Crítica | Sherlock: 4ª Temporada – Família, suspenses e clickbaits

Aviso: Contém spoilers da 4ª temporada de Sherlock

Lançada em 2010, a adaptação de Sherlock Holmes para os tempos modernos se tornou uma das séries mais bem sucedida dos últimos anos. Trazendo modernidade e carisma sem perder a essência do material fonte, a BBC criou um novo clássico da TV. Com temporadas curtas, sempre deixando um gostinho de quero mais, Sherlock se tornou um fenômeno tão grande a ponto de os americanos criarem a sua própria versão modernizada.

Como cada temporada tem apenas 3 episódios, cada segundo da série conta, o que torna o público e dá à equipe de produção uma responsabilidade muito maior, já que não se pode desperdiçar nenhum episódio. Ainda mais quando levamos em consideração que a série teve um intervalo de três anos entre a terceira e a quarta temporada.

Mas parece que esse tempo não foi suficiente para acertarem a mão…

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Com um final que prometia o retorno de Moriarty, o maior vilão da série, a terceira temporada de Sherlock deixou não só ansiedade, mas muita expectativa para a quarta temporada. Com a figura do Professor Moriarty aparecendo em vários telões perguntando se haviam sentido sua falta, os fãs tinham a resposta na ponta da língua e já começaram a aguardar ansiosos pela próxima temporada,  o que imediatamente fez com que fossem “Perdoadas” algumas decisões controversas da terceira temporada.

Contudo, parece que o gancho oferecido há três anos atrás não passou de um grande clickbait. Mas, chegaremos lá.

Com seus altos e baixos, a quarta temporada de Sherlock apresentou um nível muito aquém das anteriores. Com roteiros confusos, reviravoltas gratuitas e um pouco da essência perdida, a série mostra não saber muito bem para onde quer ir além de apresentar um fim que não obrigue o retorno para uma quinta temporada.

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Com a morte de Mary no primeiro episódio, houve uma tentativa de resgatar a base da série, a dinâmica entre Watson e Holmes.  A personagem já havia sido alvo de controvérsias quando se revelou o segredo de que na verdade a esposa de Watson era uma super espiã. Então a série deu um jeito de tirá-la do caminho e focar no que importa. O que é uma decisão acertada, mas com as possibilidades pouco aproveitadas.

Já o segundo episódio, além de ser muito superior ao primeiro, apresenta o resgate às origens da série, trabalhando a relação entre Sherlock e Watson e a parceria que fez a série ser o que é. Culverton Smith, o vião do episódio, interpretado por Toby Jones, está excelente. O mistério é intrigante, a investigação prende o telespectador e as reviravoltas são todas bem trabalhadas. Exceto pela final, que leva ao último episódio e aos últimos erros da temporada.

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Com a promessa do retorno de Moriarty, e um Sherlock sempre alerta aos próximos movimentos do vilão, a série havia segurado durante dois terços da temporada o fechamento deste arco, o que deixou os fãs em imensa expectativa. Mas, com o gancho do segundo episódio e a revelação da existência da irmã secreta de Sherlock, ficava cada vez mais claro que Moriarty não teria seu espaço nessa temporada. E foi exatamente o que ocorreu.

O vilão, que havia sido dado como morto no excelente final da segunda temporada, está realmente morto e toda aquele alarde do final da terceira temporada, as referências ao longo da quarta, não passaram de easter-eggs e um enorme “clickbait”. O personagem aparece apenas em alguns flashbacks e nos monitores do último episódio.

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A grande vilã da temporada era Eurus, a recém-descoberta irmã de Sherlock, que além de parecer aquelas revelações de novela mexicana, não acrescenta muito à série. A atriz interpreta bem, mas o problema maior fica com o roteiro.

O último episódio, O Problema Final, nome do conto que retrata o último conflito entre Moriarty e Holmes (mais um clickbait para aumentar a expectativa), é na verdade o confronto entre Holmes e sua irmã que além de ser tão inteligente quanto os irmãos é uma psicopata. Com pouca criatividade, o terceiro episódio nada é do que uma sequência de salas de jogos de Escape (Espace 60′ e etc.) até que Watson, Sherlock e Mycroft estejam livres para confrontar Eurus.

A dinâmica das salas de desafios não só é anti-climática como torna o episódio enfadonho por diversas vezes E tudo regado à sensação de ter sido enganado por três anos. Com mistérios que não são tão interessantes e/ou bem trabalhados, a série tem um desfecho que não chega perto do que foi o confronto de Sherlock e Moriarty na segunda temporada.

Por conta da dificuldade de agenda dos protagonistas, que hoje são atores extremamente cotados, é pouco provável que Sherlock volte. E por isso temos um final que passa essa exata mensagem, com direito aos dois correndo juntos  em direção à câmera para fechar o episódio.

Sherlock sempre foi uma série incrível, bem acima da média, seja em roteiro, direção e atuação. Por conta disso, a exigência também se torna mais alta. Talvez, algumas das reclamações possam parecer superficiais, mas para uma série que sempre teve um nível de excelência, não se pode contentar-se com o medíocre. A série continua sendo incrível, mas se despede do público com um sabor agridoce.

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Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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