Crítica | O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio

Um ponto de vista diferente para o termo reboot, muito usado nos últimos anos pela mídia especializada em cinema. É isso que O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio traz.

Se você esteve em uma caverna em Plutão nos últimos 35 anos, você não sabe do que se trata essa franquia. Nesse caso, assista ao primeiro filme lançado em 1984 e ao segundo de 1991. Pronto, você já sabe tudo que precisa para aproveitar por completo a experiência deste, que na verdade, é o sexto filme da franquia.

Trata-se de uma continuação direta aos dois primeiros, escritos e dirigidos por James Cameron. Assim sendo, pode-se ignorar completamente tudo que aconteceu desde o terceiro filme até o quinto. Mesmo que este último também tenha sido uma espécie de reboot.

Acontece que quando falamos de histórias onde há viagem no tempo e, por consequência, paradoxos temporais, abrem-se muitas possibilidades.

O filme deixa clara sua conexão direta com o segundo logo na primeira cena, quando o logo do estúdio ainda está sendo mostrado. A voz de Sarah Connor em 1995 contando como é o Dia do Juízo Final, que aconteceria em 1997, é logo reconhecida pelo espectador mais atento. Então vemos o mesmo vídeo de segurança do hospital psiquiátrico onde ela esteve e onde acaba atacando os médicos que ali estão e não acreditam em sua história.

Logo depois vemos a mesma Sarah Connor, com o mesmo visual que a vimos por último em Exterminador 2. Ela está em uma praia com John. Temos aqui uma pequena falha de continuidade. Os créditos dizem que essa cena se passa em 1998, provando assim que eles conseguiram evitar o Dia do Juízo Final de 1997. E vemos John com exatamente a mesma cara, voz e tamanho que o vimos no final T2. Ora, se ele tinha dez anos no segundo filme, que se passa em 1995, era de se esperar que 3 anos depois ele estaria maior, com a voz pelo menos em fase de transição, pois já estaria entrando na puberdade.

Porém, se ignorarmos esse detalhe, a nostalgia é grande ao vê-los novamente com aquela aparência ‘clássica’. Fica até a pergunta: será que essa cena foi excluída da versão final de T2 e reaproveitada agora? Pois tanto Linda Hamilton como o personagem que era interpretado por Edward Furlong estão exatamente como no segundo filme. E tendo o nome James Cameron envolvido na produção, não podemos descartar nenhum possibilidade quando se trata de efeitos visuais. No entanto, sabe-se que um outro ator fez o personagem e que teve a voz de um terceiro. Ainda assim, ficou tudo muito bem feito.

Não dá para falar mais dessa cena sem dar spoilers.

Logo nas primeiras sequências após essa cena, já somos apresentados aos novos protagonistas dessa história: Dani Ramos (Natalia Reyes) e Grace (Mackenzie Davis), além do novo exterminador, agora um modelo REV-9, interpretado por Gabriel Luna.

E já nos primeiros vinte minutos o ritmo do filme fica frenético. A clássica e quase obrigatória perseguição de caminhão está lá e temos cenas de ação para qualquer fã do gênero se deleitar. E aí que a Sarah Connor de 2020 se apresenta, mais badass como nunca. Como sempre imaginamos que ela seria depois de muitos anos vivendo nesse mundo. O filme promete muito até aí.

Pena que fica só na promessa. O filme acaba ganhando outros ares. Não é aquela ação toda das sequências iniciais, nem um drama cativante, nem mesmo um espetacular sci-fi, que é a principal força do produtor.

Pontos a serem exaltados: Old Sarah Connor badass, sem dúvida. A melhor coisa do filme. A interpretação digna de Mackenzie Davis como a protetora humana ‘melhorada’ vinda do futuro. Arnold Schwarzenegger. Por si só, tio Arnoldão vale ingressos. Porém, dessa vez, os fãs tanto do ator, quanto do personagens, podem não curtir a nova ‘roupagem’ que foi dada ao mítico T-800 (ou Cyberdine 101, se preferir), agora chamado Carl. Ainda assim, Schwarza faz o melhor que pode e isso é digno de nota positiva.

