Crítica | Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald

Após o fim da franquia Harry Potter nos cinemas, uma das mais bem sucedidas de todos os tempos, a Warner Bros. se viu com um vácuo enorme. Após oito filmes que trouxeram um retorno absurdo para investimento, as finanças da empresa certamente sentiriam um baque com o secar desta fonte.

Assim, com o objetivo de continuar lucrando com a franquia e expandir este universo, que certamente ainda guarda muito potencial, surgiu a franquia Animais Fantásticos, focada em Newt Scamander, personagem apenas mencionado na saga original.

Animais Fantásticos e Onde Habitam (confira nossa crítica), filme de estreia do spin-off, apresentou personagens carismáticos e um potencial enorme para a franquia. Contudo, trouxe um filme morno e esquecível.

Agora, sua sequência, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, explora de maneira muito mais densa o arco introduzido no primeiro longa e amplia ainda mais o escopo de uma franquia cuja proposta inicial era usar personagens menores e contar algo pouco relacionado à saga original.

A Primeira Guerra Bruxa

Ao final de Animais Fantásticos e Onde Habitam fica claro que o bruxo Gerardo Grindelwald (Johnny Depp) exerceria um papel maior na franquia e que esta, na verdade, abordaria a Primeira Guerra Bruxa, evento mencionado na saga Harry Potter, que culminou com o confronto entre Alvo Dumbledore e Grindelwald.

Deste modo, Os Crimes de Grindelwald abandona as tramas menores para focar na construção deste conflito que, segundo a autora J.K Rowling, deve levar cinco filmes para encontrar o seu desfecho. O bruxo interpretado por Depp exerce um papel muito mais proeminente e o universo bruxo é explorado de maneira mais profunda e interessante.

Deixando de lado as polêmicas que envolvem a sua contratação e o estigma do ator em “sempre interpretar o mesmo papel” – o que não é mentira – Depp consegue entregar um Grindelwald interessante e que não é ofuscado pela persona marcante do ator.

Já o Dumbledore, interpretado por Jude Law, é extremamente satisfatório e consegue trazer algumas nuances de serenidade e sabedorias que vimos em sua versão original.

Após todo este tempo?

Mergulhando no universo introduzido na saga Harry Potter, o longa se preocupa em trazer diversas referência que devem agradar muito os fãs da franquia. Revisitando locações, reapresentando personagens e sempre se auto referenciando, o filme recupera a aura da franquia que para muitos parecia perdida no filme anterior.

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é um filme amplo que conta com diversos núcleos e personagens, compondo uma trama complexa. Por conta disto, nem todos os personagens tiveram muito tempo de tela. Contudo, o roteiro distribui bem o tempo e dá oportunidade para que todos os personagens tenham seu momento.

É interessante também notar a evolução da franquia ao mudar o seu foco de protagonismo. Com o crescimento do escopo, o longa abre mão do protagonismo de Newt Scamander e o coloca apenas como o ponto de vista do público sobre um evento muito maior.

Matryoshka dos plot twists

Mas nem tudo são flores no emaranhado que é o roteiro do segundo Animais Fantásticos. Na tentativa de criar um mistério que permeie a trama, o filme surge com alguns plot twists que se misturam, se sobrepõem e sequer representam um ponto alto para o longa.

Forçando com personagens que ainda não mostraram a que veio, o filme acaba oferecendo algumas soluções que parecem mais vindas de uma “novela mexicana” do que de uma trama bem construída em consonância com seu contexto, um dos pontos mais fortes da autora na franquia original.

Lumus maxima

Ao mudar sua proposta de uma história minimalista para um dos eventos mais importantes do universo criado por J.K Rowling, é difícil não ficar a impressão que a franquia ainda tenta descobrir para onde vai. Especialmente se levarmos em conta o pouco que o nome “Animais Fantásticos” tem a ver com o que está sendo contado no “big picture”.

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é um filme episódico que, que diferente dos filmes da franquia Harry Potter, não fecha em si mesmo, deixando ainda mais perguntas a serem respondidas. Deste modo, é difícil não sentir um certo receio que alguns elementos a serem inseridos possam macular o que a franquia já conquistou.

Felix Felicis

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é um filme muito mais intenso e completo que o seu antecessor. Apesar de contar com um gancho em seu final, o longa traz uma história mais complexa e que confere outra dimensão à franquia.

Sabendo usar dos elementos do universo e referenciar a franquia original de maneira competente, este é um filme que deve agradar muito mais aos fãs do que o público casual.

Se antes a franquia Animais Fantásticos tinha minha curiosidade, agora tem minha atenção.

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald chega aos cinemas no dia 15 de novembro.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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