Crítica | Damnation

Damnation chegou nesta quinta-feira (1) à Netflix. A série de 10 episódios explora um gênero conhecido pelo público: o western. Para se diferenciar das inúmeras produções do estilo, o criador da série, Tony Tost, apostou no período da Grande Depressão americana (1929). Tony usa a expertise conquistado em Longmire, outra série fantástica com do gênero.

O enredo da obra gira em torno dos fazendeiros de uma cidade rural americana que lutam contra a redução drástica do valor de seus insumos, ocasionando uma greve e gerando um conflito de proporções épicas na cidade. Cabe então ao misterioso pastor Seth (Killian Scott), a tarefa de guiar os fazendeiros e encontrar uma solução para a greve, não importando o meio.

Scott entrega uma perfomance sólida e recheada de dualidades. O seu personagem, Seth, tem um passado sombrio e violento. Assumindo a função de Pastor no seu novo lar, o personagem parece buscar redenção pelos seus próprios pecados.

Killian Scott – Seth

Na trama, Seth é casado com Amelia (Sarah Jones), uma mulher extremamente inteligente e totalmente capaz de moldar o seu próprio caminho. O escritor Tony Tost tomou um caminho interessante na obra e que funciona muito bem. Afastando-se das caricaturas históricas da época, as mulheres são representadas de forma singular e apresentam uma personalidade marcante, tomando decisões cruciais para o desenvolvimento da história.

Sarah Jones – Amelia

O destaque da obra é Creeley Turner, personagem interpretado pelo brilhante Logan Marshall-Green. O cowboy “fura-greve” protagoniza momentos épicos na série e apresenta os melhores diálogos. Seu passado é coberto de reviravoltas e sua mira é letal. Assim como Seth, Creeley oscila entre compaixão e brutalidade, garantindo complexidade ao personagem. Vale a pena reforçar que os “Fura-Greves” eram comuns naquela época. Geralmente eram homens com treinamento militar contratados por empresas objetivando por um fim nos movimentos criados pelos trabalhadores.

Logan Marshall-Green – Creeley

Esse contexto, inclusive, é o alicerce da série. Praticamente todos os episódios servem como uma crítica ao movimento industrial americano e as consequências do mesmo. Diversas famílias foram obrigadas a largar suas terras por conta das grandes corporações que visavam aumentar seus lucros. As retaliações foram ainda piores nas cidades rurais, graças a corrupção e a impunidade por parte das forças locais.

Os empresários não são os únicos a serem colocados em xeque na obra. Outro grupo bastante criticado é a Legião Negra, um grupo paramilitar racista oriundo da Ku Klux Klan. Formado por extremistas, o grupo foi responsável por matar diversos negros e membros de partidos esquerdistas. Essas ações são exibidas em Damnation, adicionando valor histórico ao seriado.

Legião Negra

Apesar das inúmeras críticas culturais presentes na série, o dinamismo está presente com diversas cenas de ação onde o sangue e as balas não são poupados. A dosagem entre drama e ação é feita de forma correta, agradando aos adeptos dos dois estilos.

Com o lançamento de Altered Carbon, Damnation corre um grande risco de ser ofuscada, o que seria uma grande pena. A produção é certeira e entrega uma experiência memorável no gênero western. Com críticas culturais bem executadas e cenas de ação competentes, a obra consegue divertir, ensinar e ao mesmo tempo incitar a reflexão acerca do processo de industrialização dos Estados Unidos. A maioria dos personagens são apresentados de maneira devida e desenvolvidos de forma natural e impactante. Apesar de existir algumas exceções, cada personagem ganha sua devida importância na obra e são cruciais para o desenrolar da trama.

Damnation, apesar de apresentar pequenos tropeços, quase imperceptíveis, merece muito ser assistida!

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

You may also like...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *