Crítica | Círculo de Fogo: A Revolta
Um blockbuster com B maiúsculo. Assim é Círculo de Fogo: A Revolta. Enquanto é um prato cheio para quem gosta dos gêneros Sci-fi, tokusatus e ação, pode ser vazio, raso e repetitivo para quem não é chegado a robôs gigantes enfrentando monstros igualmente gigantes que vêm de outro mundo. Pelo menos quando se faz uma análise mais profunda do filme.
Se você se encaixa no primeiro grupo ou simplesmente é um geek assumido, o segundo filme da franquia Pacific Rim vai satisfazer sua sede de blockbusters. Os principais elementos do primeiro filme que fizeram dele um grande sucesso entre o público alvo estão presentes aqui.
A história é simples: 10 anos após os eventos do primeiro filme, o mundo ainda está em processo de reestruturação. As consequências deixadas pela guerra entre os humanos e seus Jaegers combatendo os invasores Kaijus são visíveis em todos os cantos do planeta, mas em alguns lugares são mais drásticas. Cidades inteiras abandonadas e ossadas enormes largadas pelas ruínas.
Enquanto isso, nos grandes centros urbanos, abrigos foram construídos bem como outras medidas de segurança passaram a ser adotadas para o caso de uma eventual nova invasão viesse a acontecer. Ou seja, mesmo com as fendas (ou pontes) fechadas, o mundo estaria pronto para qualquer outro tipo de imprevisto que pudesse colocar a humanidade em tamanho risco.
Cabe aqui, em uma análise mais profunda, um paralelo com a realidade onde podemos ver as consequências de uma guerra real, e como as sociedades mais poderosas e ricas ou com mais alianças teriam o poder de se reerguer enquanto as subdesenvolvidas, possivelmente, jamais retomariam sua ‘normalidade’.
Nesse contexto, temos o personagem de John Boyega (Jake Pentecost), que é filho do personagem de Idris Elba (Stacker Pentecost), que se sacrifica para salvar a humanidade no primeiro filme. Jake já deixa claro em uma de suas primeiras falas no filme que não é a mesma pessoa que seu pai. Por razões que o filme acaba não deixando tão claras assim, ele acabou se tornando um sobrevivente nesse mundo pós-Kaijus: um misto de pirata e mercenário. Na sequência inicial ele acaba se deparando com Amara (Cailee Spaeny), uma menina prodígio que lembra muito a Rey de Star Wars, já que é uma jovem muito inteligente e solitária que vive em um ferro velho e tem habilidades de luta.
No encontro entre Amara e Jake e os eventos que o sucedem, uma das falhas do filme fica clara: a falta de profundidade dos personagens. Muito pouco se desenvolve dos mesmos. Apesar de mais adiante sabermos um pouco do passado da menina, nada se diz sobre como ela sobreviveu naquele mundo quase pós-apocalíptico e tampouco como conseguiu construir seu próprio ‘mini-Jaeger’ sozinha. Da mesma forma, Jake também apresenta um background muito superficial. Poderíamos ter um pouco mais sem precisar mudar muito a dinâmica do filme.
O mesmo pode-se dizer de todos os outros novos personagens da trama, alguns deles que acabam sendo essenciais para a mesma. Eles simplesmente estão ali, não sabemos o porquê. Já os que vieram do primeiro filme, um acaba sendo fundamental para a conclusão da história (em um bom plot twist, há de se convir) e outro foi praticamente um cameo, quase desnecessário à história (infelizmente).
O que há para se saber é que desta vez o inimigo real é humano, não um monstro. Isso pode desagradar um pouco a princípio aos fãs mais ferrenhos. Mas, acredite, faz sentido na trama. E voltando à análise um pouco mais profunda, vale aquela máxima ‘Scooby-Dooiana‘: os verdadeiros monstros são humanos. No entanto, para que esses fãs não fiquem totalmente frustrados, temos um monstro absurdamente gigante e totalmente overpowered para compensar. Nesse ponto o filme cumpre perfeitamente seu papel. O último terço do filme conta com sequências de ação de tirar o fôlego de qualquer fã dos antigos tokusatsu (Jaspion, Ultraman, Changeman e etc.), com direito a clássica ‘destruir a cidade para salvá-la’. Os efeitos especiais também estão impecáveis.
Ainda é possível tirar lições e valores do filme, o mais evidente é o da família. Além das (breves) histórias de Jake e Mako (Rinko Kikuchi) e dos cadetes e Amara, ainda temos a amizade de Jake e Lambert (Scott Eastwood) e dos doutores (que são menos alívio cômico aqui) Newton (Charlie Day) e Hermann (Burn Gorman). Contudo, não é de se imaginar que quem se propõe a assistir a um filme de robôs gigantes enfrentando monstros ainda maiores espera profundidade ou questionamentos sociais e filosóficos. Assim sendo, Círculo de Fogo: A Revolta, cumpre muito bem seu papel de filme pipoca e pode lhe proporcionar quase duas horas de puro e desenfreado entretenimento.