Crítica | Aquaman

Perdoem o trocadilho, mas com o filme do Aquaman, o Universo DC nos cinemas ganha novo fôlego.

Aquaman traz de volta para o quase moribundo universo que a Warner tenta erguer uma força e um ânimo que são essenciais e definitivo para que este consiga se manter vivo.

Antes de qualquer coisa, vamos a uma questão inevitável, mas que tentaremos manter mínima por aqui: a comparação com o Universo Cinematográfico Marvel. Apenas três pontos realmente são relevantes a serem comparados, e apenas para ilustrar, para que seja mais visual e claro alguns tópicos.

O primeiro ponto, é a personalidade de Arthur Curry. O personagem que a DC mostra pela primeira vez mais a fundo na telona, é bem aquilo que já vimos em Liga da Justiça. Ele é basicamente um Wolverine (beberrão e mau humorado, ou irônico/debochado). Ele começa com um caráter um tanto duvidoso, mas isso se explica durante o filme e traz uma redenção mais para o final, até ajudando na construção do herói.

O segundo, é a beleza visual de Atlântida, que lembra muito Wakanda no que diz respeito à tecnologia e, especialmente, o fato de estar ‘escondida’ e desligada do restante do mundo (no caso, a superfície). As cores e o seres fantásticos lembram bastante Asgard também.

E o terceiro é o que pode incomodar os ‘fãs’ mais ‘conservadores’ da DC, ou se preferirem, os chatos/haters: o humor, as piadas. Há muitas. O próprio Aquaman é um piadista, com seu senso de humor ácido. Contudo, se você não se encaixa nesse grupo de pessoas, há muito mais chance de isso ser uma virtude, e não um problema do filme. As piadas só acrescentam na experiência e não quebram nenhum clima nem fazem mal à história.

Dito isso, vamos ao filme. Esta é uma história de origem. E de um personagem que nunca havia tido uma nas grandes telas, ou mesmo em qualquer série live action. Sendo assim, o mesmo próximo que temos disso no Universo DC é Mulher Maravilha.

E é exatamente desse filme que Aquaman se aproxima mais. A diversão que assistir a esse filme proporciona está muito próxima da que Mulher Maravilha fez. Veja bem, não é que Aquaman seja tão bom quanto Mulher Maravilha (talvez você até ache, talvez ache até melhor). Mas, sem dúvida, esse filme é tão divertido quanto.

É um filme de herói clássico. Todos os clichês estão aqui. Mas não era isso que esperávamos? Não era a falta disso a responsável por grande parte dos últimos insucessos da DC? Pois aqui está seu filme de herói. Um filme com ação, aventura e diversão.

Jason Momoa é um poço de carisma e empresta isso à Arthur Curry. O personagem consegue desenvolver bem de um fanfarrão que não tem interesse algum em se meter nos assuntos que seu povo, ainda que faça boas ações esporádicas, a não apenas um rei, mas um herói de verdade.

Essa evolução se deve muito a Mera. A personagem que é muito bem interpretada por Amber Heard é essencial para a história. É possível dizer que, até esse momento, a personagem é a mulher mais importante e badass do DCEU, depois de Diana Prince, é claro. Muito mais que uma simples sidekick ou coadjuvante, e nem de perto uma mocinha que precisa ser salva. Coisa que Lois Lane poderia e deveria ter sido. (E nem venham com Martha!)

O vilão principal tem uma motivação, aparentemente, muito boa. E, seguindo uma tendência recente, faz você quase ter empatia por ele, já que dá pra entender seus argumentos. Patrick Wilson interpreta o Rei Orm, meio irmão de Arthur, de forma competente e consegue impor o mínimo de medo que o personagem pede.

Contudo, Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), poderia ter sido melhor aproveitado, já que fica pouco tempo em tela e quando está, mostra potencial para merecer mais.

Nos quesitos técnicos, vale ressaltar a boa trilha sonora que só peca quando usa algumas músicas um pouco descontextualizadas. Nada que incomode. Há belas locações, com cenas até no Saara e na Itália. Bela fotografia em diversos momentos. Já os efeitos visuais precisam de uma atenção maior: como a maior parte do filme se passa no fundo do mar, o trabalho com os efeitos visuais foi enorme. Por essa razão, há, sim falhas. Em alguns momentos sentimos que poderiam ter dado uma caprichada maior. Contudo, como já dito, em um filme que se passa no fundo do mar, com reinos submarinos e seres fantásticos o tempo inteiro, o saldo está muito positivo.

Há apenas um recurso narrativo que pode incomodar aos espectadores mais experientes. Acontece que em quase toda cena com mais concentração, que tem um clímax, há uma explosão assustando a todos e cortando o tal clima. Talvez isso seja um vício, um tipo de assinatura inconsciente do diretor James Wan, cujos maiores sucessos são filmes de terror.

Por outro lado, essa experiência nesse gênero ajuda bastante no visual, especialmente quando se trata dos seres do fosso, que são mais assustadores. Bem como em toda a sequência que se passa nesse reino.

A conexão com o restante do DCEU está presente, mas isso não é um fator determinante na história. Há uma breve citação para aqueles que já assistiram aos outros filmes se situem, mas que não atrapalha em nada quem não viu nenhum. E para aqueles que estavam preocupados com o futuro da DC nos cinemas, o filme dá uma boa aliviada nessa preocupação e deixa claro que, no mínimo, esses personagens ainda tem bastante a mostrar e vão ter sua chance. Contudo, fica aquela dúvida: e quanto aos outros?

No geral, Aquaman é um ótimo blockbuster. Um filme pra curtir e se divertir. Um filme que provavelmente receberá críticas dos mais exigentes, mas que agradará muito a maior parte do seu público alvo. É um filme clássico de super-herói, para se divertir. Uma origem, no mínimo, digna, para um personagem que precisava de um filme que atingisse em cheio ao público. Um filme que precisa de bilheteria mas que não se desfigure para tal. E é isso que ele é. Assim sendo, se você faz parte da maioria e não conhece nada do Aquaman além do que foi mostrado em Liga da Justiça, você provavelmente vai se surpreender positivamente e pode ganhar um novo herói favorito. Se for um fã do mesmo, talvez você possa não gostar muito desta versão, mas também não ficará tão desapontado, afinal, é uma adaptação que envolve muito mais do que só esse personagem. Todo o futuro de um Universo cinematográfico está nas mãos dele.

E Arthur Curry fez muito bem sua parte para que esse Universo continue firme e forte. Vamos aguardar e torcer para que a Warner não resolva mudar tudo de novo e escolha logo um caminho a ser tomado. Que ponha os pés no chão, pois dentro água, está tudo bem.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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