Crítica | Jumanji: Bem-vindo à Selva

Existem duas formas de curtir a experiência de assistir a Jumanji: Bem-Vindo à Selva: pertencendo à faixa etária dos 30 e poucos anos (ou mais) e sendo mais novo que isso.

Caso você se encaixe no primeiro, você viverá uma experiência mais completa, curtindo todas as referências e ‘entrando’ mais no filme e, por consequência, no jogo. Entretanto, se você pertencer ao segundo grupo, isso não significa que você curtirá menos o filme, apenas que o fará de forma diferente. Você sentirá o filme exatamente como os personagens dele, como se fosse a primeira vez naquele mundo, sem qualquer ajuda ou referência.

Essa premissa surpreende e funciona. O que é ótimo! Não é preciso sequer saber que havia outro filme com o mesmo tema (ou parecido) para entender e curtir a história. Além do mais, quem viu o primeiro filme na época do lançamento certamente acompanhou a evolução dos games de lá pra cá (bem como a queda no número de adeptos aos jogos de tabuleiro). Assim sendo, da mesma forma que na época ficou louco pra jogar (ao mesmo tempo em que morria de medo) o jogo de tabuleiro, hoje vai ficar apaixonado pelo game (mas ainda vai ter medo). Enquanto a nova geração vai reconhecer muitos elementos dos jogos atuais no filme.

É isso mesmo que você entendeu: Jumanji agora é um game, e não mais um jogo de tabuleiro. Mas não se engane, não é uma coisa sem nexo que os produtores inventaram para ganhar dinheiro com o filme sem se preocupar com a história. Faz bastante sentido, já que o jogo secular é mágico e pode muito bem se adaptar para atrair jogadores para si.

A história começa quando em 1996 o adolescente Alex Vreeke ganha de seu pai um jogo de tabuleiro que o mesmo achou semi-enterrado nas areias da praia. O garoto, vidrado em video games não dá bola para o jogo a princípio. Porém, durante a noite, o jogo magicamente se transforma em um cartucho de video game, chamando a atenção do garoto, que ao conectá-lo ao console, é transportado para dentro do jogo.

Essa breve sequência está totalmente ligada ao primeiro filme, já que a história deste se passa em 1995 e ao fim, o jogo é arremessado em um rio. No ano seguinte alguém o encontra e ele se adapta para a época atual (anos 90). Lembrando ainda, que no original, há uma pequena sequência inicial onde vimos que o jogo é descartado por jogadores desesperados séculos atrás, até ser encontrado em 1969 e então, Alan Parrish o joga com sua amiga, até ser sugado para dentro do jogo e por lá ter permanecido 26 anos, até que alguém rolasse os dados e tirasse os números 5 ou 8 (tal qual quando você vai pra cadeia em Monopoly/Banco Imobiliário).

Da mesma forma que Alan, o adolescente Alex é dado como morto ou desaparecido e sua família fica em choque com a situação. Mas só sabemos disso mais a frente no filme. Como dito anteriormente, o filme presta tributo a seu predecessor em diversos momentos, mas isso só percebe quem já assistiu e se lembra dele. Se não for o caso, não fará a menor diferença.

Mais de 20 anos se passam desde o sumiço de Alex. E nos dias atuais, conhecemos os protagonistas dessa nova aventura: 4 adolescentes comuns e até bem caricatos de uma escola americana. E aqui vai a principal referência externa do filme, mais do que isso até, claramente uma adaptação contemporânea: O Clube dos Cinco. Os tais adolescentes caricatos são Spencer (Alex Wolff), o típico nerd que é medroso, cheio de alergias e é muito bom com games; Bethany (Madison Iseman) a garota popular, bonita e fútil que vive nas/das redes sociais; Fridge (Ser’Darius Blain) o atleta, forte e que usa o nerd para fazer suas tarefas de casa; e Martha (Morgan Tuner), a menina que é anti-social, mas tem personalidade forte e é inteligente demais para fazer Educacção Física. Uma excelente adaptação dos personagens do Clube dos Cinco para os dias de hoje. Mas… Se o clube é dos CINCO, está faltando um, certo? Já chegamos lá.

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Quando os 4 são mandados para a detenção e lá encontram o velho videogame que havia sido doado após o sumiço de Alex, decidem ligá-lo e jogar. Na hora de escolher os personagens, os 4 escolhem seus favoritos pelo nome ou pela descrição, sem se importar muito com a importância disso para o jogo. E aí mora uma das questões mais interessantes do filme: os avatares escolhidos são praticamente um oposto perfeito do que os adolescentes são na vida real.

