Crítica | Atypical – Segunda Temporada

Em Agosto do ano passado Atypical estreou e recebeu boas críticas (inclusive nossa). O principal ponto positivo da série era trazer como plot principal um assunto delicado e que precisa ser melhor discutido e ter mais atenção do grande público, porém de forma sutil e com bastante humor. O equilíbrio entre comédia e drama não fazendo de nenhum dos dois gratuito ou sem pesar muito para nenhum lado, é o que fez da série tão interessante e, veja só, atípica.

É sempre um desafio manter a mesma pegada em uma série para sua segunda temporada. Assim como em qualquer sequência. Especialmente quando a primeira parte é muito bem desenvolvida, ainda que deixando pontas soltas para a próxima. Por isso, havia essa expectativa em torno de Atypical.

No último dia 7 de Setembro, esta chegou ao Netflix e pudemos conferir se ela conseguiu dar continuidade sem perder em qualidade. E a resposta é sim. Todos os elementos que fizeram da primeira temporada tão interessante estão presentes na segunda e continuam tocando o espectador da mesma forma, sempre sem pender muito para o drama ou para a comédia, trazendo um perfeito equilíbrio entre ambos e promovendo reflexões e possíveis discussões.

Dessa vez, a série conta com 10 (e não 8) episódios de cerca de 30 minutos. Isso permite que os personagens ganhem ainda mais profundidade e haja tempo para que todas as tramas sejam trabalhadas de forma coesa.

Sam, que apesar de ainda ser o protagonista divide cada vez mais o tempo de tela com os outros personagens principais, agora está tendo que lidar com muitas mudanças, e para um autista, isso é potencializado ao extremo. Sua mãe está saindo de casa após trair o pai; sua irmã está mudando de escola, já que conseguiu uma bolsa de atletismo em uma escola particular chique; sua então namorada agora não quer mais um relacionamento sério, mas sim algo ‘casual’; e um dos pontos mais importantes, é que agora ele não está mais fazendo terapia com Julia, e está tendo dificuldade em encontrar um terapeuta que lhe deixe tão a vontade e que lhe ajude tanto quanto ela fez.

Além de tudo isso, some o fato de Sam estar fazendo 18 anos e terminando o Ensino Médio, e conforme a tradição norte americana, ele precisa escolher qual curso fará e para qual faculdade irá. Missão extremamente difícil e estressante para qualquer pessoa nessa fase da vida, imagine para um autista. Quem ajuda muito nessa missão é uma nova personagem nessa temporada: Ms. Whitaker (Casey Wilson), a orientadora pedagógica da escola e que media um grupo de apoio de autistas, o qual Sam passa a frequentar. A personagem é muito carismática e tem função muito importante na trama.

Conforme dito anteriormente, essa temporada foca muito nas mudanças que são tão comuns em qualquer família e em especial nessa fase da vida em que os personagens se encontram. E por essa última frase, entenda-se de forma ampla: todos os personagens. Não apenas Sam e Casey (bem como seus colegas de escola) que estão concluindo o Ensino Médio, mas também seus pais que estão em uma idade e fase no casamento onde há conflitos e questionamentos; Júlia, que está grávida e tem dificuldades em lidar com isso (mostrando que mesmo quem ajuda a superar e entender problemas psicológicos também é humano e tem os seus próprios demônios internos); Evan, que tem que lidar com sua namorada tendo novos (e ricos) amigos e que podem ameaçá-lo, e isso até gera um outro conflito na trama que pode gerar spoilers.

Esse último conflito, por exemplo, é um dos grandes cliffhangers que são deixados para a próxima temporada. Sabe aqueles ganchos que nos deixam ‘OMG! E agora?‘? Pois bem, eles também estão lá no final da temporada.

A questão, é que alguns podem achar que possa ter havido um peso maior do que o necessário nesses dramas muito clichês e adolescentes. No entanto, é preciso observar que um dos focos principais da série é mostrar a ‘normalidade’ de uma família com autista, ao mesmo tempo em que busca encaixar as dificuldades peculiares a quem tem um autista em casa no dia a dia daqueles que não o tem. Assim sendo, pode-se dizer que a série consegue ser diferente e criativa mesmo mostrando situações e histórias clichês, apenas os colocando sobre um prisma incomum.

Dessa forma, conclui-se que a segunda temporada de Atypical é, no mínimo, tão boa quanto a primeira e consegue trazer novos elementos que acrescentam bastante e de forma coesa. E para aqueles que ainda não assistiram à primeira temporada, aproveite e faça aquela maratona, porque vale muito. Você vai rir, se emocionar e pensar. Muitos vezes tudo isso em único episódio de 30 minutos.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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