Crítica | Blade Runner 2049 (Sem spoilers)

Blade Runner ou O Caçador de Andróides, como foi lançado no Brasil, e uma das mais icônicas obras de ficção científica do cinema. Baseado no livro de Philip K. Dick, Andróides sonham com Ovelhas Elétricas, e com direção de Ridley Scott, o longa não foi um blockbuster nem se consagrou em 1982, seu ano de lançamento. Contudo, a história, e muitos cortes novos lançados, trataram de levar Blade Runner ao seu lugar merecido, como uma das obras mais importantes de seu gênero.

O primeiro longa foca no policial Rick Deckard (Harrison Ford) em sua missão para eliminar alguns replicantes de um modelo chamado Nexus-6, que possuem uma vida útil de apenas quatro anos e vieram à Terra para tentar prolongar suas vidas.

Agora, 35 anos após o lançamento do primeiro longa, a franquia retornar para uma continuação que, apesar do elenco robusto e da direção gabaritada de Denis Villeneuve (A Chegada), era objeto de desconfiança por parte dos fãs do primeiro longa. Blade Runner nunca foi um filme fácil e de fácil apreciação por parte do grande público, então um retorno como um filme grandioso poderia significar uma mudança grande em seu estilo para impulsionar a bilheteria e assim mudar completamente o conceito da obra.

Entretanto, os fãs ardorosos da obra podem descansar. Blade Runner 2049 consegue resgatar de maneira magistral a essência do primeiro longa. Diferente de muitas franquias, Blade Runner tem na atmosfera seu elemento mais marcante, até mesmo do que os seus personagens. Recheado de momentos puramente contemplativos e com uma trilha sonora extremamente minimalista, a sequência consegue trazer o mesmo clima do filme anterior, sem deixar de fora as inovações. A fotografia favorece muito bem a ambientação escura nas ruas e as penumbras em locais fechados te transportam novamente ao mundo distópico de um “futuro do passado”.

Como qualquer detalhe sobre a trama deste novo filme pode acabar entregando demais, falaremos de maneira superficial sobre o enredo e o andamento do filme.

Apesar das afirmações de que não seria necessário ter assistido ao primeiro longa para aproveitar Blade Runner: 2049, o filme constantemente busca referências em seu antecessor de modo que é provável que aqueles que caírem de paraquedas neste mundo possam se sentir um pouco perdidos. Para tanto, a nossa recomendação é a oposta, se possível assistir o filme anterior antes de ver sua continuação.

As atuações no longa estão extremamente afiadas. Cada ator executa seu papel de maneira extremamente competente. Robin Wright (House of Cards), Jared Leto (Esquadrão Suicida), Dave Bautista (Guardiões da Galáxia), Mackenzie Davis (Halt and Catch fire) abrilhantam o elenco e dão um suporte mais que competente para que Ryan Gosling (La La Land), uma excelente escalação diga-se, toque a trama como protagonista.

Além do elenco que chega a franquia, um dos personagens cujo retorno era muito aguardado era o do próprio Deckard, que fora massivamente estampado no trailer. Interpretado mais uma vez por Harrison Ford, que pareceu empenhado em se dedicar ao papel, o personagem preenche muito bem o filme sem tornar a sua presença desgastante ou excessiva, algo que é um ponto positivo. Outra escolha inteligente foi a de não buscar se aprofundar muito sobre algumas questões mais subjetivas que ficaram em abertos no primeiro longa.

Assim como o primeiro filme, Blade Runner não é um filme para todos. Ainda que esteja sendo vendido com um trailer empolgante com tiros sincronizados com a música e cenas de ação eletrizantes, o filme entrega muito menos do que promete neste quesito e muito mais do que a franquia tem de melhor. Com uma trama noir de ritmo mais lento que traz diversas reflexões profundas, diálogos muito bem construídos e cenas belíssimas e contemplativas, Blade Runner 2049 irá fascinar muitos e decepcionar alguns que não sabem o que esperar. Suas mais de duas horas e meia requerem atenção do espectador para acompanhar o desenvolvimento, que dificilmente acontece em meio a tiros e saltos.

Outro ponto extremamente positivo é o visual e a construção dos cenários. Apesar do espaço de tempo entre os dois filmes e a evolução dos efeitos, Blade Runner 2049 consegue ser extremamente fiel à estética do universo criado, mostrando um certo avanço sem deixar de lado o que fora estabelecido. O cuidado tido pela produção é algo admirável.

Com uma trama densa, intrigante e filosófica, Blade Runner: 2049 entrega tudo que se poderia esperar de uma continuação do emblemático filme de 82. Denis Villeneuve mais uma vez provou a sua competência e trouxe um espetáculo visual acompanhado de uma história competente. Só esperamos que, diferente do primeiro, este seja um sucesso imediato e justifique o empenho no projeto.

Blade Runner: 2049 chega aos cinemas no dia 05 de Outubro.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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2 Responses

  1. Mcerqueirassa disse:

    Filme simplesmente brilhante.

    Vi muita gente reclamando na saída do cinema por deixarem passar ao largo a essência do filme- talvez muitos esperavam um filme de “ação”.

    O principal pilar é mais uma discussão filosófica sobre a natureza humana, o que é ser humano. Os glitches de memória, já magistralmente retratados também na série Westworld, tem protagonismo na modulação de personalidade, caráter, etc.

    Filme belíssimo

  2. Mcerqueirassa disse:

    Ah, só discordo sobre a trilha ser minimalista. Passa LONGE disso sendo, em alguns momentos, propositalmente sufocante.

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