Crítica | Pedro Coelho: uma fábula com humor negro e toques de filosofia

Um livro escrito em 1893 para uma criança de 5 anos e publicado em 1901, pode ainda ser relevante ao ser adaptado e caber na atual sociedade? Pois Pedro Coelho, baseado no livro The Tale of Peter Rabbit, mostra que, sim, é possível.

O filme é um live action com muitos personagens, inclusive o principal, que dá título ao filme, em animação. A propósito: a parte em animação está ótima, muito bem feita. Suave, e em perfeita harmonia com os elementos reais. Já os atores de carne e osso cumprem bem sua função, com interpretações satisfatórias. Especialmente Domhnall Gleeson, que interpreta Tomás Severino.

O longa também cumpre bem o que se espera de uma fábula em todos os elementos, como recursos narrativos e até nos curtos ‘momentos musicais’. Não é um filme para morrer de rir, mas há momentos engraçados. Talvez exija (ou trabalhe) um pouquinho de paciência das crianças nesse sentido.

O que mais pode chamar a atenção dos adultos que forem assistir ao filme são as questões mais profundas do comportamentos humano e da sociedade (o propósito de uma fábula). Dá pra observar a questão da propriedade privada e outros princípios do socialismo, já que a horta do Sr. Severino deveria ser aberta para que os animais pudessem consumir dela, até mesmo por terem chegado ali antes dele. Contudo, ela é cercada e os animais são sempre expulsos dela. Dá até para fazer um paralelo com a questão da imigração.

Há ainda questionamentos filosóficos. O mais interessante é o do galo, que todos os dias acorda e, impressionado pelo fato de o mundo não ter acabado e o sol estar brilhando novamente, grita de alegria e celebra esse incrível milagre, acordando todos no processo. Em uma dessas, ele lamenta o fato de ter vivido a noite anterior acreditando que aquela sim, seria a última noite de todas, e ao fecundar muitos ovos, agora terá de lidar com todas as consequências do ato, já que mais uma vez, o sol voltou a brilhar.

Outra questão que pode ser curiosa para os olhos e ouvidos adultos que estiverem mais atentos, são as piadas do humor negro, um tanto incomuns nos dias de hoje nas produções infantis. Há bastante. Além do comportamento de todos os animais, não só de Pedro e sua família, que pode ser descrito como inadequado, porém, esse é justificável pela premissa da história, que como dito, é uma fábula.

O item mais curioso que o filme apresenta no quesito ‘coisas que as crianças não entendem ou percebem mas os adultos sim, e estes podem ter trabalho ao ter que explicar’, são alguns termos. Há expressões e palavras como ‘eufemismo’ e ‘nepotismo’ que são usadas em momentos que fazem delas piada, de forma que não passam batidas. É exigir um pouco demais dos pequenos e dar trabalho para os adultos possivelmente tendo que perder algum detalhe do filme para explicar.

Apesar de não ser a melhor animação/live action que você já viu, também não é a pior. Pode ser aproveitada por ambos crianças e adultos. A mensagem da fábula é válida e continua pertinente, mesmo com o passar de tantos anos. Vale a pena levar os pequenos para curtir um cinema e se divertir com eles.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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