançada em 10 de maio de 2019, tem dez episódios de aproximadamente uma hora, estrelados por Kathryn Newton (Supernatural), Kristine Froseth (Sierra Burgess é uma Loser) e Alex Fitzalan (Slender Man).
Escrita por Chris Keyser, The Society acompanha a história da cidade West Ham, que sofre de um mau cheiro desconfortável. Prometidos com o fim do problema, os estudantes são enviados numa excursão para que a cidade fique livre. Contudo, após adormecerem dentro do ônibus, eles percebem que foram levados de volta para casa, mas dessa vez, nenhum adulto ou criança está entre eles.
Com a cidade vazia, o primeiro pensamento dos jovens é aproveitar a liberdade. O episódio de abertura foca, principalmente, no pontapé sobre os dilemas enfrentados por cada um deles. É o momento de apresentação dos personagens e do mínimo sobre sua história. Na ressaca do dia seguinte é quando o mistério principal da série começa a ser considerado. Como a energia ainda se mantém, eles testam ligações, todas caindo em caixa postal; na televisão, passa apenas aquilo já gravado. Muita troca de informação acontece até perceberem que ninguém possui nada de fato.
Todo mundo passou pela fase em que pensou não precisar de adultos para tomar as decisões. Contudo, nesse cenário, o sumiço de todos os responsáveis causa alvoroço entre as dezenas de adolescentes. Eles se reúnem em busca de respostas, e à medida que percebem não as ter, o desespero toma conta. O único esforço em busca da verdade se dá quando um grupo resolve sair da cidade, porém retorna com o fato de que não há nada além da floresta os rodeando.
A partir do momento em que percebem estarem sozinhos, o foco da série se perde. Eles agora precisam se unir e formar uma nova sociedade, de preferência democrática, incluindo a ideia dos Três Poderes. Enquanto são divididos entre as áreas de trabalho, picuinhas antigas são trazidas à tona para complicar os eventos – relacionamentos amorosos, insegurança, imaturidade e divisões grupais.
Os ricos querem manter suas casas e pertences delas para si, enquanto a comida dos estabelecimentos é usada por todos sem qualquer limite. Quando informados de que, assim que a comida acabar, poderão morrer de fome, alguns lidam mais facilmente com a realidade do que outros, gerando conflitos e criando oposição sobre quem governa e por que.
Vemos alguns personagens se desenvolverem e outros nem tanto. Uns se mostram prontos para ganhar mais destaque, então perdem gás no episódio seguinte. Fica claro que houve uma boa ideia inicial, o cenário onde observamos jovens tentando lidar com obrigações que não foram ensinados a enfrentar. No entanto, é como se o criador não soubesse exatamente como finalizar a história, e focou no lado humano da série.
Questões como drogas, gravidez na adolescência, religião, preconceito, psicopatia, uso de armas, criação e abuso de leis são coisas que vemos acontecer na tentativa de obscurecer a história, de dar tom e manter o mistério – mesmo não sendo o principal.
Eliminando o primeiro, onde houve a procura pelos adultos, os oito episódios seguintes lidam com questões pessoais, natureza humana e problemas sociais, os passos e escolhas que nos levam ao futuro como adultos responsáveis ou não. No último episódio, retorna drasticamente para prioridades vistas somente no início, deixando para a imaginação do telespectador criar as cenas escondidas sob o véu cinematográfico.
A série deixa a desejar quanto ao seu próprio caminho: é uma distopia, onde o mundo foi destruído e eles são os únicos sobreviventes reclusos numa área montada? Ou talvez uma ficção científica, com universos paralelos? A cidade é a que eles conhecem, ou uma réplica criada para mantê-los presos? Se isso, onde estão os adultos e o que, exatamente, eles são responsáveis por fazer agora que segregados?
O último episódio responde de forma rasa as tantas perguntas feitas anteriormente. Ainda não se sabe o interesse de todo o mistério, porém, nesse caso, a falta de resposta não foi gatilho para alavancar o desejo pela continuação. Assim, talvez o tiro tenha saído pela culatra.
The Society é muita ousadia para pouco desenvolvimento. Com bons atores interpretando papéis críveis e quase reais, faltou aproveitamento, nos deixando imaginar se a possível segunda temporada possa valer a pena.