Quando são sugados para o jogo no momento em que pressionam start, Spencer passa a ser o fortão e imponente Dr. Smolder Bravestone (Dwayne “The Rock” Johnson), Fridge vira Franklin “mouse” Finbar (Kevin Hart) o escudeiro (literalmente) de Bravestone e que tem apenas metade do seu tamanho real, Martha passa a ser a ‘gostosa’ e atleta/lutadora Ruby Roundhouse (Karen Gillan) e Bethany vira o arqueólogo Professor Sheldon Oberon (Jack Black), que é interpreta de forma impagável uma adolescente ‘patricinha’ no corpo de gordinho de meia idade.

As semelhanças com o Clube dos Cinco continuam quando os personagens tão diferentes entre si e que simplesmente não se misturariam, precisam trabalhar em grupo para conseguirem terminar o jogo e encarar as aventuras do mundo de Jumanji ao mesmo tempo em que lidam com esses novos corpos e suas habilidades recém adquiridas. Assim como nos games de aventura em que o filme se baseia, cada avatar tem suas habilidades específicas, que também costumam ser o oposto de seus jogadores na vida real. Além de fraquezas e pontos fortes peculiares, como por exemplo habilidade com um bumerangue e luta dançante ou alergia mortal a bolos e mosquitos.

O filme pode parecer clichê demais ou até ‘cópia’ demais de outras obras. Afinal, além da tal clara referência, também podemos associá-lo a Indiana Jones (e por sua vez a Tomb Raider, Uncharted ou até mesmo Far Cry, já que estamos falando de games) ou Os Goonies. No entanto, ele é uma ótima oportunidade para a nova geração ter contato com tais valores ao mesmo tempo em que se diverte com um bom filme de aventura e de quebra reconhece características de games. Na pior das hipóteses, você estará vendo uma velha fórmula que sempre deu certo e que continua dando.

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No quesito interpretação, todos os atores vão muito bem e são convincentes dentro de seus personagens. Até mesmo aqueles que tem um pé atrás com The Rock terão que dar o braço a tocer que ele está, no mínimo, bem. Todos os personagens fazem piadas com seus estereótipos e, por consequência, da própria indústria de filmes e games. Aliás, metalinguagem é outro conceito bem presente no filme. O melhor, sem dúvida, é Jack Black. É bem verdade que quase sempre em seus filmes temos a sensação de que ele está interpretando o mesmo personagem, que, no caso, é o próprio Jack Black (não que isso seja ruim), mas dessa vez podemos ver algo novo para o ator e ele se sai muito bem, convincente e caricato na medida certa, sem ser bobão. Certamente ele te arrancará umas boas gargalhadas.

No meio do filme conhecemos o quinto elemento do ‘clube’, o piloto Jefferson ‘Seaplane’ McDonough (Nick Jonas). Ele se junta aos outros 4 em circunstâncias que se ditas aqui, seriam spoilers. Basta dizer que ele é um elemento muito importante na trama. Sobre sua referência ao Clube dos Cinco, esse é o único que não é uma adaptação/tributo, já que em nada se parece com o rebelde e arruaceiro que faltava ao grupo, a não ser que os produtores consideram o fato de o personagem ser um fã de heavy metal como um estereótipo de arruaceiro…

O grande ponto fraco do filme é seu vilão, que é extremamente fraco e quase irrelevante para a história. O personagem tem o mesmo nome do caçador do primeiro filme mas em nada se parece com ele. A adaptação para os dias de hoje não remete a nenhum estereótipo também. Seria melhor se o grande vilão da história fosse a própria selva ou o jogo em si. Também da mesma forma que o filme original, boa parte do filme não tem grandes cenas de ação, apenas da metade pro final talvez. O que não significa que essas cenas sejam ruins. Os efeitos especiais também estão de acordo com o que se espera do enredo. O drama dos personagens e seus conflitos está na medida certa para serem relevantes e não atrapalharem a ação e a diversão. Diversão, aliás, é tudo que o espectador deve esperar do filme. E há o suficiente para pagar o ingresso.

Se você está no grupo dos que viram o primeiro filme ainda em sua infância/adolescência, vai notar um tom bem mais leve no filme. O original parecia ser um pouco mais sombrio e até dava medo nas crianças menores ou mais sensíveis. Dessa vez é quase nada, dá até pra levar os pequenos junto, mas prepare-se para ter que responder algumas possíveis perguntas embaraçosas como quando o personagem de Jack Black faz xixi pela primeira vez (lembrando que é menina no corpo de menino) e outras ocasiões em que o mesmo personagem se envolve devido à sua condição.

Jumanji: Bem-vindo à Selva é, no fim das contas, uma boa pedida para quem quer curtir um bom filme de aventura que não quer ser levado a sério (até ri de si próprio) e sim, proporcionar bons momentos de diversão. Um futuro candidato a clássico da Sessão da Tarde, assim como seu antecessor.

 

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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1 Response

  1. Marcos M. disse:

    Cara, que saudade de um filme gostoso como Jumanji! Conseguiram “digitalizar” a ideia e continuou um ótimo filme.

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