Crítica | The Boys (2ª­ Temporada)

A primeira temporada de The Boys foi um grande sucesso. A segunda não havia estreado e a já estava renovada para a terceira, tamanha a confiança que a Amazon Prime tinha na série. E eles estavam certos. A segunda é realmente ainda melhor que a primeira em muitos aspectos.

Na primeira temporada conhecemos os super-heróis inescrupulosos, com suas vidas promíscuas, fúteis e falsas. Também conhecemos a mega corporação por trás desses supers e o Composto V, droga utilizada para dar poderes a eles. E por fim, conhecemos ‘Os Rapazes’, grupo de amigos que por alguma razão se unem com o objetivo comum de combater esses supers de forma totalmente irresponsável e quase suicida, mas catártica.

A premissa é a desconstrução da imagem dos super-heróis que temos hoje e uma sátira bem clara e intensa sobre o capitalismo, a manipulação dos governos e das mega corporações (o chamado globalismo). Tudo isso regado a muito sangue e violência, tão explícita e exagerada, que é quase falso demais, próximo do que vimos nos filmes do Tarantino. Chega a ser engraçado as vezes.

E era isso que fazia da série diferenciada. O seu cinismo e seu exagero, a forma como ela enfia os dedos sujos fundo nas feridas e ainda gira, alargando essas feridas. Um tom e temáticas totalmente diferente de tudo que temos no audiovisual relacionado a super-heróis nos tempos atuais, e quiçá, desde sempre.

É claro que os produtores iriam pegar esses elementos que tornam a série única e iam potencializá-los. E isso poderia ser um risco. Perder a mão é muito fácil quando se tem elementos tão delicados em jogo. E pra mim, eles perderam um pouco mesmo.

É importante ressaltar que se você ainda não assistiu a segunda temporada de The Boys na Amazon Prime Video, talvez algumas das informações a seguir possam ser consideradas spoilers.

Por um lado, a série conseguiu melhorar substancialmente em termos de roteiro e trama. Muita coisa (infelizmente) atual entrou em cena: fake news, a manipulação através das mídias sociais e a discussão sobre como elas influenciam no crescimento de grupos extremistas e propagadores de ódio, o papel do feminismo no mundo atual aliado ao gancho deixado pelo tema do assédio na 1ª temporada, as falsas religiões que manipulam e extorquem o povo e, principalmente, a supremacia racial.

Por outro lado, a violência e tudo mais que é gráfico (ou explícito) na série e que também era assim nas HQs, no mínimo manteve o nível da 1ª temporada. Porém, aumentou a frequência. Não que seja totalmente gratuito, pelo contrário, o recurso é muito válido na história a ser contada e, como dito, é até um diferencial na série. Só que agora praticamente todo episódio tem uma ou mais cenas de extrema violência e tripas e pedaços de corpos explodindo.

Muitas vezes poderia ter havido um pouco mais de moderação nessas cenas gráficas. Elas poderiam estar lá, mas menos intensas, ainda passariam o mesmo recado mas sem causar náuseas ou aquela encolhida de ombros + careta tampando os olhos.

Assim como eu, provavelmente muita gente não curte esse tipo de cenas gráficas, alguns até bem menos tolerantes a isso do que eu. E dessa forma, a produção acaba afastando muito espectadores que poderia curtir plenamente a série por seu enredo e pelas mensagens que ela pode passar sobre os diversos aspectos sociais citados acima.

Não é que a série precise abandonar seu próprio estilo. Estou levantando a possibilidade de uma pequena moderação no gore. Dá pra causar o impacto necessário sem ser asquerosos e nauseante. A mensagem também vai ser entregue e manterá os espectadores com estômagos um pouco mais fracos (e até ganhará novos).

Fora isso, não há mais nada a pontuar negativamente na série. No geral, ela só cresceu e acrescentou novos e importantes elementos, nos levando a ficar curiosos sobre como ela ainda pode surpreender na próxima temporada, que ganhou ótimos ganchos ao fim dessa atual.

Há diversos momentos hilários, há outros de muita vergonha alheia e alguns de até mesmo guilty pleasure, do tipo que você acha que não deveria gostar mas não consegue pensar em pelo menos um ‘bem feito, se f#*%u!’. O relacionamento de Hughie e Starlight, a profundidade que Butcher e Queen Maeve ganham, a insanidade crescente e justificada de Homelander, a depressão e ‘quase’ redenção de Deep e o asco à Stormfront conduzem o desenvolvimento dos personagens.

Isso sem contar alguns momentos em que tomamos alguns sustos e somos surpreendidos por sequências de ação que não havíamos previsto. Fora que as escolhas da trilha sonora continuam muito boas e muitas vezes aparentemente destoantes, mas que acabam encaixando muito bem, assim como na primeira temporada.

Se você tem uma tolerância que está entre alta e moderada para tripas voando e cabeças explodindo com miolos grudando na tela e está interessado em um debate que pode se aprofundar muito sobre a sociedade atual através de uma linguagem bem satírica e afiada, The Boys é a série que você precisa assistir.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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