Crítica | The Old Guard

The Old Guard, o mais recente filme Original Netflix, é uma adaptação de quadrinhos estrelada por Charlize Theron e chegou dividindo a crítica especializada. O público, no entanto, tem gostado muito do filme.

A história mostra uma equipe que funciona com uma espécie de ‘mercenários’ imortais que ao longo da história da humanidade vem tentando fazer do mundo um lugar melhor, através de missões que somente um grupo com seus recursos seria capaz de executar.

Logo no início vemos como a equipe consegue tais feitos. Ao seguirem para uma missão de resgate de crianças que foram sequestradas no Sudão do Sul, a equipe é emboscada e e todos são alvejados. Poucos minutos depois todos se levantam, tendo seus ferimentos regenerados e, assim, pegam seus agressores desprevenidos e percebem a armação ao notarem câmeras no local, bem como não encontram nenhuma criança.

Logo em seguida, conhecemos uma soldado estadunidense que está em uma coalizão no Afeganistão. Ao encontrar o fugitivo, ela tem sua garganta cortada por ele, o que a levaria a sangrar até a morte. Pouco tempo depois ela acorda na enfermaria e não tem sequer uma cicatriz, tendo se regenerado também.

Essa sequência inicial dá a impressão de que se trataria de um filme com mais momentos de ação como esse. Contudo, grande parte da história se concentra em mostrar o recrutamento dessa soldado pela equipe e a explicação da história dos mesmos.

Entendemos como a relação deles funciona, como e porquê todos eles, incluindo a soldado, chegaram até ali e suas motivações e frustrações. Trata-se, portanto, de um filme com uma carga dramática tão grande ou até maior do que a ação. Some-se a isso, um forte tempero de fantasia.

É justo até dizer, que The Old Guard é um filme de drama, que mostra como seriam as relações interpessoais de humanos imortais, com uma forte conexão, que escolheram viver juntos ao longo dos séculos tentando fazer o bem para a humanidade mas acabam desacreditados de que isso seja possível. E no meio tempo, precisam lidar com a mortalidade de todos aqueles que lhe cercam e que nem sequer sabem que estão sendo protegidos por eles.

Talvez por isso, muita gente se sinta ‘enganada’ pelo filme. Porém, isso não deveria ser um problema, apenas um diferencial. O filme se destaca exatamente por ter essa pegada, não sendo um mais do mesmo.

O plot principal é muito convincente e atual, mostrando como a indústria farmacêutica manipula ou no mínimo se aproveita das oportunidades históricas visando puramente o lucro, em detrimento do bem à humanidade.

Da mesma forma, vemos personagens que acabam contribuindo para ideais sombrios acreditando que estão fazendo o bem, e que acabam tendo a chance de redimir fazendo a coisa certa. Vemos também muitos outros valores em jogo e, especialmente, relações humanas e seus conflitos.

Mas não se engane: The Old Guard também tem excelente cenas de ação. As cenas de luta corpo a corpo, por exemplo, tem uma coreografia de dar inveja a qualquer filme/série de super-heróis. As coreografia são perfeitas e quando a briga envolve a equipe, ela funciona como tal. Um colaborando com o outro e executando uma função tática.

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The Old Guard é um ótimo e surpreendente filme. Muitos estão dizendo que ele funcionaria ainda melhor como uma série. De fato, uma série poderia aprofundar mais ainda nos personagens e no plot principal. Isso não significa que não haja profundidade. Ela é aplicada na medida certa. Sabemos o que é essencial e o que não sabemos é proposital para ser, possivelmente, trabalhando em novos filmes sem que faça falta para o entendimento deste.

E, apesar de nada ainda oficial, é muito provável que haja, no mínimo, uma continuação. Mas rumores apontam que essa pode se tornar a primeira franquia de filmes Original Netflix. E há muito potencial.

Se já é um feito e tanto, merecedor de aplausos, o fato de Gina Prince-Bythewood ser a primeira mulher negra a dirigir um filme adaptado de quadrinhos, com uma protagonista mulher (e com potencial para uma protagonista negra nas sequências), imagine se isso se tornar mesmo a primeira franquia da Netflix? Seria uma conquista incrível.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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