Crítica | Luke Cage (Sem Spoilers)

“Não se trata do quão forte você pode bater, mas sim do quão forte você consegue apanhar e continuar seguindo em frente…” (Rocky Balboa)

A parceria entre a Marvel e a Netflix segue cada vez mais estabelecida, criando um universo urbano e mais realista do que o Universo Marvel tem mostrado nos cinemas. O potencial que foi mostrado na primeira temporada de Demolidor agora já é um selo de qualidade depois de três temporadas bem sucedidas da parceria (duas do Demolidor e uma de Jessica Jones).

E agora foi a vez de mais um herói estrear sua própria série no universo urbano da Marvel/Netflix.

Luke Cage não é nenhum estranho, seja para quem lê quadrinhos ou para quem já acompanha as séries da Marvel na Netflix. O personagem foi parte importante da trama da primeira temporada de Jessica Jones, e apesar de não ter sido explorado como merecia, foi um ótimo aperitivo para a série que viria a ser lançada.

Cage foi o primeiro herói negro no mundo dos quadrinhos, o que por si só já é um marco. Mas o herói ainda trouxe consigo boa parte da cultura negra que fervilhava em seu período. Assim, Luke Cage não foi só um herói nos papéis, mas um símbolo para toda uma parcela da população que queria representatividade, que queria espaço, que queria uma voz. Os elementos da Blaxploitation eram mais do que presentes em sua história.

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Shaft

Filmes da década de 70 como Shaft, Sweet Sweetback’s Baadasssss Song, ou até mesmo na década de 90 em filmes como Jackie Brown (Tarantino sempre foi um fã do gênero, o que é mais do que exposto em Pulp Fiction), foram marcos. E é dessa fonte que Luke Cage sempre bebeu, com seu visual extravagante, seu linguajar das ruas e seus maneirismos. Era a versão quadrinesca da blaxploitation. Então, nada mais justo do que a série também beber da mesma fonte.

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É interessante como a Marvel e a Netflix têm tocado as suas séries, trazendo uma identidade própria para cada obra, com tons, gêneros e características únicas para cada uma delas. Luke Cage bebe sem esconder das fontes do blaxploitation para trazer uma versão modernizada do herói sem negar as suas origens e este foi um dos maiores acertos da série.

Com identidade própria, uma trilha sonora brilhante e personagens carismáticos, Luke Cage te ganha já nos primeiros episódios. A extravagância dos anos 70 agora está mais contida, mas o Harlem ainda enfrenta muitos dos problemas que já enfrentava naquela época.

Como Luke já havia sido apresentado em Jessica Jones, a série não perde muito tempo contextualizando o personagem, além de aproveitar alguns fatos da trama da outra série. Luke Cage não é o típico herói, mas sim um cara simples que quer ser deixado em paz, pagar suas contas e viver um dia após o outro. Mas o chamado do herói sempre surge, e os problemas tendem a encontrá-lo.

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É interessante a forma como Luke Cage se porta ao longo da série, sempre tentando se manter longe de problemas, evitando se expor e aguentando as dificuldades que a vida joga em seu caminho. Muito mais que a super força, a série foca no seu poder de resistência e vontade de seguir em frente, o que torna o personagem ainda mais forte, complexo e identificável, afinal de contas, quem não precisar resistir e seguir em frente?

A série traz um contexto social muito forte, falando abertamente de temas como segregação racial, preconceito, desvalorização da cultura negra e como o crime parece tentador para aqueles menos afortunados. Tudo isso sem cair na pieguice, na pregação ou sequer soar forçado, afinal de contas, é a série perfeita para tratar do tema, e com isso Luke Cage vai além de uma simples série de herói. A série mostra não só a força de um herói, mas a força da sociedade como um todo.

O ponto ruim da série fica pro vilão, que ao longo dos episódios segue um caminho que é surpreendente, mas pode deixar alguns decepcionados, apesar de fazer sentido e de estar relacionado aos quadrinhos, algumas coisas são feitas de forma apressada e podem gerar frustrações. Além disso o ritmo da série tem algumas “barrigadas”, o que pode ser um problema causado pelo efeito maratona e não pela série em si.

Luke Cage é mais um acerto da Marvel, que apesar de ter suas falhas, um furinho de roteiro aqui e acolá (assim como os casacos de Cage), traz uma nova perspectiva do universo Marvel e uma grande homenagem a um dos gêneros mais icônicos do cinema e toda uma cultura que merece ser reconhecida, apreciada e motivo de orgulho. A trilha sonora é um dos pontos altos da série e é apresentada de maneira soberba. E os easter-eggs são fantásticos.

Luke Cage deve ter uma segunda temporada confirmada em breve, mas até lá ele estará presente na primeira temporada dos defensores, e esta primeira temporada me deixa muito curioso para saber quais serão os próximos passos do herói de aluguel.

“Em frente, sempre…” (Henry “Pop” Hunter)

4-star-rating

 

 

 

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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