Outro ponto que vale ressaltar positivamente é a representação totalmente natural e cabível, tornando os argumentos da turma ‘anti-lacração’ ainda mais infundados do que nunca. O fato de três mulheres serem as protagonistas, sendo uma delas mexicana, não apenas não atrapalha em nada a história, como é também verossímil.

É digno de nota a apelação do novo exterminador. Tudo bem que todos os exterminadores são apelas, implacáveis que chega a dar raiva. Mas esse novo modelo interpretado por Gabriel Luna é o cúmulo. Pense em uma mistura de T-1000 (exterminador do segundo filme) com Venom e que ainda pode se duplicar. Pois é, esse é o nível. Contudo, não chega a ser aquela ameaça que dá medo no espectador como o T-1000 ou mesmo o T-800 do primeiro filme, infelizmente. Mas talvez não seja culpa do ator, já que esse personagem historicamente não prima pela interpretação. Talvez seja tão apelão, que a gente sabe que não tem como vencer, e por isso já perdemos a esperança desde o início. O que vier diante de um adversário desses é lucro.

Sobre a história, dá pra dizer que encaixa. É um reboot cabível e válido. Porém, raso. Não é, mais uma vez, o que queríamos ver. E nem é surpreendente a ponto de nos convencer que o que queremos não é o melhor. Ao final do filme fica a sensação de ‘esse filme era mesmo necessário?’. Mas ao mesmo tempo não vai fazer mal à franquia, como Gênesis fez, e dificilmente será massacrado como A Revolução das Máquinas.

Apesar de o filme se segurar muito por conta da presença de Sarah, e por ela ser ainda um elo importante nessa história, esse é o fechamento de seu ciclo. Fechamento que ela sempre precisou. Porém, talvez não seja exatamente o que ela merecia. Assim como John Connor também deixa de ser o responsável pela resistência dos humanos no futuro, ele não é mais o messias que nos acostumamos. Aí que entra o termo reboot. A história é reescrita aqui.

A ideia de mudar o futuro que conhecíamos, mas mostrar que ele ainda pode ser ruim, quem sabe até pior, é interessante. Porém, é feita de forma rasa, até previsível. O plot twist envolvendo a relação de Grace e Dani não é nada surpreendente e não acrescenta à trama. Até dá pra ver o crescimento da personagem mexicana, mesmo que um tanto apressado. E é válida sua semelhança com a saga de Sarah, de mulher relativamente frágil, no mínimo comum, até uma brava guerreira da resistência. E não é do nada, já que sua personalidade já se mostrava como tal desde o início, só precisava de um empurrão.

No final, o saldo é positivo pelas cenas de ação de tirar o fôlego no início e as absurdas do último terço. Essa últimas são dignas dos filmes de ação oitentistas e noventistas, daquelas que zombam das leis da Física e por vezes insultam nossa inteligência. Um filme que pode servir de referência nesse caso é True Lies, que não por acaso é dirigido por James Cameron. E outro, pelo lado da galhofa, é Esquadrão Classe A, de 2010. Há, inclusive uma cena que lembra muito esse filme.

Para tentar ganhar o espectador, todos os fan-services estão lá. I’ll be back, o olho vermelho aceso com metade da cara de lata, a perseguição de caminhão, e por aí vai. Se não todos, a maioria está lá.

O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, é um filme que vale ser assistido, mas que não merece expectativas e dificilmente será lembrado. Se estiver na dúvida se vale o seu ingresso, talvez seja melhor esperar chegar nos serviços de streaming.

Thiago Amaral

Geek inveterado e consumidor assíduo e voraz de cultura pop. Enquanto não está lutando com a Aliança Rebelde, dá aulas de Inglês. Curte Marvel & DC. Retro Gamer. Conhecido no underground como Pai da Alice.

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